Choque entre ônibus fere 28 e expõe trecho precário

Vitimas foram socorridas por unidades do Resgate e do Samu e encaminhadas para o HPS
Pelo menos 28 pessoas ficaram feridas na batida frontal entre dois ônibus da Viação São Cristóvão, na manhã desta quinta-feira (31), na saída da ponte estreita da BR-267, no km 91, na altura do Bairro Retiro, Zona Sudeste. De acordo com informações da assessoria jurídica e de acidentes da empresa, entre as vítimas estão três funcionários e outros 25 passageiros, que deram entrada no Hospital de Pronto Socorro (HPS). O acidente levantou novamente a discussão sobre a precariedade do segmento que acumula características de rodovia federal e área urbana. O estreitamento abrupto da pista sobre a ponte permite a passagem de apenas um veículo por vez, o que já ocasionou outros acidentes semelhantes. A ponte é passagem obrigatória para veículos pesados e ônibus que saem de Juiz de Fora em direção à região de Leopoldina. Há menos de dois anos, a colisão entre uma carreta e um caminhão interditou o trecho por quase 13 horas, obrigando passageiros de ônibus urbanos a fazerem baldeação para continuar a viagem e causando congestionamento de caminhões, já que a via é utilizada por caminhoneiros que seguem com destino à BR-116. Nos últimos anos, a comunidade realizou manifestações cobrando a duplicação da ponte, mas até hoje o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) não realizou a intervenção. A nova informação do órgão é de que o projeto executivo para o alargamento está em andamento e que, no próximo ano, deve ser aberta a licitação para a contratação da empresa que irá executar a obra.
O acidente desta quinta aconteceu por volta das 7h30. Cerca de 50 pessoas estavam no coletivo que faz a linha 303-Jardim Esperança. Ao sair da ponte no sentido bairro/Centro, o veículo chocou-se de frente contra outro carro da São Cristóvão, que teria parado em sua faixa, na direção oposta, para aguardar a passagem do veículo. Com o impacto, o condutor do primeiro ônibus ficou preso às ferragens e teria sofrido fratura na perna. Segundo a viação, o motorista teria passado mal pouco antes da batida. Vinte e cinco passageiros também ficaram feridos. A maioria foi socorrida por unidades do Resgate e Samu, enquanto alguns deram entrada no HPS por meios próprios. Já o segundo veículo era ocupado por dois funcionários da empresa, que seguiam para o Bairro Floresta a fim de dar socorro a outro carro da São Cristóvão, o qual apresentava problemas mecânicos. No total, 26 pessoas tiveram ferimentos leves e duas sofreram lesões mais graves.
Por pouco, um terceiro ônibus da firma, linha 304-Caeté, não se envolveu na batida. Ele estava parado no ponto de ônibus, logo ao lado, mas não chegou a ser atingido. O choque assustou muitos moradores da região, embora eles já tenham vivenciado inúmeros acidentes na ponte e no entorno dela.
"Já presenciei muitos acidentes aqui, já até perdi a conta. Hoje (quinta) já tinha acordado, mas ainda estava na cama quando ouvi um estrondo apavorante. Abri a janela e olhei logo para a ponte. Quando vi os dois ônibus parados em frente ao meu portão, fiquei sem ação. Era muita gente machucada e gritando por socorro", contou a dona de casa que mora às margens da BR-267, Ana Paula Monteiro de Barros, 46 anos. "Alguns feridos sentaram no ponto de ônibus. Havia passageiros com cortes na testa, boca, ombro, e uma mulher com o rosto sujo de sangue. Foi traumático. Nesses 25 anos que moro aqui, nunca presenciei acidente dessa proporção", desabafou a moradora. "Aqueles que nada sofreram ajudaram a socorrer os feridos. Mas no início foi uma cena aterrorizante." Além dos danos nas latarias, os para-brisas dos dois ônibus foram estilhaçados na batida.
Maior parte dos ônibus da região utiliza ponte
Cerca de 70% dos 36 ônibus que atendem aos bairros da região Sudeste obrigatoriamente passam pela ponte estreita do Retiro, conforme apontou o encarregado da Viação São Cristóvão, João Freesz. Segundo ele, além dos prejuízos e danos causados em acidentes envolvendo carros da empresa, outros sinistros que provocam a interdição da ponte levam a sérios transtornos à viação e aos usuários do transporte coletivo urbano. Isso porque, ao serem impedidos de passar pela ponte, os coletivos são obrigados a mudar seus trajetos, aumentando o tempo das viagens e, em alguns casos, precisam fazer baldeação.
"Há décadas o Poder Público se mantém omisso com relação a essa ponte. Vidas já foram ceifadas, e a população continua à mercê. A obra necessita de recurso federal por pertencer ao Dnit, já que se trata de um trecho da BR-267. Mas, ao mesmo tempo, corta o bairro, aumentando a necessidade de busca de recursos imediatos para alargamento da ponte", avalia a assessora jurídica e de acidentes da São Cristóvão, Cátia Moreira.
O presidente da Sociedade Pró-Melhoramentos do Bairro Retiro, Jorge Pinto, reforça a necessidade das intervenções na ponte: "Já fizemos muitas manifestações, nossa luta já dura mais de dez anos. Conseguimos o recapeamento no trecho, e o Dnit disse que faria duas pontes. Falaram que esperavam liberação de verbas, mas está demorando demais. Desta vez, houve um número muito elevado de vítimas. Não foi o primeiro acidente e nem vai ser o último se a situação não for resolvida. Essa ponte já está até condenada, podendo acontecer coisa mais grave", denuncia.
Conflito entre rua e rodovia
Além da deficiência estrutural da ponte, contribuindo para colisões, a situação no trecho coloca em risco os moradores, já que a passagem de pedestres é precária. Além de o local ser estreito, falta calçamento em alguns trechos, obrigando as pessoas a andarem pelo asfalto. Como há uma escola nas imediações, o perigo de atropelamento de crianças é iminente. Quem vive na região ainda relata abuso de motoristas. "Também há muito imprudência, porque os veículos querem entrar na mesma hora em que o outro está passando, mas só cabe um por vez. Na terça-feira mesmo, um caminhão e um carro bateram, mas ninguém ficou ferido. Quando chove, a pista fica escorregadia, e a situação piora", conta a dona de casa Ana Paula de Barros.
Para a chefe de engenharia de tráfego da Settra, Sheila Menini, o trecho é preocupante por conta do conflito rodovia-via urbana. "A ponte é preocupação antiga da Settra, tanto que cobramos a implantação de sinalizações no local. Há uma placa de advertência sobre o estreitamento de pista e outras duas indicativas, uma sobre o tráfego de um veículo por vez e outra sobre a extensão da ponte. Mas o conflito existe. A área é extensão de uma rodovia, e o motorista que a usa como rodovia tem outro comportamento, diferente de quem usa como via urbana. A velocidade é outra, o comportamento é outro, e, como há ocupação urbana, acontecem os acidentes, geralmente de mais gravidade. Por isso estamos sempre em contato com o Dnit, alertando sobre esses pontos, mas as intervenções têm que ser feitas por eles já que é uma rodovia federal."