Na madrugada desta terça-feira (7), a onça-pintada ultrapassou os limites do Jardim Botânico da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) novamente e foi vista às margens do Rio Paraibuna, na altura do Bairro Industrial, Zona Norte. Ela foi flagrada duas vezes, em diferentes momentos, por um morador do bairro e pela câmera de segurança de um apartamento localizado na região.
Um dos flagrantes foi feito pelo cabo Rafael Moraes, da 4ª Companhia Independente de Policiamento Especializado da Polícia Militar (4ª Ind. PE). De acordo com Moraes, no caminho até a sua residência, na Zona Norte, o cabo reparou que havia uma movimentação às margens da via, tendo retornado com o veículo e parado com o mesmo em frente ao local. Ao direcionar o farol do carro, o militar conseguiu visualizar a onça-pintada, e fez o registro em seguida. “Quando joguei o farol alto para conseguir tirar a foto, ela ficou incomodada com a luz, mas não saiu do local. Parecia muito tranquila.” Em seguida, ele acionou a Polícia de Meio Ambiente, conforme orientação dada pela UFJF e por especialistas à população.
Câmeras de vigilância flagram felino
Também durante a madrugada, câmeras de vigilância de um apartamento, no Bairro Industrial, flagraram um felino andando pela rua. A suspeita, já confirmada pela UFJF, era que se tratava novamente da onça-pintada monitorada por pesquisadores no Jardim Botânico. As imagens foram feitas por volta das 3h, na Rua Henrique Simões, próxima à praça Adalberto Landau, na esquina com a Rua Salvador Notaroberto. Mais tarde, às 5h, armadilhas fotográficas flagraram o animal passando pelo Jardim Botânico da UFJF.
De acordo com a moradora do apartamento, que preferiu não se identificar, próximo ao horário em que as câmeras realizaram os registros, os cachorros da região chegaram a latir. O ocorrido trouxe um alerta e um de seus vizinhos foi à rua, mas sem conseguir identificar o animal. As imagens registradas pelo equipamento de segurança, observadas na manhã desta terça-feira, levou os moradores a acreditarem se tratar da onça-pintada.
Aparição no domingo
Outro vídeo que começou a circular nas redes sociais na tarde desta terça mostram o animal na Avenida Brasil. Nas imagens, feitas durante a noite, de autoria ainda não identificada, o felino é visto deitado sobre uma ponte que liga a Avenida Brasil à Mata do Krambeck, dentro de uma propriedade particular. Uma luz é direcionada ao animal, que permanece calmo e não sai do lugar, apesar de o autor das imagens estar tentando atraí-lo. Sobre a publicação, a UFJF garantiu se tratar de um vídeo verídico, mas ainda não localizou o autor das imagens. Ainda conforme a instituição, as imagens foram gravadas na madrugada do dia 5 de maio, por volta de 2h30.
Especialista explica razões para translocar felino
Desde a semana passada, uma equipe do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (Cenap/ICMBio), juntamente com pesquisadores da UFJF, trabalha para capturar e conduzir a onça-pintada a outro local, a fim de garantir a segurança da população e do felino.
Nesta segunda-feira (6), por meio de suas redes sociais, a UFJF publicou vídeos com o biólogo Rogério Cunha, coordenador substituto do Cenap, nos quais ele tira as principais dúvidas da população, como sobre o procedimento para deter a onça-pintada e as razões para translocá-la.
De acordo com o biólogo, a onça-pintada avistada no Jardim Botânico parece estar acostumada a área urbana, o que não significa que ela tenha sido domesticada. O animal demonstra incômodo com a presença humana, entretanto, ela possui pontos de fuga, como a mata. “Enquanto ela tem para onde fugir, ela não vai buscar o confronto. Ela buscaria confronto se estivesse acuada, ou em um lugar onde não tem como fugir. É justamente isso que nos preocupa. Quando esse animal se encontra em uma Zona Urbana, ele pode aparecer na garagem de uma casa e a pessoa, ao abrir sua porta para trabalhar de manhã, dá de cara com uma onça”, explica Cunha, por meio do vídeo publicado pela UFJF.
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Ainda segundo o pesquisador, não há risco iminente de ataque, já que a onça se mantém, principalmente, na área do Jardim Botânico, entretanto, esse fator ainda é relevante. “Ela deve ser removida desse lugar, para outro mais isolado e com menos possibilidade de contato com a população humana em larga escala, como aqui.”
Outro ponto citado pelo especialista como motivo para transferir a onça a outro local está relacionado a área da Mata do Krambeck, que demonstra não ser suficientemente grande para manter um animal deste porte, bem como da impossibilidade de reprodução do felino. Como relembrou Cunha, há décadas não ocorrem registros de onça-pintada na Zona da Mata Mineira, além deste exemplar estar entre as cerca de 200 onças-pintadas existentes na Mata Atlântica em todo o país.
“É um animal que estava de passagem e achou esse pedaço bom, em termos de composição de floresta, de comida. É uma área adequada para ele permanecer temporariamente”, diz. “É importante que esse animal esteja disponível para manter a genética, manter a onça sobrevivendo na Mata Atlântica. Aqui, sozinho, ele não vai fazer isso, então essa onça vai ser levada para onde temos conhecimento de população de onça-pintada estabelecida e estável na região.”
UFJF reforça segurança
Na última quarta-feira (1º), a onça-pintada foi avistada no estacionamento da Igreja Batista Resplandecente Estrela da Manhã, localizada no Bairro Santa Terezinha, ao lado da Mata do Krambeck. Após o episódio, a pró-reitora de Extensão da UFJF, Ana Lívia Coimbra, se reuniu, nesta segunda, com o pastor Gonçalves de Paula Cunha, vice-presidente da congregação, com o intuito de reforçar as orientações de segurança à população e de salvaguarda do animal.
Cerca de 30 bolsistas, que atuam como monitores de educação ambiental no Jardim Botânico, também iniciaram, na última quinta-feira (2), uma série de visitações às casas dos moradores que residem próximos à entrada do local, no Bairro Santa Terezinha. O objetivo é repassar medidas preventivas com relação a possíveis acidentes relacionados à onça-pintada, além de informar os riscos de segurança para os residentes e sobre o monitoramento dos hábitos do animal.
Uma comissão interinstitucional também foi organizada pela instituição para coordenar as ações em relação ao aparecimento do felino. Atuam na comissão representantes da UFJF, por meio da Pró-reitoria de Extensão, do Jardim Botânico, do Departamento de Zoologia, do Colégio de Aplicação João XXIII e da Diretoria de Imagem Institucional; da Prefeitura de Juiz de Fora, com a Secretaria de Meio Ambiente e Ordenamento Urbano e a Secretaria de Comunicação Social; do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama); do Instituto Estadual de Florestas (IEF); da Polícia Militar de Meio Ambiente; do Corpo de Bombeiros e do Campo de Instrução do Exército em Juiz de Fora.
Orientações
A UFJF ainda tem disponibilizado uma série de orientações caso algum cidadão se depare com a onça-pintada. Entre elas, está manter a calma, nunca correr ou atirar objetos ou pedras – já que isso pode estimular o instinto natural de caça -, se afastar lentamente, sem dar as costas, bem como dar espaço para ela se afastar também. Outro conselho é evitar atividades nas margens do Rio Paraibuna, na área da Mata do Krambeck e em imediações da floresta, entre 17h e 6h.
Caso aviste o animal ou se encontre em situação de emergência, a orientação é entrar em contato com a Polícia Militar de Meio Ambiente, pelos telefones 190 e 3228-9050, ou Corpo de Bombeiros, pelo 193.