Banho de gelo: saiba quais os benefícios da técnica

Banho de gelo se popularizou como técnica para diminuir a inflamação e acelerar a recuperação muscular, mas a indicação para não atletas ainda é controversa


Por Fernanda Bassette, Agência Einstein

08/04/2025 às 08h23- Atualizada 08/04/2025 às 08h59

banho de gelo freepik
Embora o banho de gelo promova ação analgésica e anti-inflamatória local, faltam indicadores robustos de que promova efeitos duradouros (Foto: Freepik)

A crioimersão virou tendência entre atletas, celebridades e entusiastas do bem-estar no Brasil. O prefixo “crio” tem origem no termo em grego para “frio” ou “gelado”, por isso, é o nome técnico da prática que consiste em mergulhar o corpo em água extremamente fria por alguns minutos. Entre os benefícios estariam a diminuição a inflamação e a recuperação muscular mais rápida.

Em postagens nas redes sociais, os adeptos alegam que a prática ajuda a lidar com o estresse e a manter a resistência física. Com tanta divulgação, a imersão em gelo tem se popularizado entre não atletas – somente no TikTok, a hashtag #icebath (banho no gelo, em português) tem mais de 220 mil citações. Diante do crescente interesse pela técnica, a ciência tem buscado entender os reais efeitos e benefícios da crioimersão.

Uma meta-análise publicada em janeiro na revista científica Plos One analisou 11 estudos de imersão em gelo, envolvendo um total de 3.177 participantes. Nesses trabalhos, os voluntários ficaram imersos em água com temperatura menor do que 15 graus por, pelo menos, 30 segundos, e os autores buscaram identificar se houve melhorias no sono, no estresse, na imunidade, na inflamação e no bem-estar.

A conclusão é que a técnica causa um aumento temporário na inflamação e, uma hora após a imersão em gelo, sugerindo uma resposta inflamatória aguda. A princípio, isso pode até parecer contraditório, devido aos já conhecidos efeitos anti-inflamatórios do gelo, mas sinaliza uma reação do corpo ao frio estressor.

Além disso, os pesquisadores observaram uma redução no estresse 12 horas após a imersão em água gelada. Mas não encontraram nenhum efeito uma hora, 24 horas ou 48 horas após a exposição ao gelo. A revisão também sugere benefícios de longo prazo relacionados à melhora na imunidade, com uma redução de 29% nos afastamentos de trabalho por doença entre os participantes que fizeram a imersão em gelo. Houve, ainda, relatos de melhorias no sono e na qualidade de vida.

Os autores apontam, porém, que os efeitos são altamente dependentes do tempo de exposição e nem sempre são duradouros. Devido à ausência de dados a longo prazo, sugerem que mais estudos sejam feitos antes que a imersão no gelo possa ser amplamente recomendada.

Indicação de banho em gelo é controversa

Segundo a médica do Esporte do Espaço de Reabilitação do Hospital Israelita Albert Einstein, Karina Mayumi Hatano, a imersão no gelo tem sido difundida no esporte, pois o gelo é reconhecido por seus efeitos analgésicos e anti-inflamatórios. Mas a indicação para não atletas ainda é controversa, justamente pela falta de evidências robustas dos benefícios.

“O que existe de protocolo consolidado é aplicar gelo por 20 minutos no local onde aconteceu alguma lesão, para melhoria da dor e como anti-inflamatório naquela região específica. Importante ressaltar que isso vale para dor aguda e muscular”, explica Hatano.

Um dos problemas para a falta de recomendação dessa prática é o fato de a literatura científica ainda não ter conseguido estabelecer um protocolo de quanto tempo é preciso ficar dentro da banheira de gelo para alcançar os benefícios (considerando um tempo mínimo e máximo). Isso porque ficar tempo demais dentro da água extremamente gelada aumenta o risco de hipotermia e complicações, como arritmias e convulsões.

“A temperatura na banheira de gelo gira em torno de 10 a 15°C, e o nosso corpo é regulado para uma temperatura de cerca de 36°C. Quando entramos na banheira de gelo, nossos vasos sanguíneos contraem, causando sensação de dormência, formigamento e alterações da pressão arterial”, alerta a médica.

Segundo ela, a expectativa do uso do gelo é a melhora da dor e a recuperação em curto prazo após a prática esportiva. “Você treina e usa a banheira de gelo imediatamente. Não adianta treinar hoje e fazer a banheira de gelo amanhã. Os benefícios não serão alcançados”, pontua.

Mesmo que várias pessoas estejam usando o banho de gelo em busca de benefícios, Hatano não recomenda a técnica por não atletas, especialmente sem acompanhamento. “O benefício comprovado é de curto prazo e para quem treina muito, em alta intensidade. Mas a maior parte das pessoas não é atleta e não precisa desse tipo de recuperação. A ciência ainda tenta descobrir qual o protocolo ideal, o tempo correto e a melhor indicação. Estamos atentos para não ficarmos para trás, mas é preciso ter cuidado”, pondera.

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.