Explosão de caixa eletrônico mostra ousadia de grupos criminosos no interior de Minas

Quadrilhas agiram em Bom Jardim de Minas e em Carrancas. Assaltantes de grandes centros vêm atuando também em JF


Por Marcos Araújo, Sandra Zanella e Vívia Lima

04/04/2019 às 20h01- Atualizada 04/04/2019 às 20h12

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Bandidos explodiram o caixa eletrônico da única agência bancária da cidade (Foto: Divulgação/PM)

Mais explosões de caixas eletrônicos foram registradas na região e deixaram em alerta moradores, que temem a interiorização da criminalidade e ação de quadrilhas de outros estados nas cidades da Zona da Mata e Sul de Minas. Na madrugada desta quinta-feira (4), bandidos armados levaram medo à Bom Jardim de Minas e a Carrancas, cerca de 100 e 240 quilômetros de Juiz de Fora, respectivamente. Em Bom Jardim de Minas, a ação criminosa teve início, pouco antes das 4h, em um Posto de Atendimento, situado na Praça Presidente Getúlio Vargas, no Centro do município. Além das explosões, vários tiros foram disparados, assustando a população da pequena cidade de 6.500 habitantes. Ninguém foi preso e não há registro de feridos. Em Carrancas, a cerca de 102 quilômetros de Bom Jardim de Minas, cinco homens em um veículo adentraram no perímetro urbano da cidade pela BR- 451 e, por volta de 2h, se dirigiram para a agência do Banco do Brasil, na Rua Padre Toledo Tagues. O grupo quebrou os vidros frontais e foi até os caixas eletrônicos e, com uso de artefatos explosivos, explodiram três caixas eletrônicos, dos quatro existentes. As ações criminosas deixaram a população desses municípios assustada, principalmente, porque uma tentativa de roubo a dois bancos terminou com tiroteio em Guararema (Grande SP), deixando 11 suspeitos mortos, também na madrugada desta quinta, repercutindo em todo do Brasil.

A gerente de uma ótica Graziela Almeida, de 33 anos, em Bom de Jardim de Minas, contou à Tribuna que a comunidade está insegura com a situação. “Eu trabalho aqui perto e consigo ver a cena de destruição que restou no local”, disse. Segundo ela, o barulho da explosão foi ouvido da sua casa, durante a madrugada. Ela mora na mesma rua em que fica localizado o posto que foi alvo dos bandidos, só que mais distante. “Quando ouvi, não imaginei o que era. Só de manhã dei conta da violência. A população está assustada, e isso afeta muito a gente, principalmente, nós, que trabalhamos no comércio, pois somos dependentes do banco para dar andamento aos negócios. Agora, por exemplo, neste momento que dou a entrevista, a rua está cheia de policiais, o que não é comum na cidade”, observa a gerente.

A balconista de uma loja ao redor da praça, Nísia da Costa, 36, relatou que está assustada, já que a cidade sempre foi muito tranquila. “As pessoas estavam dormindo, quando houve a explosão. Os vizinhos logo saíram para ver o que estava acontecendo. Eu moro longe e só soube de manhã, mas a notícia se espalhou pelo Whatsapp”, afirmou a trabalhadora, completando: “No mês que vem, está prevista a exposição aqui da cidade, e as pessoas podem ficar com medo de vir para cá.”

Área fica destruída após ação na madrugada

Segundo informações da Polícia Militar, os bandidos usaram uma picape branca durante o assalto, e, pelo menos, seis ladrões teriam atuado no roubo, em Bom Jardim de Minas. Um carro que estava estacionado nas imediações foi alvejado na traseira. Cápsulas de projéteis também ficaram espalhados pelo chão, enquanto o alarme do posto soava incessantemente. A área do posto onde foram utilizados os artefatos explosivos ficou completamente destruída.

Em nota, o Banco do Brasil informou que o Posto de Atendimento em Bom Jardim de Minas ficou fechado nesta quinta-feira, “após ter sido vandalizado por ação de grupo criminoso na última madrugada”. Ainda conforme a assessoria, “não há previsão de reabertura da unidade, mas o BB trabalha para a normalização do atendimento no menor espaço de tempo”. Equipes técnicas da empresa vão ao local do crime para avaliar os danos à estrutura.

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Àrea do posto onde foram utilizados os artefatos explosivos ficou completamente destruída (Foto: Divulgação/PM)

Não foi informado quantos caixas eletrônicos foram explodidos e nem o valor roubado. “O Banco do Brasil colabora com as investigações para a elucidação do caso.” A orientação para os clientes do BB de Bom Jardim é buscar atendimento alternativo no Banco Postal dos Correios e em casa lotérica para operações como pagamentos, depósitos, saques, extratos e saldos. Outra opção é seguir até a agência de Lima Duarte, localizada a cerca de 50 quilômetros da cidade.

Tiros contra quartel e viatura da Polícia Militar

Em Carrancas, após a explosão, conforme o boletim de ocorrência, foi roubada determinada quantia em dinheiro, cujo valor não foi divulgado. Enquanto alguns criminosos explodiam a agência, outros se posicionaram na rua que dá acesso ao quartel da Polícia Militar e efetuaram vários disparos de arma de fogo em direção ao prédio. Conforme o documento policial, cinco disparos atingiram o prédio, três nas paredes e dois nos vidros da fachada. Um tiro também acertou uma viatura policial que estava estacionada em frente ao destacamento, causando um furo na parte traseira esquerda. Mais outros dois veículos parados na rua foram alvejados.

