Cenário político
A presença de outsiders no debate sucessório não causa surpresas, sobretudo após uma operação tão expressiva, como a da Lava Jato, que revelou os bastidores da política e desconstruiu as biografias de notórios próceres partidários. Por conta disso, há um claro processo de descolamento com a política, com pré-candidatos se mostrando como personagens que não estão “contaminados” pelo jogo formal dos partidos, e partidos que se apresentam com propostas distantes do lugar comum. Foi nessa onda que São Paulo elegeu o empresário João Doria, com um discurso de empreendedor; em Belo Horizonte, sob o mesmo viés, foi eleito o ex-presidente do Atlético Mineiro Alexandre Kalil, que fez um discurso antipolítico e ainda mantém uma postura infensa ao debate, sobretudo com a Câmara Municipal. Os críticos, no entanto, acentuam que ambos estão fazendo política, embora não assumam.
Lula e Alckmin
O ex-presidente Lula (PT) e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), já perceberam esse tipo de articulação e – cada um ao seu modo – tentam desmobilizar esse discurso. Lula, falando da possível candidatura do apresentador Luciano Huck, disse que está doido para enfrentar um candidato chancelado pela Rede Globo. Trata-se de uma estratégia em que se coloca contra a poderosa rede, que pode lhe angariar simpatias. Alckmin, mais discreto, desestabilizou a candidatura de João Doria a presidente. Oficialmente não moveu peças, mas deixou seu colega ser vítima do próprio discurso e da inexperiência. Doria jogou a toalha e já admite disputar o Governo do estado. Mesmo assim, se tiver o apoio do atual governador.
Outsiders
O cientista político Paulo Roberto Figueira, da Faculdade de Comunicação da UFJF, destaca que, pelo mundo afora, “depois de grandes crises do sistema político, frequentemente se abrem perspectivas eleitorais para os que se apresentam como outsiders. Depois da operação Mãos Limpas, na Itália, veio Berlusconi, por exemplo. Depois da grande crise do Governo Sarney, veio Collor. Já na atual crise brasileira, São Paulo elegeu Doria e Belo Horizonte, Kalil – ambos apresentando-se falsamente como não políticos”, destacou. Em 2018, a situação não deve ser diferente.
Balão de ensaio
O professor Paulo Roberto evita prognósticos, sobretudo na política em que os fatos são de grande fluidez, mas admite que haverá espaço significativo no país para quem se apresentar com a narrativa de outsider. “Se alguém com esse perfil vai ganhar ou não é impossível dizer agora, mas há um espaço eleitoral de posição relevante para alguém com esse discurso. É certo, porém, que o quadro não ficará claro, em termos de opções reais, antes de sabermos se Lula será candidato ou não Eleição com Lula é uma – provavelmente, nela, Lula e outro nome estarão no segundo turno, a julgar pelas pesquisas de hoje. Uma eleição sem Lula é outra, muito mais imprevisível. Enfim, nesse momento, temos muito mais especulação e balão de ensaio do que certeza sobre os nomes que constarão na urna em 2018.”