Plano de manejo do Parque Estadual Mata do Krambeck será feito pelo IEF em parceria com a UFJF
Elaboração do documento aguarda liberação de emenda parlamentar; ações de incentivo à participação comunitária já estão sendo realizadas na unidade de conservação

O Parque Estadual Mata do Krambeck avança na caminhada para a sua abertura ao público. O Plano de Manejo da Unidade de Conservação (UC) será elaborado por meio de um convênio entre o Instituto Estadual de Florestas (IEF) e a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). A parceria já teve sua minuta de acordo finalizada e tramitada pelos setores jurídicos de ambas as instituições, aguardando agora a liberação de uma emenda parlamentar no valor de R$ 150 mil, do deputado Noraldino Júnior (PSB), que irá custear o projeto. Enquanto o documento principal não é iniciado, a gestão do parque já realiza diversas ações de engajamento e prevenção com os moradores do entorno, como a formação de uma brigada de incêndio voluntária, reforçando a importância da participação comunitária na proteção do maior remanescente de Mata Atlântica de Juiz de Fora.
O plano prevê o uso de consulta pública para garantir um processo descentralizado e participativo. Mas enquanto ele ainda não é iniciado, esse processo de integração da comunidade já vem sendo realizado. O curso de capacitação da brigada voluntária de incêndio foi feito em parceria com o Corpo de Bombeiros e teve duração de três dias, contendo uma parte teórica e outra prática. Ao todo, 12 moradores do Bairro Alto Eldorado foram treinados e irão receber os equipamentos de segurança necessários. Para a gerente do Parque Estadual Mata do Krambeck, Renata Meirelles, essa capacitação é extremamente relevante. “Por anos, o IEF e o Corpo de Bombeiros tentaram criar essa brigada voluntária. O papel dela é tentar amenizar os impactos de pequenos incêndios a partir da ação dos moradores do entorno até que os bombeiros cheguem no local.”
Além disso, outras ações preventivas, principalmente relacionadas a incêndios florestais, estão sendo realizadas nos bairros que ficam no entorno da mata, como Eldorado, Parque Independência, Parque Guarani, Grama e Santa Terezinha. Dessa forma, foram feitas blitzes educativas e a “Operação Alerta Verde”, realizada em parceria com o Corpo de Bombeiros e a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) para fiscalizar lotes e conscientizar sobre os riscos de incêndio.
Para se ter uma ideia da importância de conscientizar a população, somente no ano passado essa área foi atingida por quatro incêndios, sendo um de maior proporção. “As pessoas não podem conservar, preservar, aquilo que elas não conhecem. Então, acredito que a partir do momento que aquele portão se abrir, nós vamos ter zero incêndios no entorno”, diz Renata. A gerente acrescenta que os prejuízos desses incidentes, que ocorrem em grande maioria nos períodos de estiagem, não são apenas perdas ambientais, mas também graves danos à saúde da população do entorno devido à fumaça.
Regularização fundiária ainda é impasse na Mata do Krambeck

O acesso principal ao parque será feito pelo portão localizado na Avenida Brasil. A gerente do parque explica que o uso público da UC depende de negociações distintas e em estágios diferentes das suas duas propriedades: o Sítio Retiro Novo e o Sítio Retiro Velho. O primeiro se trata da área onde a portaria está e, neste caso, o processo segue por meio da regularização fundiária amigável. O Instituto Estadual de Florestas (IEF) já concluiu toda a instrução administrativa e encaminhou a documentação para sua sede em Belo Horizonte, que agora dará início à fase de avaliação do imóvel e negociação direta do pagamento com os proprietários.
Já a regularização do Sítio Retiro Velho, que também faz parte da área do parque, segue pela via judicial. Os proprietários ganharam na justiça o direito a uma indenização pelo Estado, em um processo conhecido como “desapropriação indireta”. Por se tratar de uma decisão legal, a negociação dos valores e da forma de pagamento é conduzida diretamente pela Advocacia-Geral do Estado (AGE), com o IEF atuando apenas como acompanhante. Assim que o valor for acordado e o pagamento for feito pelo Estado, junto com o Plano de Manejo e a infraestrutura necessária, as portas para o parque estarão abertas.
‘Maior mata urbana particular do mundo’
De acordo com a Lei 8.507 de 1994, a Mata do Krambeck já foi considerada a maior mata urbana particular do mundo. No entanto, estudos não foram realizados para confirmar essa informação. O que se sabe é que sua área corresponde a 291 hectares preservados, o que equivale a 269 campos de futebol. Um recente estudo, realizado por Renata no mestrado da UFJF, identificou que a espécie com maior índice de diversidade dentro da unidade de conservação é a palmeira Juçara, conhecida como o “açaí da Mata Atlântica”. A forte presença desta palmeira, que se encontra em risco de extinção, posiciona o parque como uma área estratégica e fundamental para a conservação da espécie.
A rica biodiversidade com espécies raras de fauna e flora reforçam a importância da Mata do Krambeck. Levantamentos técnicos realizados pelo IEF, mesmo com a área ainda sendo privada, revelam um rico acervo de atrativos ambientais e históricos. Já foram mapeados pelo menos três córregos de águas limpas, nascentes e cachoeiras dentro da unidade. Um dos achados mais significativos, no entanto, é a identificação de antigas trilhas calçadas, remanescentes da época em que um curtume operava na região. Estas trilhas, que conectam a área do Sítio Retiro Novo ao Sítio Malícia (atual Jardim Botânico), foram encobertas pela vegetação ao longo do tempo, mas já tiveram seus traçados identificados pela equipe do IEF.

O plano futuro, após a conclusão da regularização fundiária, é realizar a limpeza e a recuperação desses caminhos para que a população possa conhecer não apenas o patrimônio natural, mas também o legado histórico e cultural preservado na mata, além de desenvolver atividades de educação ambiental para incentivar a preservação deste espaço fundamental para Juiz de Fora.
A Mata do Krambeck é composta pela área do parque, mas também pelo espaço onde hoje é o Jardim Botânico da UFJF e pela Mata da Remonta, de propriedade do Exército Brasileiro. Juntos, eles somam mais de 512,66 hectares de floresta atlântica contínua em área de contato com a expansão urbana. “Na academia, nós chamamos a Mata do Krambeck de coração verde de Juiz de Fora. Esse nome surgiu por causa da sua localização estratégica em plena área urbana, que é um grande diferencial em relação aos demais parques estaduais.”