Sem água e acesso há três anos, moradores aguardam obras no Santa Luzia

Contrato da Prefeitura com empresa responsável por contenção foi assinado na última semana, e serviços devem começar na próxima terça


Por Mariana Floriano

02/06/2023 às 07h34

OROZIMBO Interna Felipe Couri
Vanda dos Santos, moradora da Rua José Orozimbo há quase 50 anos, mostra as condições em que a comunidade vive há três anos (Foto: Felipe Couri)

Tida como prioridade de intervenção pelo Município, a Rua José Orozimbo de Oliveira, no Bairro Santa Luzia, sofre há três anos com as consequências de um deslizamento de terra. Em 2020, a encosta cedeu em dois pontos, resultando na interdição de 26 casas e da passagem de veículos na rua. Desde então, os moradores convivem com a falta de água, dificuldades no acesso e não tinham perspectiva de quando a situação vai melhorar. Isso até a semana passada, quando foi assinado o contrato com a empresa que irá realizar as obras.

Nos últimos três anos, a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) lançou quatro licitações para empreitada no local, mas apenas a última teve sucesso. Na mais recente, foi escolhida uma proponente, a Remar Construtora, que venceu a concorrência no dia 6 de abril. No último dia 23, foi assinado o contrato e emitida a ordem de serviço. Ou seja, a partir dessa emissão, a Remar tem até dez dias úteis para iniciar os serviços, o que deve acontecer no dia 6 de junho, próxima terça-feira. O prazo de entrega da obra é de um ano.

Com a empresa escolhida e o orçamento de R$ 4.109.709,68 em mãos, provenientes do acordo de reparação da Vale com o Governo de Minas Gerais, em função dos danos causados pela tragédia de Brumadinho, a Prefeitura afirmou, em nota, que “as obras vão começar em breve”. Enquanto o problema não é resolvido, a comunidade da região amarga a espera, visto que as consequências do deslizamento vão muito além do medo de que outra tragédia possa acontecer.

Nem ambulância passa

OROZIMBO VANDA FELIPE COURI
Deslizamento ocorrido em 2021 levou terra para dentro de imóvel, e proprietária não consegue retirar por conta da interdição da rua (Foto: Felipe Couri)

Conforme os moradores, cerca de 70 famílias são afetadas pela falta de água e dificuldade de locomoção impostas pelo abandono da via. “Está abandonada mesmo, a rua e nós moradores”, afirma Vanda dos Santos, que vive há 47 anos na rua. Sua casa chegou a ficar parcialmente interditada por conta do escorregamento de terra em 2020. Uma outra encosta, nos fundos da residência, também desceu no ano seguinte e a terra continua lá. “Não tem nem como arrumar o barranco. É difícil conseguir uma caçamba que venha aqui tirar a terra.”

O marido, que faz tratamento contra o câncer, frequentemente precisa sair de carro. Ela explica que, para chamar um motorista de aplicativo, ou um táxi, é uma luta. Isso porque o início da rua está tomado de carros, dificultando a passagem. “Carro nenhum passa aqui, então o pessoal estaciona no início da rua. Eu fico pensando se um dia a gente precisar de uma ambulância. Ela não vai conseguir chegar.”

Situação que, aliás, já aconteceu, segundo os moradores, mais de uma vez. A mais recente ocorreu com a esposa de José Augusto Rosseti, de 49 anos. Ele conta que ela estava passando próximo ao barranco quando um cachorro a atacou. Ao desviar, pisou em falso e caiu próximo à encosta. “Ela quebrou o pé e precisou sair carregada. Agora, quando tem que ir ao médico, a gente precisa levá-la de cadeira de rodas até o início da rua, onde um carro consegue chegar.” A Defesa Civil, questionada sobre a condição da via, afirmou que mapeia a área e realiza o monitoramento constante para verificar a evolução do risco.

Carro estacionado há três anos

José Augusto, que mora no fim da rua, diz que desde que a encosta desabou, há mais de três anos, sua caminhonete permanece parada na frente de casa. Como a via é sem saída e está interditada, ele não conseguiu tirar o veículo e precisou comprar um novo carro para o trabalho. “É complicado também porque estamos fazendo obra lá em casa, e todo material de construção temos que levar nas costas até o fim da rua.”

Das 26 casas interditadas, muitas ainda abrigam seus moradores. De acordo com a Defesa Civil, atualmente, quatro famílias recebem o auxílio moradia, conforme os critérios da Lei 14.214/2021, que paga mensalmente de R$ 600 a R$ 300 às famílias que recebem até três salários mínimos e estão inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais. José Augusto afirma que, infelizmente, as pessoas que ainda moram na rua não têm para onde ir. “São poucos os que recebem o aluguel social. E na economia de hoje a gente sabe que esse dinheiro é só uma ajuda de custo, não paga nada.” Vanda dos Santos afirma que tentou contato com órgãos responsáveis para, pelo menos, isentar a comunidade do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU), mas não conseguiu. “O mínimo eles não querem fazer.”

Falta água todos os dias

Outro problema frequente é a falta de água, que afeta, principalmente, os moradores do ponto mais alto da Rua José Orozimbo de Oliveira. Desde o trecho em que o barranco cedeu e a via foi interditada, a tubulação de água não existe mais. Sendo assim, conforme a população, a Cesama improvisou uma mangueira que é responsável por abastecer diversas casas. O equipamento não tem a vazão necessária para encher as caixas d’água, e os moradores contam que todos os dias sofrem com o desabastecimento.

Wanderson Ferreira, de 50 anos, é morador de uma das últimas casas. Lá, a água só chega puxada por bomba. “A água não tem pressão para chegar lá em cima. Isso afeta toda a rua. Falta água com frequência, todo dia. A gente tem que usar com moderação, porque senão fica sem.” A situação prejudica o cotidiano dos moradores há três anos. “A gente fica sem saber o que fazer, não tem para onde ir, vamos dando nosso jeito, os moradores mesmo vão se ajudando, porque não tem como depender da Prefeitura.”

Em resposta à falta d’água, a Cesama afirmou que opera com sistema paliativo no local. “Após a conclusão das obras de contenção, teremos a solução definitiva”, respondeu a Companhia em nota.

Solução técnica

Em publicação no site da PJF na última semana, o Executivo detalhou como planeja realizar as obras. Conforme a Secretaria de Obras, o projeto de contenção já foi feito e, agora, dará início à obra para revitalizar a rua e permitir que ela volte a seu pleno funcionamento. A solução técnica encontrada foi a construção de uma cortina atirantada de 165 metros de comprimento e com uma altura média de 5 metros, que será inserida dentro do muro, a fim de minimizar os deslocamentos de terra. A cortina atirantada é utilizada nos serviços de contenção de talude, encostas e subsolos. Possui estruturas de concreto armado que trabalham em conjunto com tirantes, possibilitando maior segurança ao terreno.

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