Ar puro para a cirurgia odontológica

PUBLIEDITORIAL


Por O2JF

25/03/2018 às 07h00

O2 JFRecentemente incluído no rol de procedimentos da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), a oxigenoterapia hiperbárica é o melhor adjuvante no tratamento das osteonecroses dos ossos maxilares. Essa medida tem permitido ganhos expressivos para os pacientes e avanços nas práticas e procedimentos cirúrgicos.

Nesta entrevista, o cirurgião-dentista e médico, Gustavo Saggioro Oliveira, especialista em implantodontia e cirurgia bucomaxilofacialdestaca como a medicina hiperbárica pode auxiliar no tratamento de pacientes submetidos à radioterapia, diabéticos e tratados com bifosfonatos. Segundo ele, a anamnese, isto é, a investigação sobre o histórico de saúde do paciente, antes de qualquer intervenção nos ossos maxilares, ganha ainda mais relevância.

Gustavo Saggioro OliveiraQuais são os casos para os quais o senhor tem indicado a oxigenoterapia como auxiliar no tratamento cirúrgico das doenças relacionadas a sua especialidade?

Indico aos pacientes que tem risco de necrose óssea decorrentes da radioterapia usada para tratar tumores malignos da cabeça e do pescoço. Por causa dela, os ossos maxilares – maxila-superior e mandíbula-inferior – ficam com pouca vascularização, devido a um efeito colateral nos vasos sanguíneos intra e extra-ósseos. Assim, um procedimento cirúrgico pode leva-los à necrose (osteorradionecrose). No ano passado, tratei mais de 40 pacientes assim. Há também a osteonecrose ou osseonecrose por uso de medicações que induzem a esclerose óssea para profilaxia de fraturas por metástases ósseas ou osteoporose. Esses medicamentos fazem parte do grupo dos bisfosfonatos. Em vista disso, um procedimento cirúrgico simples, como a extração de dentes ou mesmo um trauma(úlcera/afta) causado por uma prótese removível (Roach), pode produzir consequências desastrosas e mutilantes para os pacientes. Muitas vezes, as bactérias da boca invadem o osso necrótico e causam infecções graves (ostemielites/osterradiomielites). Dessa forma, as cirurgias ósseas intra-bucaisnos pacientes com esse histórico têm sempre indicação da oxigenoterapia hiperbárica pré e pós-operatória.

Minha conduta é sempre proporcionar um plus de oxigenação, favorecendo a formação de tecido vascular antes de qualquer intervenção.Assim, posso intervir, respeitando certos limites, nesses casos que eram anteriormente insolúveis. Nos meus pacientes que possuem o risco de osteonecrose, a oxigenoterapiahiperbárica pré-operatória foi o fator preponderante que evitou a osteonecrose, mesmo em caso de grandes cirurgias.

Como esta ação se dá de fato?

A radiação não é seletiva. Ela destrói o tumor, mas também destrói outras células normais, sensíveis e especializadas, como as das glândulas salivares e dos vasos sanguíneos.Então, o paciente apresenta sequelas pós-radioterapia com a xerostomia – a falta de saliva e a hipovascularização óssea. Isso facilita o trauma na mucosa bucal e a necrose óssea.Dessa forma, caso ocorra a osteonecrose iatrogênica ou acidental, hoje conseguimos resolver problemas que eram intratáveis, cerca de cinco a dez anos atrás. Para as osteomielites, a oxigentoreapia é também uma ótima indicação. Para pacientes diabéticos,mesmo sem histórico de uso dobifosfonato (alandronato)ou de tratamentos prévios por radiação, a profilaxia com oxigenoterapia é recomendável.

Como a oxigenoterapia pode contribuir também nas reconstruções dos ossos maxilares dos pacientes mutilados pelas cirurgias oncológicas?

Bem, na minha especialidade, realizamos dois tipos de enxertos ósseos- os livres e os vascularizados. Nestes últimos, duas equipes atuam concomitantemente para que a reconstrução seja por meio de um enxerto ósseo-músculo-cutâneo vascularizado. O enxerto é irrigado pelo sangue do paciente.  Eles são mais complexos e demorados. Já no enxerto livre, a área de ressecção de umtumor da mandíbula, por exemplo,o espaço a ser preenchido não deve ultrapassar 5 cm. Assim o fragmento ósseo retirado do paciente não possuirá vasos sanguíneos que o possam nutrir (enxerto livre ou não vascularizado). Antes da oxigenoterapia hiperbárica, osenxertos maiores que 5 cm eram contra-indicados pelo risco deisquemiar, perder volume e sumir. Por isso, fazíamos enxertos vascularizados em espaçosmaiores do que 5 cm.Mas com a hiperbárica, conseguimos colocar enxertos livres de 6 cm até 10 cm que se revascularizaram com a ajuda da alta concentração de oxigênio, além da ação bactericidaque o oxigênio exerce nos tecidos, obtendo assim uma simplificação nas reconstruções.

Quantas sessões de oxigenoterapia são recomendadas nestes casos?

O protocolo internacional é de 20 sessões antes e 10 depois, ou também 30 e 20.No mínimo sempre são 20 sessões antes. Mas é importante lembrar que a oxigenoterapia é adjuvante. Só ela não resolve. Tem que haver a intervenção cirúrgica no caso de uma osteonecrose já instalada, retirando o osso necrosado. Nunca a oxigenoterapia causará danos, mas é preciso evitar o uso indevido e o exagero, para não desgastar o paciente.

Oxigenoterapia hiperbárica

A oxigenoterapia hiperbárica é um procedimento médico com cobertura obrigatória autorizada pela ANS, sendo acessível aos pacientes de diversos convênios e planos de saúde, mediante encaminhamento médico. O oxigênio na concentração de 100% é ministrado nas câmaras hiperbáricas, em sessões diárias cujo número e tempo de duração variam conforme a extensão, o estágio e a gravidade da doença. O tratamento é reconhecido pelo Conselho Federal de Medicina, pela Agência Nacional

* A cirurgia bucomaxilofacial é uma especialidade da Odontologia relacionada principalmente ao tratamento cirúrgico das estruturas do aparelho estomatognático (grupos musculares, tecidos moles, dentes e ossos ). Procedimentos realizados em uma cavidade muito contaminada: a boca.

Para saber mais, acesse o site o2hiperbarica.com.br ou ligue 3232-5655. 

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