Juiz de Fora tem menos de 20% do público-alvo com a 1° dose contra dengue
Baixa adesão entre adolescentes gera preocupação, e especialista reforça importância do imunizante para a saúde e controle da doença
Em três meses desde o início da vacinação contra a dengue, Juiz de Fora imunizou 17% do público-alvo na cidade com a primeira dose. Segundo a Superintendência Regional de Saúde (SRS-MG), foram distribuídas 8.100 imunizantes para o Município iniciar o esquema vacinal. No entanto, somente 4.883 crianças e adolescentes de 10 a 14 anos receberam a vacina, de acordo com a Secretaria de Saúde da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF). A baixa adesão gera preocupação, já que essa faixa etária da população está suscetível a fatores de risco maiores caso contraia a doença.
No dia 4 de maio, a campanha de vacinação contra a dengue teve início em Juiz de Fora com a expectativa de imunizar 29 mil pessoas entre 10 e 14 anos, conforme estimativa do Censo 2022. Entretanto, a baixa adesão tem dificultado a ampliação do índice de cobertura vacinal. Além disso, a reportagem questionou se há planos para adoção de ações que incentivem a imunização, como a aplicação da vacina em escolas, e, em resposta à Tribuna, a Secretaria de Saúde disse que “a vacina é oferecida apenas no Departamento de Saúde da Mulher, Gestante, Criança e Adolescente (DSMGCA). Ela tem algumas especificidades, não pode ser transportada e tem que ser utilizada rapidamente, após o frasco aberto.”
Com a chegada do prazo para que os primeiros vacinados recebessem a segunda dose, a Prefeitura informou que optou por iniciar, na última segunda-feira (5), a aplicação da mesma. Entretanto, quem ainda não tomou a primeira também pode comparecer ao Departamento de Saúde da Mulher, Gestante, Criança e Adolescente (DSMGCA), na Rua São Sebastião 772/776, Centro. Até o momento, foram aplicadas nove segundas doses.
“Nós não recebemos o quantitativo relativo às segundas doses e estamos iniciando a aplicação com o estoque que já temos, enquanto aguardamos a chegada das novas doses. São considerados imunizados somente aqueles que receberam a aplicação da segunda dose, devido à necessidade de se terminar o esquema vacinal para adquirir melhores níveis de proteção”, diz, também em nota, a Secretaria de Saúde.
O Executivo também havia informado que ainda não há expectativa de chegada de novas doses, o que não permite a ampliação do público-alvo, já que também são seguidas as orientações do Ministério da Saúde. A reportagem questionou a SRS-MG sobre essa demanda, que detalhou que o Município irá receber o quantitativo de doses da segunda etapa conforme o número de doses aplicadas e registradas na primeira fase do esquema. “A Rede de Frio Central, em Belo Horizonte, recebeu ontem (6 de agosto), uma nova remessa do imunizante. Por enquanto é aguardada nota técnica do Ministério da Saúde, com informações sobre os municípios contemplados e data de distribuição do imunizante.”
‘Carteirinha carimbada’
Sofia Carvalho, de 11 anos, foi uma das crianças que foi ao DSMGCA para tomar a segunda dose da vacina, acompanhada do seu pai, Felipe César Moreira. Em conversa com a Tribuna, ele contou que a filha tomou a primeira dose em maio deste ano, e ficou sabendo da disponibilidade da segunda dose através de uma matéria publicada pela Tribuna na última segunda-feira (5).
“A gente já estava na expectativa que no início de agosto a segunda dose já estaria disponível, mas foi bacana a gente ter visto essa reportagem, informando que ela já estava sendo ofertada.”
Felipe também aponta a necessidade de manter a vacinação sempre em dia, para poder controlar certas doenças. Ainda, ele conta que sempre preza pela “carteirinha totalmente carimbada”.
“Sempre buscamos manter a vacinação sempre em dia, a gente entende que a vacinação é fundamental para controlar uma série de doenças. Infelizmente, a gente tem visto um movimento, de modo geral, de conseguir uma cobertura ampla de imunização. Mas é o costumo brincar em casa, ‘assim que a gente nasce já é vacinado, como é que agora vai achar que a vacina vai trazer algum prejuízo?’ Isso não faz o menor sentido. Eu acho que ela é a grande evolução da saúde. Aqui, a gente preza pela vacinação e pela carteirinha totalmente carimbada.”
Infectologista alerta para atraso no esquema vacinal
Além de ter uma alta eficácia, com uma taxa de proteção acima de 80% para casos mais brandos e acima de 90% para formas graves da doença, o infectologista Marcos Moura reforça que a vacina é extremamente importante para dar início ao bloqueio da cadeia de transmissão da dengue. “O impacto imediato disso é pequeno, mas a longo prazo nós vamos aumentando a campanha vacinal e os grupos prioritários para bloquear a doença como um todo.”
O médico alerta para a importância de fazer o esquema vacinal no período recomendado, evitando atraso na aplicação da segunda dose. “Os estudos em relação à eficácia da vacina são baseados em tempos pré-determinados. Então, a pessoa deve tomar a vacina novamente com um intervalo de um a três meses da primeira dose. É claro que um atraso pequeno de 30 dias ou até mesmo antecipação não incute em problema, mas sabemos que vamos perder a eficácia e ter uma falsa sensação de proteção se for um atraso maior.” Nesses casos, a recomendação de Moura é para que as pessoas que tenham descontinuado a vacinação procurem o posto de saúde para refazer o esquema vacinal.
Casos de dengue reduzem, mas cuidados precisam continuar
O número de casos de dengue em Juiz de Fora está em queda desde metade de maio, conforme mostra o Painel de Monitoramento de Arboviroses da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG). A atualização mais recente aponta que foram registrados cinco novos casos da doença na última semana na cidade.
De acordo com o infectologista, a diminuição dos casos está ligada a esta época do ano, com o inverno e menos chuva, o que causa a redução da proliferação do Aedes aegypti, além de menos pessoas estarem suscetíveis à doença neste momento por já terem sido afetadas no período de maior incidência.
Apesar disso, o médico explica que, mesmo com a redução de casos, os cuidados precisam continuar, pois quando uma pessoa que já teve dengue se infecta novamente, as chances de a doença ser mais grave são maiores. “O controle do vetor da dengue é um cuidado de saúde pública, de higiene domiciliar, e precisa ser feito o ano todo porque, além da dengue, o Aedes aegypti transmite outras arboviroses.”
O especialista orienta a população a fazer uso de repelente e evitar o acúmulo de água e lixo em casa para impedir a proliferação do mosquito.
Orientações sobre o imunizante
A aplicação, tanto da primeira quanto da segunda dose, acontece de segunda a sexta-feira, das 8h às 16h30, sem intervalo para o almoço. Para se vacinar, segundo a PJF, é necessário apresentar documento de identificação com foto, cartão de vacina e comprovante de residência, conforme determina o Ministério da Saúde.
Dentro do público-alvo, quem já teve dengue também deve se vacinar para evitar novas infecções ou, em caso de contágio, sintomas mais leves.
A recomendação para quem teve dengue recentemente é aguardar seis meses para tomar a vacina. Quem for diagnosticado com a doença no intervalo entre as doses deve manter o esquema vacinal, desde que o prazo não seja inferior a 30 dias em relação ao início dos sintomas.