Após o roubo, o grupo fugiu. A ação deles teria durado cerca de dez minutos. Nesta quinta, por volta das 9h, a PM já tinha informações de que o carro usado pela quadrilha havia sido incendiado na cidade de Carmo da Mata. De acordo com a polícia, foi constatado que o veículo tinha sido roubado na cidade de Lagoa da Prata, no último dia 31. No local, a perícia da Polícia Civil recolheu uma munição 9mm picotada, sete cápsulas de munições 9mm deflagradas, cinco munições 380 deflagradas e quatro projéteis que ficaram alojados nas paredes do quartel. Nenhum suspeito foi preso.

Crime violento também em Andrelândia

No dia 1º de fevereiro, ladrões armados também dispararam vários tiros e explodiram três caixas eletrônicos de uma agência do Banco do Brasil no município de Andrelândia, no Sul de Minas, a cerca de 150 quilômetros de Juiz de Fora. Os criminosos ainda cercaram o quartel da Polícia Militar, gritando “se sair leva tiro”, mas não houve vítimas. A agência ficou danificada, com vários vidros estilhaçados. O crime violento também aconteceu por volta das 4h em pleno Centro da localidade de pouco mais de 12 mil habitantes.

Em julho de 2017, um policial militar e um vigilante foram mortos durante tentativas de roubo a duas agências bancárias de Santa Margarida, na Zona da Mata. A frequência de assaltos a agências bancárias e caixas eletrônicos em cidades pequenas de Minas, com menos de 50 mil habitantes, levou as polícias Civil e Militar a se mobilizarem para o enfrentamento a esta modalidade criminal, chamada de “Cangaço Mineiro”. Em janeiro do ano passado foi anunciada a criação de uma delegacia especializada para investigar esses crimes.

Quadrilhas de fora atacam em JF

Apesar de em Juiz de Fora não haver registros recentes de quadrilhas explodindo caixas eletrônicos, há casos ocorridos nas últimas semanas de grupos de outros estados do país atuando no município. No último dia 20, por exemplo, três homens, de 20, 35 e 38 anos, foram presos pela Polícia Civil por participação no furto de cerca de cem celulares praticado, este ano, em dois estabelecimentos do Shopping Jardim Norte. O trio, conforme a investigação, pertenceria a uma organização criminosa de Goiás. Os dois mais jovens foram detidos no dia 14, em Santo Antônio do Descoberto (GO), durante a operação interestadual Ícaro, que também teve desdobramentos no Ceará e no Distrito Federal. Já o mas velho deles não foi encontrado na cidade goiana, mas se apresentou na 1ª Delegacia Regional, em Santa Terezinha.

Já no dia 19 de março, três pessoas também foram presas em flagrante suspeitas de integrarem uma quadrilha de São Paulo que teria vindo a Juiz de Fora para aplicar golpes relacionados a saques do Programa de Integração Social (PIS). O caso foi descoberto depois que o gerente de uma agência bancária, localizada da Avenida Rio Branco, no Centro, percebeu que uma jovem, 23 anos, tentava sacar o benefício fazendo o uso de documentos falsos. Outros municípios também seriam alvos dos mesmos criminosos. O caso seguiu para investigação na Polícia Federal.

Especialista defende trabalho de inteligência policial

O doutor em Sociologia, Luís Flávio Sapori, que é professor nos cursos de mestrado e doutorado em Ciências Sociais da PUC-Minas, considera que os roubos a bancos e explosões a caixas eletrônicos constituem um fenômeno criminoso muito grave, principalmente, quando levados em conta os últimos dez anos. “Essa modalidade cresceu muito nos últimos anos, não só em Minas Gerais, como no Brasil. São quadrilhas muito bem armadas, com grande poderio bélico que priorizam cidades do interior”, disse, acrescentando que os municípios alvos de crime são escolhidos de maneira estratégica. “São locais onde a presença policial é necessariamente reduzida e contam com grande disponibilidade de dinheiro.”

Sem apresentar dados, ele avalia que este tipo criminoso apresentou queda no ano passado se comparado com 2017. “Tivemos um número menor de furtos e roubos a bancos, mas esta modalidade persiste e continua sendo um problema. A única e melhor forma de lidar com este crime é pelo trabalho de investigação da inteligência policial. Essas quadrilhas têm que ser identificadas, mapeadas e, de alguma maneira, incapacitadas através da prisão de seus membros. O trabalho preventivo da Polícia Militar é sempre muito restrito, e não há como estar presente em todas as cidades do interior. Neste sentido, é fundamental a cooperação da PM, da Polícia Civil e do Ministério Público. Essas três entidades precisam estar muito articuladas. É sobre elas que devem ser feitas as cobranças na região de Juiz de Fora. É fundamental saber em que medida eles estão coletando informações sobre as quadrilhas, lideranças, composição e qual trabalho estão adotando para desbaratá-las.”

A Tribuna entrou em contato com a assessoria de comunicação organizacional da 4ª Região de Polícia Militar (4ª RPM) a fim de que pudesse se posicionar sobre como a corporação vem trabalhando com o objetivo de coibir esse tipo de criminalidade, na região. Todavia, não houve respost

Tópicos: polícia

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