Esquema de agilização de cirurgias pelo SUS fez outras vítimas em JF
De acordo com Polícia Civil, instrumentadora se oferecia para adiantar procedimentos por dinheiro
Sete pessoas já foram ouvidas pela Polícia Civil no caso da mulher suspeita de fazer cobranças indevidas para que pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) conseguissem ter suas cirurgias agilizadas. O caso veio à tona na semana passada, quando a família de uma das vítimas, um rapaz de 17 anos residente em Guarani, procurou a polícia depois de desconfiar da situação em que uma mulher que se passou por suposta instrumentadora da Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora teria se oferecido para agilizar o procedimento em troca de um valor em dinheiro.
De acordo com a delegada Ione Barbosa, titular da 4ª Delegacia, das sete pessoas ouvidas até o momento, outras três, além do rapaz, também foram vítimas do esquema. Conforme Ione, nestes três casos as pessoas chegaram a ter contato com a suposta instrumentadora. Outros detalhes, no entanto, ainda não foram divulgados, devido ao sigilo da investigação.
Nesta terça-feira (9), conforme a delegada, uma nova vítima deverá ser ouvida, além de um administrador da Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora e um médico, citado nas gravações feita entre a mulher e uma das vítimas. Segundo a denúncia feita pela família do rapaz de 17 anos, a mulher estaria negociando a cirurgia a ser realizada na Santa Casa. Conforme Ione, as demais vítimas também relataram que os procedimentos pelos quais passariam também seriam realizados no hospital. Após a divulgação do caso, a unidade informou que abriu investigação para apurar a situação, e que repudia todo e qualquer ato de improbidade, principalmente, envolvendo os pacientes do SUS. Também segundo o hospital, a mulher investigada não é funcionária da instituição.
Segundo a delegada, a suspeita foi intimada a comparecer à delegacia na última sexta-feira. No entanto, seu advogado apresentou um atestado médico de 30 dias.
Hospital investiga caso
Em nota encaminhada à Tribuna na quinta-feira, a Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora afirmou que a mulher não é funcionária do hospital, “apenas presta serviço para um médico, e já está suspensa de suas atividades, tendo sua entrada na instituição vetada.”
O texto ainda diz que após tomar conhecimento da denúncia, a unidade abriu uma investigação para apurar todos os fatos e tomar todas as providências cabíveis. “De antemão, pedimos desculpas a todos que direta ou indiretamente foram lesados e informamos que revisaremos nossos processos, para que situações como essa não se repitam.”
Mulher pediu para família ‘não comentar’
O caso chegou à polícia após denúncia da família do rapaz de 17 anos, morador do município de Guarani. Ele precisa passar por uma cirurgia na coluna para a retirada de um projétil, alojado desde 11 de dezembro. Diante das incoerências e da desconfiança em relação à realização do procedimento, a família do rapaz recorreu à advogada Teresinha Bento, que chegou a conversar por telefone com a mulher. Segundo Teresinha, a suspeita disse ser instrumentadora assistente do cirurgião e que atuava dentro da Santa Casa.
A advogada chegou a se passar por parente do rapaz para negociar com a mulher e apurar a situação. “Ela tentou nos convencer de que precisaríamos pagar pela cirurgia para agilizar o processo, porque pelo SUS é mais demorado. Mas pedia para nunca comentar que tinha dinheiro nessa história, para falarmos em ‘facilitação’. Também orientou que quando o rapaz fosse internado não falasse sobre isso dentro do hospital com ninguém”.
A advogada afirma que em nenhum momento houve contato da família com pessoas diretamente ligadas ao hospital. “Acreditamos que a Santa Casa e a clínica não participam desse golpe. Ao que parece, ela age sozinha para extorquir dinheiro das pessoas. Mas isso somente a investigação vai mostrar”, disse, na ocasião.