Santa Casa e Juiz de Fora: uma história de cuidado e carinho com a população

PUBLIEDITORIAL

Nos 170 anos de JF, a instituição relembra momentos marcantes dos quais se portou como peça fundamental no enfretamento de doenças e na manutenção de vidas


Por Santa Casa de Juiz de Fora

01/06/2020 às 07h00

Há exatos 170 anos, o então arraial de Santo Antônio do Paraibuna – importante parada do Caminho Novo, rota que ligava Vila Rica (Ouro Preto) ao Rio de Janeiro – era alçado ao posto de município, que conhecemos hoje como Juiz de Fora. Quatro anos mais tarde, nascia sua primeira instituição de saúde, a Santa Casa de Misericórdia, que esteve presente em muitos momentos, entrelaçando-se à história local, contribuindo para a assistência e o cuidado da população.

detalhe da fachada
Santa Casa foi fundada há 166 amos pelo Barão da Bertioga (Fotos: Acervo Santa Casa)

Neste domingo (31), quando comemoramos mais um aniversário de Juiz de Fora, a Santa Casa relembra momentos marcantes dos quais se portou como peça fundamental no enfretamento de doenças e na manutenção de vidas, como, por exemplo, nos episódios da cólera, da gripe espanhola e, mais recentemente, da Covid-19. “Ao longo da história da cidade, a Santa Casa esteve presente nos momentos mais cruciais das suas questões de saúde. E, hoje, quando Juiz de Fora completa 170 anos, enfrentamos mais uma vez momentos muito desafiadores e delicados”, destaca o médico presidente da Santa Casa de Juiz de Fora, Dr. Renato Loures.

Episódios endêmicos: o que contam os registros históricos

O ano de 2020 está prestes a chegar à metade e já entrou para a história como aquele em que o mundo se viu diante de uma nova guerra, cujo oponente é invisível. A pandemia provocada pelo novo coronavírus alterou a rotina das cidades, entretanto, pouco se sabe sobre como será o futuro.

A certeza que fica recai sobre a importância da ciência, da pesquisa, e de como o trabalho dos médicos, enfermeiros e demais profissionais de saúde é vital para o salvar vidas e trazer esperança por dias melhores, preceitos presente na Santa Casa desde a sua fundação, em 1854, inclusive, durante endemias que assolaram Juiz de Fora a partir do século XIX.

“Nossa fé e coragem estão sendo colocadas à prova por causa da pandemia do novo coronavírus. Mas seguimos firmes, determinados, porque essa é a nossa vocação: vencer desafios com tranquilidade. A população de Juiz de Fora sabe que pode contar com a Santa Casa, como sempre contou. Estaremos sempre aqui, trabalhando pela saúde da comunidade”, reitera o presidente da Santa Casa, Dr. Renato Loures.

Jornais e livros que contam sobre essa realidade revelam que, no passado, a proliferação de doenças graves acontecia por falta de higiene, estrutura e saneamento básico. Em Juiz de Fora, infelizmente, não foi diferente. Reportagens da época mostram que a falta de banheiros nas casas, de acesso a água tratada, esgotos a céu aberto, falta de limpeza urbana e manutenção dos córregos, além de poças d’água deixadas pelas chuvas e pelos constantes vazamentos do Rio Paraibuna, eram um prato cheio para a contaminar toda a população.

A primeira epidemia registrada em Juiz de Fora foi a de cólera, entre 1855 e 1856. Neste episódio, conforme os registros, estima-se que a doença tenha matado muitos escravos que viviam na Zona Rural, entretanto, não há números precisos, já que eles não eram contabilizados nas estatísticas oficias. Livros locais afirmam que a população de escravos neste período era formada por mais de 25 mil pessoas.

Anos mais tarde, como em 1874 e 1888, Juiz de Fora registrou outras enfermidades como a varíola e a febre amarela. Diante deste cenário avassalador, em 1889, médicos em atividade na cidade criaram a Sociedade de Medicina, uma entidade que tinha como principal missão combater as insalubridades e minimizar esses acontecimentos.

Porém, em 1894, a cidade teve uma segunda onda de cólera, que vitimou imigrantes italianos que moravam na Hospedaria dos Imigrantes, um local que chegou a abrigar cerca de 900 estrangeiros. Em 1918, a cidade foi atingida pela gripe espanhola, e a Santa Casa foi um agente fundamental no tratamento dos pacientes. A enfermidade, que acabou com quase metade da população mundial, deixou mais de 650 mortos em Juiz de Fora.

Museu da Santa Casa: um lugar de memória

Ao longo dos seus 166 anos de atividades, a Santa Casa reuniu um importante acervo histórico de peças científicas clínicas, cirúrgicas, farmacológicas e odontológicas que já não são utilizados de forma habitual. E para conservar e preservar a memória da atividade médica e filantrópica da entidade, foi inaugurado, em agosto de 2006, o Museu da Santa Casa, aberto a visitas pública mediante agendamento. No momento, em função da pandemia, o Museu está fechado à visitação. No momento, em função da pandemia, o museu está fechado à visitação.

