Iniciativas de Juiz de Fora valorizam potencial das plantas nativas na geração de renda
Além de serem fundamentais para o ecossistema, espécies como palmito-juçara e pimenta-de-macaco podem ser aliadas nas áreas da saúde e economia
Apesar de serem, muitas vezes, desconhecidas pela população, as plantas nativas estão presentes no nosso dia a dia, como os ipês, a palmito-juçara e a ora-pro-nóbis. Além da importância para o ecossistema, essas espécies podem ser verdadeiros aliados para a saúde e a economia, a partir de um manejo sustentável.
Com o avanço das áreas urbanas, o conhecimento tradicional sobre essas plantas foi sendo perdido, por isso, projetos voltados para a preservação e o uso consciente são fundamentais. É o que tem acontecido em Juiz de Fora: iniciativas buscam valorizar o potencial das plantas nativas, ao mesmo tempo em que promovem geração de renda.
Palmeiras-juçara no Jardim Botânico da UFJF (Foto: Hélcio Lavall)Em homenagem ao Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado na última quinta-feira (5), o Tribuna Cast, podcast da Rádio Transamérica, falou sobre o potencial ambiental, social e econômico dessas espécies. O episódio vai ao ar na manhã desta sexta-feira (6) e pode ser escutado no Youtube da Transamérica.
O programa contou com a participação de profissionais que trabalham diretamente na preservação e no manejo sustentável dessas espécies, sendo eles: Renata Mendes, fundadora da startup NAtiva que busca soluções inovadoras para a saúde e bem-estar a partir da biodiversidade brasileira; Breno Motta, diretor do Jardim Botânico da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e integrante do projeto AMA-Juçara – Açaí da Mata Atlântica; e Theodoro Guerra, presidente da Associação pelo Meio Ambiente de Juiz de Fora (AmaJF) e colaborador do projeto Carbono Zero, uma iniciativa que incentiva produtores rurais a fazerem o reflorestamento de áreas na Zona da Mata Mineira.
De acordo com Breno, as plantas nativas ocorrem naturalmente em uma determinada região geográfica, onde se adaptam ao terreno e ao clima. Dessa forma, elas demandam menos manutenção, já que estão habituadas com as condições bioclimáticas do local onde estão inseridas. Em Juiz de Fora, temos os ipês como exemplo de espécies nativas além da palmeira juçara, famosa por produzir o açaí da Mata Atlântica, e da imbaúba, que fornece alimento para vários animais, como o bicho preguiça. Porém, o biólogo lamenta a perda de uso dessas plantas. “Nós temos o hábito de utilizar muitas plantas exóticas, que também são interessantes, mas precisamos priorizar as nativas também.”
O Jardim Botânico tem uma área de 85 hectares, sendo cerca de 70 hectares são de floresta preservada. “Uma das nossas missões é manter de pé essa floresta, fazer a conservação da sociobiodiversidade junto com um trabalho de educação ambiental que vise despertar uma consciência ecológica nos visitantes.”
O espaço abriga muitas dessas espécies na cidade, como cambucá, grumixama, araçá e cereja-do-Rio-Grande. “Em um espaço relativamente pequeno, temos várias espécies nativas que poderiam ser cultivadas com esse fim econômico também. E, geralmente, são plantas cujos frutos acabam sendo um pouco mais caros porque você não tem uma produção extensiva. Então, temos sim formas de alcançar esse retorno econômico a partir das plantas nativas.” Por isso, o Jardim Botânico oferece oficinas para capacitar produtores rurais, mostrando possibilidades de criar sistemas agroflorestais.
Plantas nativas podem ajudar na prevenção e no tratamento de doenças

Renata depende dessas espécies para trabalhar. Atualmente, a NAtiva faz uso da pimenta-de-macaco, que possui um forte potencial terapêutico e pode substituir também a pimenta do reino na culinária. “As plantas estão ao nosso redor. Elas fazem parte da nossa alimentação, são utilizadas como plantas medicinais. No entanto, com o passar do tempo, essas plantas e até mesmo o uso tradicional delas tem sido perdido tanto pela urbanização – a Mata Atlântica é a mais desmatada de todos os biomas, como também pelo costume das pessoas de muitas das vezes priorizar plantas que são cultivadas e exóticas.”
Após mais de 15 anos de estudo, a NAtiva descobriu bioativos a partir dessas plantas que colaboram para prevenção e tratamento de doenças. O principal desafio, segundo Renata, é conseguir estruturar cadeias produtivas de qualidade, que possam fornecer essas plantas que serão transformadas em produtos para saúde e bem-estar. “Não adianta eu desenvolver um produto fantástico dentro do laboratório e quando eu precisar da escala para colocar aquele produto no mercado, eu não tenho uma cadeia produtiva fortalecida para garantir o seu fornecimento.” Por isso, ela defende a capacitação de produtores rurais para o reflorestamento de áreas com espécies nativas, para que seja possível recuperar florestas, nascentes, fauna e, também, ter uma renda.
Apesar de desafios, espécies possuem potencial econômico

Apesar das dificuldades de ganhar dinheiro na área ambiental, Theodoro trabalha há 30 anos descobrindo oportunidades para incentivar e estimular o produtor rural. O Projeto Carbono Zero, em parceria com o Mercado Livre, faz com que o produtor tenha um retorno econômico nessa área por meio de crédito de carbono através de áreas reflorestadas com espécies nativas. “Mas, ainda é um negócio muito incipiente. Hoje em dia, por exemplo, para você ter uma ideia, temos projetos que o produtor recebe, por hectare, 300 reais por ano. Se ele for comparar com outras atividades que ele pode desenvolver no campo e se for comparar, mais importante ainda, com a especulação imobiliária, ele vai ficar decepcionado. Temos que trabalhar mais esse aspecto financeiro de retorno econômico ou de serviço ambiental que ele possa desenvolver na sua propriedade. Esse é o desafio, e é nessa linha que nós estamos trabalhando ao longo desse período.”
Nesses cinco anos de projeto, áreas que eram de pastagem já apresentam regenerantes nativos hoje. Theodoro comenta que árvores que foram plantadas dois anos atrás, já cresceram o suficiente para a restauração ser considerada efetivada. “O crédito de carbono nada mais é que a árvore crescer e incorporar carbono dentro dela, retirando a atmosfera principalmente.” A iniciativa atua nos municípios de Juiz de Fora, Chácara, Lima Duarte, Olaria, Orvalho, Coronel Pacheco e Bom Jardim de Minas.