Médico imunologista esclarece sobre imunidade, doenças crônicas e COVID-19

PUBLIEDITORIAL

Presidente da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia Regional Minas Gerais (ASBAI-MG), Fernando Aarestrup fala sobre a importância de manter as vacinas em dia


Por Fernando Aarestrup, médico

30/03/2020 às 07h00- Atualizada 30/03/2020 às 08h32

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“Recomendamos a imunização anual com a vacina antigripal para todas as pessoas a partir dos seis meses de idade”, diz o médico Fernando Aarestrup (Foto: Divulgação)

A pandemia provocada pelo novo coronavírus tem modificado a vida das pessoas por completo e, também, deixado muitas dúvidas em relação aos riscos que a COVID-19 pode causar em pacientes que já possuem doenças crônicas. O médico especialista em alergia e imunologia, presidente da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia Regional Minas Gerais (ASBAI-MG), Fernando Aarestrup, fala nesta entrevista sobre a importância de manter o cartão de vacinas em dia.

– Existem maneiras de aumentar a imunidade do corpo para evitar o contágio do novo coronavírus?
Infelizmente não temos como aumentar a imunidade especificamente contra o novo coronavírus. Não existe nenhum medicamento ou fórmula milagrosa capaz de ter este efeito, logo, atente-se para as fake news que são disseminadas pela Internet.

– O estresse por conta do isolamento social pode deixar o corpo mais vulnerável para doenças virais?
O estresse e a ansiedade podem alterar o que chamamos de eixo neuro-imuno-endócrino, que envolve os sistemas neurológico, imunológico e hormonal. Essas alterações podem diminuir a imunidade inata que todos nós temos. Por isso, é importante manter a calma e não entrar em pânico. Devemos seguir as orientações dos órgãos de saúde e tomar todas as medidas de controle de infecção, bem como lavar as mãos, evitar aglomerações e manter o distanciamento social.

– Por que ainda não temos vacina para o novo coronavírus?
Os coronavírus já existem há algum tempo, entretanto, a pandemia que está acontecendo é relacionada ao novo tipo de coronavírus, causador da COVID-19, uma doença para a qual as pessoas ainda não têm imunidade, e a vacina ainda precisa ser desenvolvida. Essa mesma situação aconteceu com a Gripe Influenza (H1N1, H3N2), na qual tivemos muitos casos. Depois de desenvolvida, a vacina tem sido ser aplicada todos os anos. Para o novo coronavírus, acredito que teremos uma vacina no futuro, de 12 a 18 meses.

– Existe alguma vacina contra outras doenças e que devemos tomar para ajudar o sistema imunológico?
Sim, como as vacinas que combatem doenças respiratórias, que irão proteger o nosso organismo neste momento, ajudando a não sobrecarregar o sistema imunológico com outras doenças. Imagine uma pessoa que tenha tido uma pneumonia bacteriana e foi infectada com o coronavírus. A situação, para ela, fica muito mais difícil. Recomendamos a imunização anual com a vacina antigripal para todas as pessoas a partir dos seis meses de idade. O sistema público está vacinando as pessoas do grupo de risco, como idosos e profissionais de saúde. A anti-pneumoccócica (Pneumo 13) e a HIB (Haemophilus Influenzae tipo B) são vacinas que protegem contra pneumonia bacteriana e devem ser aplicadas em pessoas acima de 50 anos e em pacientes de todas as idades com doenças respiratórias como asma e enfisema pulmonar.

– Por que diabéticos fazem parte do grupo de risco do novo coronavírus?
Os diabéticos têm uma deficiência na resposta imunológica, principalmente no que tange à porta de entrada do vírus, que são as mucosas, como nariz e boca. Também recomendamos nestes pacientes cuidados específicos como controlar rigorosamente a doença, seguir a orientação das autoridades de saúde quanto ao distanciamento social e proteção com as vacinas anti-gripal, em qualquer idade, e anti-pneumonia bacteriana, principalmente em indivíduos a partir dos 50 anos.

– Porque a COVID-19 é mais grave em idosos?
O nosso organismo envelhece como um todo. Nas pessoas acima de 50 anos, o sistema imunológico passa a ter uma diminuição gradual de suas atividades de defesa, portanto, é como se o sistema imunológico também envelhecesse, o que dificulta o combate a infecções como o coronavírus. Devido a isto, os idosos devem ter prioridade na aplicação da vacina da gripe e também possuem indicação para Pneumo 13 e HIB.

– Qual a importância das vacinas já existentes para enfrentar o período atual?
Como já falado, é preciso controlar as doenças pré-existentes e estar com as vacinas em dia. Embora a vacina contra o influenza (vacina anti gripal) não imuniza as pessoas contra o coronavírus, pois não há correlação dela para outras infecções, temos que entender que os sintomas tanto da influenza quanto do corona são semelhantes, logo, proteger contra a influenza já nos ajuda a separar os casos e facilitar o diagnóstico. Ao se proteger contra aquilo que temos vacina, não iremos sobrecarregar o sistema de saúde. Assim, vacinando contra o vírus da influenza ajudaremos o sistema de saúde no período do inverno. Lembrando que temperaturas mais baixas já causam alterações no corpo, tornando-o mais suscetível à contaminação. Além disso, o clima frio e os ambientes fechados favorecem a proliferação de doenças alérgicas e respiratórias.

– O uso de corticoides pode diminuir a imunidade?
O corticoide inalatório (as populares bombinhas) é utilizado no tratamento da asma, logo, deve ser mantido, uma vez que não baixa a imunidade do paciente por atuar diretamente nos pulmões, com pouca circulação para o resto do organismo. Pacientes com asma não podem suspender a medicação inalatória, pois o descontrole da doença é muito arriscado. A orientação feita pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Ministério da Saúde é controlar todas as doenças pré-existentes, bem como asma, diabetes e hipertensão arterial. Já o corticoide oral, ou injetável (uso sistêmico), deve ser evitado para pacientes com COVID- 19, pois facilitam a multiplicação do vírus em pessoas que já estão com a doença. Pacientes com reações alérgicas graves, asma descontrolada e doenças autoimunes como lúpus e artrite reumatoide, devem consultar o seu médico.

– Como proceder com pacientes que fazem o uso de corticoide ou outras medicações com nebulizador?
O problema nestes casos não é a medicação, mas o uso do nebulizador nesse momento de pandemia. Se uma pessoa infectada estiver utilizando o nebulizador, o risco de disseminação do vírus no ambiente é muito grande, desse modo, devemos evitar o uso desses aparelhos.

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