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Sala de Leitura entrevista Michele Valle, organizadora e uma das autoras da antologia “Juiz de Fora: contos em cantos”

Por Marisa Loures

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Michele Valle é organizadora e uma das autoras de “Juiz de Fora: contos em cantos”, livro lançado, pelos membros da Leia-JF, para homenagear o berço de Murilo Mendes, que, neste ano, celebra 174 anos (Foto: Divulgação)

Quando prefaciei o livro “Juiz de Fora: contos em cantos”, lá em 2021, escrevi que sempre gostei de ler e de ouvir histórias. Aquelas que são bem contadas, que nos aprisionam, que nos provocam. A publicação da Liga de Escritores, Ilustradores e Autores de Juiz de Fora, gestada para homenagear a nossa cidade e disponível, desde então, na Amazon, reuniu, naquele ano, vinte vozes que, assim como eu, tenho certeza, também sentem esse encantamento por boas narrativas. 

Naquele momento, a obra nascera em formato e-book, já que o período pandêmico acabou dificultando a realização de ações mais ousadas. No entanto, o desejo de levar as produções para um livro físico permaneceu como um projeto, que, agora, nos 174 anos da Princesinha de Minas, realiza-se. Na próxima segunda-feira, às 19h, na Câmara Municipal, os escritores Adriana Gamellas, Alice Gervason, Alberto Pinto, Artur Laizo, Avani Fátima Fernandes Gorne, Déa Araújo, Denise Doro, Fernando Raine, J.R. Amorim, José Heleno, Luciane Fontes, Marcela Hallack, Maria Aparecida R. Lacerda, Maria Elizabeth Sacchetto, Marisa Timponi, Marisélia Souza, Michele Valle, Paulo Bergo, Telma Regina, Rita Almeida, Rosângela Rossi, Vanda Ferreira e Wagner Lacerda se encontram para o lançamento de “Juiz de Fora: contos em cantos” (Provérbio Editora). Outra novidade é que o livro contará com oito narrativas inéditas.

“Nossa intenção é proporcionar ao leitor a possibilidade de se familiarizar com os pontos turísticos da cidade. Fazer com que as pessoas tenham imaginação e que, ao passar pelos locais retratados, consigam imaginar as histórias que lá acontecem. Que elas percebam que esses lugares não são apenas estruturas físicas. Desejamos que os textos mexam com as pessoas de alguma forma”, afirma Michele Valle, vice-presidente da Leia-JF e organizadora da antologia.

Por meio dos contos, passeamos por bairros, como Santa Helena, Grama, São Benedito, Linhares e Cascatinha. Também revisitamos a Praça da Estação, o Cine-Theatro Central, a Usina Hidroelétrica de Marmelos, o Parque da Lajinha e outros pontos que serviram de cenário para as criações dos autores e autoras. Michele ressalta que, nos escritos, você, leitor, vai encontrar de suspense a romance, passando pelo humor. E já adianto que alguns lugares surpreendem pelos mistérios e tradições.

“Os textos têm a identidade de cada autor. Lemos o do Artur Laizo, por exemplo, e conseguimos reconhecer a escrita dele. Identificamos a presença do suspense e do terror. Já no caso da Marisa Timponi, nas primeiras linhas, identificamos uma narrativa poética bem voltada para Murilo Mendes.” 

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Capa do livro (Foto: Divulgação)

“Falta ao município reconhecer o trabalho de uma liga”

Foi em setembro de 2023 que o projeto da obra física voltou a ser discutido. O assunto surgiu enquanto os membros da Leia-JF participavam da Bienal do Livro do Rio de Janeiro. Michele conta que, desde o início, ficou definida a ideia de o lançamento ocorrer em maio, mês do aniversário de 174 anos de Juiz de Fora, na Câmara Municipal. “Achamos essa escolha bem emblemática, já que nossa intenção é homenagear a cidade.”

A única exigência feita por ela é que os autores e o editor pertencessem à Leia-JF. “Acredito que seja uma forma de homenagear, também, esses autores. Celebrar a representatividade deles frente à Liga de Escritores”, dispara, bradando por mais visibilidade para a entidade. “Atuar de maneira independente no Brasil é extremamente difícil, e o intuito da Liga é um ajudar o outro. Não temos ajuda financeira do município nem do estado. Hoje, todo o trabalho realizado por nós fica por conta de cada autor”, comenta, para logo apontar que falta ao município reconhecer o trabalho de uma liga. “A gente vai a escolas municipais e estaduais gratuitamente, faz contação de histórias e oficinas. Falta esse olhar para a Liga.”

A força de uma mulher

A Santa Casa de Misericórdia, onde Michele Valle trabalha, foi o local escolhido por ela para ambientar o conto “A força de uma mulher.” Inspirada em casos reais, a narrativa retrata um caso de violência doméstica e se distancia do suspense e do terror, gêneros que a autora conhece bem. “É um texto mais atual do que parece. Nele, relato a luta de uma mãe para fazer justiça, porque ela quer provar que o genro é culpado pelo estado em que a filha se encontra. Envolve um pouco de espiritualidade, porque, enquanto o marido da filha fica impune, é na espiritualidade que essa mãe encontra forças.”

A autora reconhece que o texto vai incomodar muita gente. “Vai causar um incômodo porque foge um pouco do padrão ao que estamos acostumados nesses casos”, diz ela, destacando que os personagens dessa narrativa, bem como de todas as outras, remetem à força de Juiz de Fora. “Uma força acolhedora”, assevera. “O relato é sobre uma juiz-forana que vive em Juiz de Fora. Ela encontra uma rede de apoio formada por pessoas de Juiz de Fora. Tem a Santa Casa, que é um ponto referencial para a nossa cidade.”

Mesmo com a publicação física, o e-book continua à venda na Amazon. Quem quiser participar do lançamento, o evento será aberto ao público. Na ocasião, escritores, prefaciadora e editora receberão uma moção de aplauso. 

Marisa Loures

Marisa Loures

Marisa Loures é professora de Português e Literatura, jornalista e atriz. No entrelaço da sala de aula, da redação de jornal e do palco, descobriu o laço de conciliação entre suas carreiras: o amor pela palavra.

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