Questionada sobre reportagem da Folha, PJF diz que vacinas foram aplicadas no prazo
Matéria publicada pelo jornal paulista mostra que 45 doses fora da validade teriam sido aplicadas em Juiz de Fora
A Secretaria de Saúde da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) esclareceu que o lote 4120Z005 do imunizante AstraZeneca, um dos apontados em reportagem publicada pela Folha de São Paulo sobre aplicações de imunizantes vencidos, foi recebido pelo município em 31 de janeiro – com data de validade até 16 de abril – e que todas as doses desse lote foram administradas dentro do prazo correto – entre 1º de fevereiro e 9 de abril. Ou seja, antes mesmo da data de vencimento apontada pela Folha, que seria 14 de abril. A Administração Municipal também informou que “a campanha de vacinação contra Covid-19 em Juiz de Fora é realizada de maneira segura, com todos os cuidados para que a população seja imunizada da forma mais correta e breve possível. Reafirmamos que em momento algum foram aplicadas vacinas fora do prazo de validade ou sem que a qualidade fosse atestada por órgãos como Anvisa e Ministério da Saúde”, ressaltou. Ainda segundo a PJF, o Município já aplicou a primeira dose em 56,11% da sua população elegível, formada por pessoas com 18 anos ou mais.
O superintendente regional de saúde de Juiz de Fora, Gilson Lopes Soares, informou que essa notícia de aplicação de vacinas vencidas não procede. Segundo ele, esse tipo de ocorrência deve-se à realização do registro no sistema depois da aplicação da vacina. “Quero tranquilizar as pessoas que, porventura, tenham tomado esses lotes de vacinas, porque não há procedência nisso. Pelo menos, na nossa Regional de Saúde, isso não aconteceu”, ressaltou, exemplificando que a Superintendência recebeu doses que foram entregues para os municípios de sua abrangência, nesta sexta-feira (2), mas com prazo de validade datado para outubro. “É um prazo bem longo para vencimento, e, antes disso, serão aplicadas”, enfatizou.
Reportagem
A publicação da Folha de São Paulo mostra que cerca de 26 mil doses da AstraZeneca fora da validade foram aplicadas em milhares de municípios. O texto destaca que, em Juiz de Fora, 45 doses foram utilizadas, o que comprometeria a eficácia do imunizante contra a Covid-19. De acordo com o jornal, os dados constam de registros oficiais do Ministério da Saúde e que, até 19 de junho, as vacinas com prazo de validade vencido haviam sido utilizadas em 1.532 cidades brasileiras.
Maringá é primeira no ranking
De acordo com a apuração dos repórteres Estêvão Gamba e Sabine Righetti, que assinam a matéria da Folha, a campeã no ranking dos imunizantes com prazo expirado é a cidade de Maringá, no Paraná, com 3.536 pessoas com o produto da AstraZeneca fora da validade, sendo a primeira dose em todos os casos. Depois, segundo a Folha, aparecem Belém (PA), com 2.673, São Paulo (SP), com 996, Nilópolis (RJ), com 852 e Salvador (BA), com 824. As demais cidades aplicaram menos de 700 vacinas vencidas e a maioria não passou de dez doses.
A reportagem também alerta que outras 114 mil doses da AstraZeneca que já foram distribuídas a estados e municípios dentro do prazo de validade já expiraram, porém não está evidente se já foram descartadas ou se continuam sendo aplicadas. Como explica a reportagem, a AstraZeneca é a vacina mais usada no Brasil e corresponde a 57% das doses aplicadas em 2021. Todos os imunizantes expirados integram oito lotes da AstraZeneca importados ou adquiridos por consórcio. Um deles, como informa a Folha, passou da validade em 29 de março. O que venceu há menos tempo estava válido até 4 de junho.
Conferência
Como a matéria explica, o lote pode ser conferido na carteira individual de vacinação. A pessoa que tiver recebido uma dose de um desses oito lotes depois da data de validade deve procurar uma unidade de saúde para orientações e acompanhamento. Segundo a Folha, os lotes são: 4120Z001, com vencimento em 29 de março; 4120Z004 (13 de abril); 4120Z005 (14 de abril); CTMAV501 (30 de abril); CTMAV505 (31 de maio); CTMAV506 (31 de maio); CTMAV520 (31 de maio); e 4120Z025 (4 de junho).
De acordo com o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra Covid-19, quem tomou imunizante vencido precisa se revacinar pelo menos 28 dias depois de ter recebido a dose administrada equivocadamente. Na prática, é como se a pessoa não tivesse se vacinado.
Conforme o plano, cada indivíduo vacinado é identificado com o lote da imunização recebida, o produtor da vacina e a dose aplicada. Isso é feito com objetivo de acompanhamento pelo Ministério da Saúde e eventual identificação de erros vacinais. O DataSUS (sistema de informações do Ministério da Saúde) também identifica todas as pessoas imunizadas com um código individual, acompanhado de informações sobre idade, grupo prioritário de vacinação, data da imunização e lote da vacina recebida.
Já a data de validade de cada lote de vacina consta de outro sistema do Governo federal, o Sage (Sala de Apoio à Gestão Estratégica), que registra os comprovantes de entrega dos imunizantes contra Covid-19 por estado. Em cada um desses recibos, como explica o jornal, há informações públicas sobre o número do lote vacinal, a data de validade, o fabricante e a data de entrega. Segundo a Folha, para chegar até as informações apresentadas na reportagem, foram cruzadas as duas bases —DataSUS e Sage— a partir do número do lote das vacinas. Foram consideradas todas as imunizações do país contra Covid-19 até 19 de junho. O levantamento inédito mostra que, até essa data, um total de 25.935 doses de oito lotes de AstraZeneca foram aplicadas fora da validade. Metade desses lotes veio do Instituto Serum da Índia; a outra metade, da Opas (Organização Pan-Americana de Saúde).
Como aponta a reportagem, as vacinas desses lotes foram distribuídas de janeiro a março pelo Governo federal para todos os estados do país antes do vencimento. Elas somam quase 3,9 milhões de doses, das quais cerca de 140 mil não foram utilizadas dentro do prazo de validade. Dessas, até o dia 19 de junho, 26 mil tinham sido aplicadas já vencidas.
Ministério da Saúde diz que acompanha rigorosamente prazos de validade
Por meio de nota, o Ministério da Saúde respondeu à Folha “que acompanha rigorosamente todos os prazos de validade das vacinas Covid-19 recebidas e distribuídas” e que “as doses entregues para as centrais estaduais devem ser imediatamente enviadas aos municípios pelas gestões estaduais. Cabe aos gestores locais do SUS o armazenamento correto, acompanhamento da validade dos frascos e aplicação das doses, seguindo à risca as orientações do Ministério.”
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