Quadrinhos imaculados, pero no mucho

Por Júlio Black

sala imaculada capa

Oi, gente.

A paternidade – sempre ela – tem me tornado mais seletivo quanto à leitura de livros e quadrinhos, tanto pela questão do tempo quanto pela $$$. Por isso, as visitas às bancas, livrarias e lojas especializadas se tornaram mais raras, é preciso selecionar o que comprar e ler. Mas às vezes ainda faço uma compra às cegas – e no caso de “Sala Imaculada”, da Vertigo, valeu a pena.

Para começar, é uma série de curta duração: são apenas 18 edições (dezembro de 2015 a junho de 2017), divididas em três volumes (dos quais dois já foram publicados pela Panini). Não é preciso se preocupar com a besta-fera da continuidade, só curtir o inusitado da história. E também tem uma dupla boa: a já conhecida Gail Simone (“Red Sonja”, “Mulher-Maravilha”, “Aves de Rapina”, “Deadpool”, “Batgirl”) nos roteiros e Jon Davis-Hunt (“Juiz Dredd”, e também designer de jogos eletrônicos como “Forza Horizon”) como o ilustrador.

A oportunidade de produzir um trabalho autoral, longe dos heróis mainstream, resulta em uma HQ interessante da roteirista e, principalmente, com múltiplos toques de terror, suspense, violência, erotismo e surpresinhas. De acordo com Gail Simone, fruto de suas observações das inúmeras seitas e cultos espalhados pelos Estados Unidos, em que situações de abuso, assassinato e suicídio não são raros. É também uma HQ essencialmente feminista e feminina, com as principais personagens sendo mulheres.

É a trajetória de duas delas, prestes a colidirem, que conduz a trama. Uma delas é Astrid Mueller. Quando criança, ela foi duplamente atropelada por um motorista de caminhão inesperadamente surtado. Ao sobreviver, ela começa a ver coisas que mais ninguém consegue: criaturas extradimensionais que invadem os corpos humanos com objetivos sinistros, muito sinistros. Por conta disso, ela se torna uma escritora de livros de terror genérico antes de alcançar a celebridade como a criadora e líder da Fundação Mundo Sincero, misto de seita e serviço de autoajuda que conta com milhões de seguidores, incluindo boa parte do showbiz, e capaz de controlar a mídia com mão de ferro e conexões em diversos setores.

A outra é a jornalista Chloe Pierce, que tem todos os motivos do mundo para desconfiar da Fundação Mundo Sincero. Seu noivo se tornou um fiel seguidor da seita, mas se matou com um tiro na cabeça depois de receber um misterioso pen drive da organização. A tragédia faz com que ela também tente o suicídio, mas sobrevive, e a partir de então também começa a ver as mesmas criaturas que Astrid, porém sem entender do que se trata. Ao sobreviver, ela descobre que o noivo foi mais um de uma longa lista de pessoas que morreram após entrar para a Fundação.

O desejo de desmascarar Astrid faz com que as duas se conheçam, e apesar de toda a desconfiança, ela descobre que Mueller, na verdade, carrega não apenas um grande fardo, mas também que montou sua organização com o objetivo de proteger o mundo desse monte de criaturas malignas, que estão espalhadas por todos os lados. Cada edição traz uma nova surpresa, incluindo um monte de nudez, sangue, violência gráfica e criaturas que parecem saídas da cabeça do escritor de terror H. P. Lovecraft.

“Sala Imaculada” é uma ótima e viciante história, que se vale de uma trama direta, sem rodeios, fácil de assimilar até mesmo por neófitos e que nos deixa com vontade de pular imediatamente para o próximo número. A isso se junta o excelente trabalho de Jon Davis-Hunt, artista inglês que leva para a série um traço limpo e de enquadramentos pouco usuais nos quadrinhos americanos, uma boa surpresa a cada página. Para quem gosta de ir além dos vigilantes fantasiados, ainda dá tempo de conferir.

Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

Júlio Black

Júlio Black

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