Ruas se transformam em banheiro público
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Galeria no Centro precisa ser lavada diariamente
Algumas áreas da região central têm sido usadas como banheiros públicos a céu aberto. O mau cheiro e o constrangimento em ver alguém urinando na rua trazem transtornos a comerciantes, moradores e a quem passa por estes locais. O incômodo aumenta com a chegada do carnaval. Apesar disso, diferente de cidades como o Rio de Janeiro e Salvador (BA), Juiz de Fora não tem legislação específica proibindo o cidadão de urinar em área pública e em equipamentos urbanos. A questão também não é tratada no Código de Posturas do Município. O único amparo legal, geralmente utilizado por policiais militares, é o artigo 233 do Código Penal, que classifica a ação como ato obsceno.
Durante esta época de folia, as campanhas para conscientizar a população e as punições se tornam mais frequentes. "É um momento no qual várias inversões são produzidas, como homem vestir-se de mulher, mulher de homem e coisas do tipo. No dia a dia, não é tão comum vermos alguém urinando na rua. No carnaval, isto é sempre visto, temos então mais uma inversão", avalia o antropólogo Daniel Albergaria.
Um dos símbolos de Juiz de Fora, o Cine-Theatro Central, no Calçadão da Halfeld, convive há anos com o problema. Apesar de o Demlurb realizar diariamente a lavação dos corredores laterais e das escadarias do prédio, o local volta a ficar sujo no decorrer do dia. Comerciantes das galerias Azarias Vilela e Ali Halfeld, ao lado do Central, reclamam do cheiro forte. A dona de uma lanchonete disse que o mau cheiro acaba afastando seus clientes. "Não tem como o Demlurb limpar o tempo todo, é preciso mais educação." A funcionária de uma loja de sapatos, Natália Silva, relata o mesmo incômodo. "Além do cheiro ruim, é constrangedor para a gente que trabalha aqui o dia todo ver homens urinando no meio da rua."
Outro prédio público que sofre com a ação é a Câmara Municipal. Segundo o presidente do Legislativo, Julio Gasparette (PMDB), apesar da manutenção, as escadarias vivem sujas de urina. A moradora de um prédio que fica na esquina do Parque Halfeld com a Rua Santo Antônio, Miriane Carsozo, relata o mesmo problema. Segundo ela, a fachada do edifício amanhece suja quase todos os dias. "É um absurdo. Existem banheiros no Parque Halfeld." Para o doutorando em antropologia, Daniel Albergaria, urinar na rua é uma questão de educação e conscientização pública. "Vejo, no dia a dia, pais incentivando os filhos pequenos a fazeram xixi na rua, mas não considero este ato como cultural. É, no mínimo, falta de educação."