A moda pode ser efêmera, mas há criações que resistem ao tempo e ganham ainda mais sentido com ele. É o caso da Kayauê, que há mais de 40 anos produz bolsas, mochilas e acessórios em couro legítimo com uma atenção rara ao detalhe – e ao afeto.
A história da Kayauê começa ainda na juventude de Lílian Batitucci, fundadora da marca, que cresceu nos bastidores de uma fábrica de calçados. “Com 18 anos, montei minha primeira empresa. Sempre fui movida por esse amor pela criação”, lembra ela. Desde então, o couro natural tornou-se não apenas matéria-prima, mas identidade da marca. “Ele garante durabilidade, qualidade e confiança. Mesmo com a onda dos materiais sintéticos, nunca abrimos mão do couro.”
Mais do que estilo, as bolsas da Kayauê carregam histórias. São peças que atravessam décadas, armários e gerações. “Tem gente que conta que o primeiro presente da adolescência foi uma Kayauê. E tem cliente que ainda usa uma bolsa feita há mais de 20 anos.”
Lílian aposta em modelagens atemporais, longe das chamadas “modinhas”. “É como amor e família: a gente quer que dure.” Ainda assim, não se desconecta do ritmo do presente. A Kayauê tem investido em técnicas manuais como o tressê, o que garante a exclusividade de cada bolsa. “Mesmo dois modelos iguais nunca saem exatamente iguais. Cada peça tem o toque de quem a fez.”
O couro de pirarucu, peixe que dá origem a uma pele resistente, também ganhou espaço recente na produção. Além da beleza única da textura, o pirarucu é curtido de forma orgânica, em uma empresa parceira localizada pertinho de Juiz de Fora, em Três Rios, que combina alta tecnologia e respeito às tradições ancestrais amazônicas.

Tendências em alta
A Kayauê também está atenta às tendências que movimentam o cenário da moda atual. As bolsas com franjas – referência ao estilo boho chic – marcam presença nas coleções recentes da marca. O próprio couro de pirarucu, super em alta nesta temporada, aparece em versões nas cores verde, chocolate e caramelo.
A paleta segue em sintonia com o inverno: verde militar, malbec e tons terrosos como chocolate, café, bege e whisky.

Produção local e artesanal
‘Designer’ das próprias bolsas, Lílian também convida outros estilistas, como um recente profissional argentino, para colaborações pontuais que oxigenam o processo criativo sem abrir mão do DNA da marca.
Toda a produção da Kayauê é feita em Juiz de Fora, por uma equipe de 25 pessoas. Em um cenário de retração industrial, Lílian mantém firme o compromisso com o trabalho local, ainda que os desafios sejam muitos. “Montamos quase uma escola aqui dentro. Trago gente de fora para ensinar e manter vivo esse saber artesanal.”
No momento em que a moda questiona seus próprios excessos, marcas como a Kayauê provam que tradição, memória e sustentabilidade podem – e devem – andar juntas.
FICHA TÉCNICA
Looks: Kayauê
Modelos: Stella Morelo/Débora Carvalho/Ana Paula Bartocci
Fotos: Laís Machado/Anderson Esteves / Isabela Quinet