Lula responsabiliza Bolsonaro por taxação de 50% aos produtos brasileiros, anunciada por Trump
Medida foi anunciada na quarta-feira e tem causado reações no meio político e econômico
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro deveria se responsabilizar pela taxação de 50% dos produtos brasileiros importados pelos Estados Unidos, anunciada por Donald Trump na quarta-feira (9). A declaração do petista foi feita nesta quinta-feira (10), durante entrevista ao Jornal da Record.
“O ex-presidente da República deveria assumir a responsabilidade, porque ele está concordando com a taxação do Trump”, disse Lula. Ainda durante a conversa, ele afirmou que quer que os Estados Unidos respeitem o Brasil. “Eles têm que respeitar a Justiça brasileira como eu respeito a americana.”
Desde o anúncio de Trump, políticos e entidades representativas se manifestaram sobre a medida.
Ministros de Lula e Tarcísio trocam farpas
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o governador de São Paulo “errou muito” ao responsabilizar o governo brasileiro pela tarifa anunciada por Trump. “Ou uma pessoa é candidata a presidente ou é candidata a vassalo, e não há espaço no Brasil para vassalagem”, disparou o ministro.
Para Haddad, o anúncio de Trump representa um golpe contra a soberania nacional, articulado por “forças extremistas” de dentro do país. “A única explicação plausível para o que foi feito é porque a família Bolsonaro urdiu esse ataque ao Brasil, com um objetivo específico, que é escapar do processo que está em curso.”
Tarcísio rebateu a declaração, afirmando que Haddad “deveria cuidar da economia”. “Se estivesse cuidando, talvez o Brasil estivesse indo melhor”, disse o governador. “A gente tem um problema fiscal sério. Então, cabe a ele falar menos e trabalhar mais.”
Nas redes sociais, Tarcísio afirmou que “Lula colocou sua ideologia acima da economia, e esse é o resultado. Não adianta se esconder atrás do Bolsonaro. A responsabilidade é de quem governa”.
O ministro da Casa Civil, Rui Costa, também criticou Tarcísio. “Lamento que o governador de São Paulo defenda uma tarifa de 50%, imposta pelo governo dos EUA que, a partir de 1º de agosto, penalizará a indústria e a agroindústria paulista em vez de defender a população do seu Estado e do Brasil como nação.” Para ele, “é curioso Tarcísio liderar a maior economia do país e, ao mesmo tempo, apoiar medidas que encarecem produtos e prejudicam a economia nacional”.
Setores demonstram preocupação
Nesta quinta, a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) emitiu comunicado informando que “manifesta profunda preocupação com o recente aumento das tarifas aplicadas pelos Estados Unidos aos produtos brasileiros”.
No texto, destaca que ” a Fiemg reforça a importância do diálogo e da cooperação entre os países, especialmente em um momento em que se exige serenidade e responsabilidade nas relações comerciais internacionais. Os Estados Unidos são um parceiro estratégico para o Brasil, em especial para a indústria manufatureira nacional. No caso de Minas Gerais, trata-se do principal parceiro da indústria de transformação do estado”.
No comunicada, também avalia que “eventuais medidas de retaliação devem ser avaliadas com cautela, uma vez que podem trazer prejuízos significativos à sociedade brasileira e ao setor produtivo como um todo. Este é o momento de reavaliar posicionamentos, reconsiderar decisões e buscar soluções por meio do diálogo com esse parceiro estratégico”.
Também em nota, a Embraer declarou que “está trabalhando com as autoridades competentes visando restabelecer a alíquota zero dos impostos de importação para o setor aeronáutico”.
Com cerca de 60% da sua receita atrelada ao mercado norte-americano, a Embraer é considerada por analistas uma das empresas brasileiras mais expostas à possível taxação de 50% sobre produtos brasileiros pelos EUA. Os temores vêm pressionando o papel da companhia, que recuam desde quarta.
Desdobramentos nas redes sociais
Brasileiros invadiram o perfil do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para criticar a taxação. Mensagens como “Brasil soberano”, “o Brasil é dos brasileiros” e “deixe o Brasil em paz” foram frequentes na página, o que levou a equipe do presidente dos Estados Unidos a desabilitar os comentários.
As novas tarifas de 50% sobre produtos brasileiros exportados para os EUA foram informadas por Trump por meio de uma carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e divulgada na rede social Truth Social.
Entre as justificativas dadas para o nível da taxa foram o tratamento dado pelo Brasil a Bolsonaro e as decisões do STF contra empresas americanas de tecnologia. “O modo como o Brasil tem tratado o ex-presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado no mundo, é uma desgraça internacional. “Esse julgamento não deveria estar ocorrendo. É uma caça às bruxas que deve terminar IMEDIATAMENTE!”, escreveu.
Lula reagiu ao anúncio e afirmou que a resposta do país virá por meio da Lei de Reciprocidade Econômica. A norma brasileira foi sancionada pelo presidente em abril deste ano e prevê medidas em casos de retaliações comerciais.
*Com informações da Agência Estado