Marcha encerra mobilização da educação federal em JF
Entre quarta e quinta-feira (3), movimento reuniu estudantes, técnico-administrativos e professores da UFJF, do IF Sudeste e do Colégio João XXIII
Em mobilização contrária à agenda do Ministério da Educação (MEC), docentes, discentes e técnico-administrativos em educação (TAEs) reuniram-se, nesta quinta-feira (4), na região central, em ato público. De agenda nacional, a paralisação, iniciada na quarta, mobilizou a comunidade acadêmica da UFJF, do IF Sudeste e do Colégio João XXIII. Em concentração em frente à Câmara Municipal, no Parque Halfeld, desde o meio da tarde, os manifestantes marcharam, às 18h15, até o Banco do Brasil, na Rua Halfeld, onde encerraram, por volta de 19h, a paralisação de 48 horas.
“Fizemos uma ampla mobilização na UFJF ontem (quarta). Conseguimos parar mais de 90% da universidade. Nas aulas que aconteceram, intervimos, enquanto DCE, para explicar o porquê estávamos em greve. Fazemos um balanço muito positivo”, explica o diretor de Comunicação do DCE, Gabriel Reis. Conforme a organização local, 100% do campus de Juiz de Fora do IF Sudeste aderiu à paralisação e 90% do Colégio João XXIII, além de 97% da UFJF. O DCE informou que algumas aulas aconteceram nas faculdades de Farmácia, Enfermagem, Engenharia e Medicina, além do Instituto de Ciências Exatas (ICE).
Ao passo que a agenda de quarta (3) concentrou as atividades nos campi da UFJF e do IF Sudeste, a programação desta quinta (4) foi externa. Pela manhã, professores, TAEs e estudantes fizeram corpo a corpo com populares no Hospital Universitário (HU) e na Farmácia Popular. À tarde, o contato estendeu-se, por meio de panfletagem, no Parque Halfeld. “Fizemos panfletos específicos, apresentando dados do HU, do atendimento que a UFJF realiza e fomos muito bem recebidos pela população”, diz a presidente da Associação dos Professores de Ensino Superior de Juiz de Fora (Apes). “Tivemos muita cautela e nos preparamos muito, porque as pessoas então indo para serem atendidas por problemas de saúde. E as pessoas compreenderam que o HU e a Farmácia estão em risco e precisamos defendê-los. Foi uma atitude de muito envolvimento. E também quando chegamos aqui no Parque Halfeld. Tivemos a população dialogando e apresentando questões, querendo falar no microfone. Foi muito interessante.”
Além de panfletagem, a mobilização realizou aulão no Parque Halfeld, cujo tema era o Future-se, o qual já foi rejeitado, por unanimidade, pelo Conselho Superior (Consu) da UFJF. Durante a concentração para o ato, às intervenções de fala estavam abertas aos manifestantes, bem como ao chegar ao destino final da passeata.
Governo Bolsonaro como alvo
O contingenciamento de 30% do orçamento de instituições federais de ensino – a UFJF tem ainda mais de R$ 19 milhões congelados -, o bloqueio de bolsas de pesquisa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), bem como o Future-se, foram as pautas centrais da paralisação de 48h. Entretanto, os manifestantes também assumiram posição contrária às privatizações da Petrobras e dos Correios.
“Acreditamos que as pautas da educação não estão disassociadas das privatizações. Todo o pacote de privatização apresentado pelo Governo Bolsonaro trata-se de um projeto neoliberal. É a imposição de um projeto privatizador, tanto da educação pública superior quanto das nossas estatais. Ao mesmo tempo que o Governo anunciou, em maio, o contingenciamento de 30%, também apresentou a privatização da Petrobras, a entrega da base de Alcântara, na verdade, a (entrega da) soberania do povo brasileiro ao mercado financeiro, única e exclusivamente, e, mais, recentemente, uma mobilização para a privatização dos Correios. A medida apresentada como solução é sempre a privatizadora”, questiona Gabriel Reis.
No entendimento de Marina Pinto Barbosa, o Future-se impactaria eventualmente diretamente nos serviços oferecidos pelo HU e pela Farmácia Popular, por exemplo. “A proposta é clara. No caso do HU, haveria a entrada de planos de saúde privados. A lógica do Future-se é de parcerias público-privadas e de gestão privada dentro das universidades via organizações sociais (OSs). Os hospitais universitários priorizariam então o atendimento privado em detrimento do atendimento público. Toda vez que indagamos representantes do Governo sobre este caráter, não temos respostas claras ou fica evidente a perspectiva de reforma do Estado estruturalmente.”
Correios
Funcionário dos Correios há seis anos, Áureo Alves Rodrigues também participou do ato público. “Sou contra a privatização, mas, infelizmente, a maioria dos funcionários dos Correios está desorganizada, acomodada. Fizemos uma greve, e apenas 10% participaram. Somos sempre minoria. Penso que a privatização vai ocorrer, mas vamos lutar. Pelo menos a minoria vai.”