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Visando preservar a memória da atividade médica e filantrópica da instituição, foi inaugurado, em agosto de 2006, o Museu da Santa Casa

Entre os itens que fazem parte do acervo, estão: livro sobre o tratamento de pneumonia crônica, escrito em idioma francês (1860); livro de anatomia patológica e clínica do pulmão, escrito em idioma francês (1867); livro de cirurgia da guerra moderna, com relato de vários médicos brasileiros que ocuparam os campos de batalha, demonstrando formas tratamento a pacientes feridos em período de guerra (1943); tinteiro mata borrão com recipiente em rubi, que foi utilizado em 1889 pelo Barão da Bertioga, fundador da Santa Casa; a imagem de Nossa Senhora do Carmo em Madeira, datada do século XVIII, conhecida como “Santa do Pau Oco”; máscara de Ombredonne, utilizada para aplicar anestesia geral em pacientes até no início do século XX; e prescrições de pacientes internados na Santa Casa entre os anos de 1915 e 1918.

O objetivo é mostrar à população da cidade, corpo clínico, estudantes, acadêmicos e residentes da área de saúde, o processo evolutivo da Santa Casa, transformando o museu em um verdadeiro laboratório de ensino por meio do resgate à memória dos antepassados, valorizando o conhecimento e a compreensão referente aos instrumentos e aparelhos por meio das gerações, trazendo a vivência e experiência de outros tempos.

Capela Senhor dos Passos: a primeira igreja de Juiz de Fora

Outra contribuição importante da entidade para Juiz de Fora foi a construção da Capela Nosso Senhor Bom Jesus dos Passos, que integra o conjunto arquitetônico da Santa Casa de Misericórdia. A capela foi a primeira igreja católica construída na cidade, no ano de 1840, pelo comendador José Antônio Silva Pinto, que mais tarde veio a se tornar Barão de Bertioga, idealizador e fundador da Santa Casa. Sua arquitetura típica do final do século XVIII se mistura com características neolíticas e, desde 2002, ela é tombada como Patrimônio Histórico Municipal.

Em sua construção inicial, a capela foi erguida com duas torres laterais, diferente do que se vê nos dias atuais. Desde a sua inauguração, o templo passou por inúmeras reformas, a primeira, em 1860, foi feita também pelo Barão de Bertioga, mas poucas coisas foram modificadas.

Entretanto, a segunda reforma, em 1913, trouxe profundas mudanças em sua estrutura. O projeto arquitetônico foi assinado pelo engenheiro Rafael Arcuri e eliminava as torres laterais, abrindo espaço para a torre única. Nesta reforma foram instalados os vitrais, que passaram a adornar as paredes laterais e que representam, em conjunto com os entalhes de madeira, o Calvário de Jesus e a Gruta de Nossa Senhora de Lourdes. Foram colocados, ainda, o assoalho em tábua corrida e os bancos em madeira de lei.

Com a ação do tempo, em 1986, uma nova reforma precisou ser feita para recuperar novamente a sua estrutura e instalações. As obras, sob responsabilidade do engenheiro Marcelo Azevedo Fortes, envolveram toda a capela. Em 1993, foi necessária uma nova intervenção em prol da preservação de sua história. Nesta ocasião, foram descobertas pinturas antigas, o que motivou uma restauração por completo da capela.

Desde a sua fundação, ainda no século XIX, o objetivo da capela é oferecer um espaço aonde familiares dos pacientes possam encontrar um refúgio para pedidos e orações. Missas são presididas na capela semanalmente, mas encontram-se suspensas por conta da pandemia.

166 anos de dedicação ao paciente

A Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora foi fundada em 6 de agosto de 1854 por José Antônio da Silva Pinto, conhecido como Barão da Bertioga, e por sua esposa, a Baronesa Maria José Miquelina da Silva. A instituição é a terceira mais antiga da cidade, ficando atrás somente da fundação da Vila de Santo Antônio do Paraibuna, em 1850, e da instalação da Câmara Municipal, em 1853.

fachada geral

As obras do segundo prédio do hospital foram concluídas em 2 de junho de 1898, sob a coordenação de Braz Bernardino, que havia assumido a provedoria em 1897. Nesta época, as Irmãs de Santa Catarina atuavam na administração interna da Santa Casa. Com os esforços de Braz Bernardino, de Dr. Hermenegildo Villaça e de Dr. Edgard Quinet, entre outros, o hospital desenvolveu-se e pôde ampliar suas acomodações, modernizar seus serviços e munir-se de materiais e de aparelhamentos, o que permitiu alargar sua atuação e seu programa de benefícios.

No ano de 1903, foi construído o jardim que fica na frente do hospital, com planta fornecida pelo engenheiro João Lustosa. Em 1911, a Santa Casa contava com vários pavilhões e, neste ano, foi construída uma nova sala de operações. Em 1913, mais uma enfermaria foi construída para melhor atender aos pacientes. Com o passar dos anos e a ampliação dos serviços, a construção de um novo edifício tornou-se inevitável. Foi então que, em julho de 1942, na gestão do provedor Alberto Andrés, foram assinados os desenhos originais do atual prédio da Santa Casa.

Investimentos feitos em prol da modernização, de melhorias, qualidade e segurança aos pacientes seguem de forma constante e, nos dias atuais, a Santa Casa é considerada o maior hospital da Zona da Mata, tendo alcançado importantes certificações como Iso 9001; Acreditação com Excelência da ONA – Organização Nacional de Acreditação; Iniciativa Hospital Amigo da Criança, idealizada pela OMS – Organização Mundial da Saúde – e pelo UNICEF; e Hospital de Ensino, pelos Ministérios da Saúde e Educação.

Logo Santa Casa

Endereço: Avenida Rio Branco, 3.353
Telefone: 3229-2222
Site: www.santacasajf.org.br
Facebook: SantaCasaJF
Instagram: santacasajf

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