Sofrimento mental é mais frequente em meninas e jovens LGBTQIA+, mostra estudo

Levantamento com mais de 6,5 mil adolescentes mostra níveis mais altos de depressão e ansiedade nesses grupos


Por Fernanda Bassette, Agência Einstein

14/08/2025 às 11h36

Uma pesquisa realizada na Austrália com mais de 6,5 mil adolescentes identificou níveis significativamente mais elevados de depressão, ansiedade e sofrimento psicológico entre meninas e jovens LGBTQIA+, em comparação a meninos cisgênero. O levantamento, publicado em junho no Australian and New Zealand Journal of Public Health, mostrou que esses problemas tendem a se agravar com o avanço dos anos escolares.

O estudo avaliou estudantes de 12 a 16 anos, do 7º ao 10º ano, entre 2019 e 2022. Quase 30% dos adolescentes relataram sintomas compatíveis com depressão ao final do ensino básico, sendo a prevalência maior entre meninas e jovens que se identificam com diferentes gêneros ou orientações sexuais. A chamada “lacuna de gênero” na saúde mental não apenas se manteve, mas se ampliou durante a adolescência.

Entre os participantes, os jovens LGBTQIA+ apresentaram os índices mais altos de sofrimento mental desde o início do acompanhamento, com agravamento mais acentuado ao longo do tempo. Em seguida, apareceram pessoas do sexo feminino que optaram por não declarar seu gênero e, depois, meninas cisgênero. Em todos os grupos, meninos cisgênero registraram os menores níveis de sintomas.

Para o psiquiatra Elton Kanomata, do Hospital Israelita Albert Einstein, os resultados reforçam dados já observados em outras pesquisas. Ele explica que a adolescência, entre 12 e 17 anos, é um período crítico para o surgimento de problemas mentais, marcado por mudanças físicas, hormonais e emocionais, somadas a novas demandas sociais e necessidade de desenvolver habilidades socioemocionais — nem sempre com suporte adequado.

Fatores como conflitos sociais, insegurança com a imagem corporal, uso excessivo de redes digitais, experiências de bullying, início precoce do consumo de substâncias e o impacto da pandemia de Covid-19 — com isolamento, afastamento de amigos e interrupção das rotinas escolares — também contribuem para o aumento do risco.

A diferença de impacto entre meninas e jovens LGBTQIA+ é atribuída a uma combinação de fatores hormonais, sociais e estruturais. Segundo Kanomata, estudos mostram que meninas têm de 1,5 a três vezes mais risco de apresentar transtornos mentais a partir da adolescência, influenciadas por alterações hormonais, padrões estéticos inatingíveis e estigmas sobre o corpo e comportamento. Já no caso dos jovens LGBTQIA+, a vulnerabilidade é intensificada por experiências mais frequentes de estresse, discriminação, bullying e isolamento social, muitas vezes sem rede de apoio.

O estudo também identificou que meninas de famílias com menor renda relataram níveis mais altos de sofrimento, evidenciando a sobreposição entre desigualdade de gênero e disparidades econômicas. A condição socioeconômica desfavorável limita o acesso a cuidados de saúde mental, segurança, alimentação adequada e outros fatores de proteção, afetando diretamente o bem-estar emocional.

Para o especialista, políticas públicas voltadas aos determinantes sociais da saúde mental e à adolescência como fase estratégica de prevenção são essenciais. Ele defende investimentos em educação emocional nas escolas, combate ao bullying, criação de ambientes acolhedores e ampliação do acesso a serviços de saúde mental, com atenção especial às demandas de meninas e jovens LGBTQIA+.

*Texto reescrito com o auxílio do Chat GPT e revisado por nossa equipe

 

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