Colégio Agrícola de Rio Pomba: uma chama que não se apaga

PUBLIEDITORIAL


Por Ildefonso Dé Vieira, ex-aluno da Escola Agrícola de Rio Pomba

13/01/2020 às 07h00

turma toda
Ex-alunos da Escola Agrícola de Rio Pomba se reencontram todos os anos (Fotos: Divulgação)

Uma nova era econômica e social começou em Rio Pomba no ano de 1962, quando houve a inauguração da Escola Agrícola de Rio Pomba (EARP), que hoje abriga o Instituto Federal Sudeste de Minas Gerais (IF Sudeste – campus Rio Pomba). A instalação da escola foi fruto do trabalho do então deputado federal Doutor Último de Carvalho, que encontrou amparo no dinamismo do presidente Juscelino Kubitschek para tirar o projeto do papel, visto que foi um político que realizou importantes obras no país em prol da sociedade. O processo de criação da instituição passou por muitas etapas, sendo sua fundação datada em 1956 e as primeiras aulas iniciadas em 1963. Em 1964, a escola mudou o nome para Ginásio Agrícola de Rio Pomba (GARP). Dois anos depois, em 1966, a primeira turma de Mestre Agrícola foi formada e, em 1968, o educandário recebeu autorização para funcionar como Colégio Agrícola de Rio Pomba (CARP). Depois deste período, foi iniciado o Curso de Técnico Agrícola, com sua primeira turma diplomada em 1971.

A escola recebia meninos de todos os cantos do país, mas predominavam os residentes na Zona da Mata. A maioria era de crianças humildes vindas da Zona Rural. Elas chegavam por volta dos 10 anos e saiam jovens, depois dos 18. A Escola Agrícola de Rio Pomba era um internato, onde tudo era gratuito. O aluno tinha direito à moradia, alimentação, atendimento médico e odontológico, além de serviços em enfermagem. Ele recebia vestuário completo que ia do uniforme para o dia-a-dia até o uniforme de gala para ocasiões especiais, além do macacão para trabalho de campo, sapatos, botinas, coturnos e enxoval completo (roupa de cama, cobertor, lençois e toalhas).

O quadro de funcionários era formado por mestres agrícolas, ferreiros, dentistas, médicos, enfermeiros, bibliotecários, cozinheiros, auxiliar de nutrição, guardas, inspetores de alunos, serventes, eletricistas, mecânicos, carpinteiros, pedreiros, datilógrafos, motoristas, tratoristas, escriturários, assistentes sociais, cabeleireiro, entre outros, como a supersercretária Maria Marotta, considerada por muitos como a “fada madrinha” protetora dos alunos. Ela administrava com eficiência o funcionamento geral da escola.

Num tempo que não existia internet e o Google, as pesquisas eram feitas na biblioteca da escola. À noite tínhamos o “estudo dirigido” e os professores, sem receber remuneração adicional por isso, ficavam à disposição dos alunos para dirimir e sanar as dúvidas sobre as matérias lecionadas. A escola tinha uma disciplina rígida, com horários para dormir, acordar, alimentar, estudar, praticar esportes e outros afazeres. Às quinta-feiras, em frente o Prédio Central, perfilavam-se os alunos, em posição de sentido, e, após o hasteamento das bandeiras de Minas e do Brasil, todos cantavam o Hino Nacional. Esta rotina evidenciava que deveríamos respeitar os símbolos nacionais e cultivar o amor à nossa pátria. Nas comemorações da Independência do Brasil, os alunos desfilavam pelas ruas de Rio Pomba. O ponto alto da apresentação era na praça principal, que, atualmente, homenageia Doutor Último de Carvalho.

Os ensaios começavam em agosto e agitavam toda a escola. Todos queriam participar da fanfarra tocando os instrumentos. Portar estandartes e bandeiras era um privilégio! Levavam-se para o desfile tratores e maquinários agrícolas. Até o inesquecível diretor Dr. Carlos Martins Bastos marchava junto com os alunos. A Escola era chamada a desfilar em outras cidades da região, como Ubá, Tocantins e Piraúba. Estamos falando das décadas de 1960, 1970 e 1980. Se toda criança e adolescente de nosso país tivesse recebido um ensino de qualidade como o CARP proporcionou aos seus alunos, hoje o Brasil estaria entre as cinco ou seis maiores potências do mundo. A educação salva, a educação redime um povo. A educação forma uma nação. Todo brasileiro deveria ter, no mínimo, uma escola como o Colégio Agrícola de Rio Pomba para estudar.

E é por isso que os alunos saídos do CARP obtiveram sucesso nos diversos campos por onde caminharam. E mais do que preparar os alunos para desenvolver atividades e profissões diversas, a escola conseguiu formar, sobretudo, homens do bem, seres humanos, dotados de um coração repleto de gratidão pelos professores, mestres e funcionários.

Encontro anual de ex-alunos

Desde 2016, é realizado um encontro anual de ex-alunos, que acontece sempre no primeiro sábado de dezembro. É um momento de homenagens e reencontros. Além deste que ocorre em Rio Pomba, são realizados encontros intermediários em Guidoval, Juiz de Fora, Belo Horizonte e Várzea da Palma. Muitos se deslocam de grandes distâncias para partilharem o momento. Busco uma explicação e não encontro nenhuma que justifique a solidez desta irmandade, que, dispersada por mais de meio século, continua mantendo vínculos de afetividade, respeito e admiração. O tempo não ruiu e nem arruinou uma amizade construída na juventude.

dona marcotta
Aos 93 anos, dona Maria Marotta, considerada por muitos a “fada madrinha” protetora dos alunos, mais uma vez compareceu ao encontro

Acredito que as dificuldades do passado transformaram os meninos “Carpianos” em homens solidários e fraternos. E nessas reuniões têm colaborado com alguns amigos em dificuldades e APAE de Rio Pomba. As esposas também aderiram à ideia dos encontros e participam ativamente. Em 2019, nosso encontro reuniu mais de cem pessoas e, mais uma vez, Maria Marotta, com os seus quase 93 anos, compareceu para emoção e alegria de todos os presentes. Ela mantém o carisma, luz e chama de 50 anos atrás. O “The Happy Boys” com os seus jovens anciões fez a trilha sonora do evento.

A Escola se transformou num efervescente campus universitário. São nove cursos de Nível Superior, cinco Pós-Graduação (Lato Sensu) e três Mestrados (Stricto Sensu). E ainda mantém cinco cursos Técnicos (Integrados), cinco cursos Técnicos (Concomitantes e Subsequentes) e dois cursos Técnicos (Subsequentes EAD). O nosso querido Ginásio e depois Colégio se transformou num templo do Saber.

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