Moradores transformam área de descarte irregular em pomar público
Há 20 anos, vizinhos se uniram para revitalizar área de cerca de 500 metros nas margens de uma ferrovia e, hoje, pessoas de vários bairros da cidade vão até lá para colher as frutas
Se você passar pela Rua Maria Eugênia, no Bairro Araújo, nesta época do ano, vai encontrar parte da rua colorida em tons de rosa. O responsável pelo feito é o pé de jambo, com frutos ricos em nutrientes e belas flores, que dão o tom vibrante no chão. Mas se você passasse pelo mesmo lugar 20 anos atrás, provavelmente não iria reconhecer. Em 2001, os moradores da Zona Norte de Juiz de Fora se uniram para transformar um espaço que estava sendo usado para descarte irregular de lixo em um pomar público. Centenas de árvores foram plantadas ao longo de 500 metros das margens de uma malha de ferrovia, que estava abandonada, e, hoje, oferecem à população ao redor uma variedade de frutas.
A iniciativa foi idealizada por Vanderlei Tomaz, Milton Silva, Alexandre Valério, Sérgio Berg e Lúcio Santos, que deram os primeiros passos no que viria a se tornar o primeiro pomar público de Juiz de Fora. Anos depois da primeira semente plantada, o pomar continua dando frutos e sendo bem cuidado pelos idealizadores junto com outros moradores que começaram a colaborar depois. Aos finais de semana, eles se reúnem para fazer a manutenção.
“Eu cresci num bairro em que praticamente toda casa tinha jardim e pé de fruta. Depois as casas foram sendo demolidas, dando espaço para casas maiores, mais modernas, e isso se perdeu. Nós tivemos a honra de fazer um espaço verde nas margens da ferrovia de contemplação, colheita e plantio na própria rua, com frutas que você não encontra com facilidade no mercado”, diz Vanderlei.
O projeto foi reconhecido com um prêmio de ecologia da Associação pelo Meio-Ambiente de Juiz de Fora (AMAJF). A maioria das espécies plantadas é frutífera, como acerola, pitanga, goiaba, manga e abacate. Além do plantio em si, a iniciativa contribui para outros fatores ambientais. Os moradores explicam que os trechos gramados do passeio permitem que a água da chuva seja absorvida pelo solo, diminuindo o volume direcionado às redes de captação pluvial, reduzindo o risco de enchentes na região.
Projeto incentiva união entre vizinhos
Antes do projeto, era comum ver lixo, entulho de construção e mato alto na ferrovia. Com o objetivo de mudar a paisagem urbana e promover uma melhor qualidade de vida aos vizinhos, os moradores fizeram um trabalho voluntário de revitalização, sem apoio de órgãos públicos ou privados, pensando também nas novas gerações. Para além da questão ambiental, os moradores destacam que a ação tem importância social ao unir a comunidade, resgatando a convivência entre vizinhos, que se tornou algo raro com a rotina corrida da atual sociedade, e despertando o sentimento de pertencimento.
Vanderlei conta que muitos moradores de outros bairros da cidade, até mais distantes do Bairro Araújo, vão até a Rua Maria Eugênia à procura dos frutos e das folhas do pomar. Ele já viu pessoas atrás de graviola pelos benefícios que a fruta gera à saúde e em busca de folha de canela para fazer arroz doce. “Uma senhora me disse que precisava de graviola para tratamento fisioterápico e o único espaço público que encontrou foi aqui. Outra pessoa fez arroz doce com ingredientes do pomar e depois trouxe para a gente experimentar.”
Renata Cosso mora de frente para o pomar e acompanhou todo o processo do projeto ambiental. “Aqui era uma área de bota-fora, o pessoal jogava muito entulho e, quando chovia, tinha muita lama e alagava. Agora, com as árvores cheias de frutas, ficou ótimo. Todos respeitam, cuidam e colhem”, comenta a moradora.
Semente que se multiplica
Além do pomar, outro espaço que recebeu transformação dos moradores foi a Rua Olímpio Costa, na esquina com o Acesso Norte, também no Bairro Araújo. Segundo Vanderlei, a presença de lixo e entulhos era constante, e a população começou a notar a proliferação de casos de dengue causados por água parada em tampa e garrafa de PET. A partir daí, o grupo de moradores decidiu se juntar para fazer a limpeza do terreno. Hoje, ninguém joga mais lixo lá.
“Quando percorremos a cidade é possível ver vários espaços degradados. Por mais que a Prefeitura realize ações de limpeza, as pessoas não colaboram. Então, quisemos fazer algo diferente, um espaço coletivo, que servisse de exemplo para quem mora aqui.”