‘River’: Mas que minissérie, senhores! (E ainda tem música da Tina Charles)

Por JÚLIO BLACK

Oi, gente.

Eu já tinha lido há alguns meses críticas entusiasmadas a respeito de “River”, minissérie policial da BBC que faz parte do catálogo da Netflix, mas faltava tempo e oportunidade. Daí que a oportunidade surgiu há cerca de duas semanas, quando A Leitora Mais Crítica da Coluna e Antônio, O Primeiro de Seu Nome, partiram para o Principado de Andrelândia e a maioria das séries que acompanho estavam devidamente atualizadas. Foi hora deste seu amigo (e o Imperador Django) abrir o sofá-cama e iniciar a maratona de seis episódios. E que minissérie, senhoras e senhores, que minissérie!

O personagem principal é John River (Stellan Skarsgard), detetive nascido na Suécia mas que trabalha para a polícia de Londres. O sujeito é competente até dizer chega, resolvendo cerca de 80% dos casos, mas extremamente fechado, de poucos amigos, considerado excêntrico – e até mesmo louco – pela maioria dos colegas. O motivo? Ele conversa com gente morta; aliás, não “gente morta”, mas sim pessoas que ele imagina que estão ali, desde vítimas de casos que ele investiga a suspeitos, e um psicopata que viveu no século XIX e que age como sua consciência.

É neste fio da navalha entre realidade e esquizofrenia que trafega John River, obcecado em descobrir quem matou sua parceira, Stevie (Nicola Walker), ao mesmo tempo em que enfrenta a desconfiança de quem está a sua volta, que não entende como um sujeito que fala com o nada pode continuar na Polícia. Essa instabilidade emocional é muito bem utilizada pela criadora da minissérie, Abi Morgan, pois enquanto a trama se desenrola a “personalidade” das pessoas que River imagina ver vai se modificando de acordo com as descobertas feitas à medida que a investigação vai mais a fundo no crime, que esconde um rastro de corrupção, imigração ilegal e outras reviravoltas realmente inesperadas. O próprio personagem mostra o quanto esse conflito realidade/delírio afeta a sua conduta, que vira uma montanha-russa de emoções que podem ir da simpatia contida à fúria indomável.

Se a história é boa, o elenco é um show à parte. Stellan Skarsgard, o ator favorito de Lars Von Trier (e o Dr. Eric Selvig nos filmes da Marvel), mostra porque é considerado um dos grandes atores da atualidade. Suas atuação como John River é arrebatadora, mostrando um homem amargurado, transtornado pelos problemas psiquiátricos, ciente do dever e com uma relação mal resolvida com a parceira defunta, captando todas as nuances da personalidade do detetive. A Stevie de Nicola Walker é divertida, sensual, dissimulada (pelo menos aos olhos de River) e com um terrível segredo a ser revelado; seu novo parceiro, Ira (Adeel Akhtar), faz de tudo para conquistar sua amizade, e até mesmo finge ignorar os surtos esquizofrênicos; a chefe, Chrissie (Lesley Manville), com quem mantém uma amizade de anos, é sua principal linha de defesa na delegacia, e ao mesmo tempo sofre por ver seu casamento desmoronar devido à distância que ela e seu marido, que é juiz, impuseram um ao outro.

“River” é das melhores produções que surgiram na TV nos últimos tempos, com uma trama densa, inteligente, bem amarrada e que entrega vários segredos no decorrer dos capítulos, e mesma assim tem muito a revelar em seu desfecho. Se tudo isso não for suficiente para o ah migo leitor e a ah miga leitora darem uma chance para “River”, a minissérie toca “I love to love”, da Tina Charles, no primeiro e último episódios, o que deixa a gente muito feliz.

Ah, e a quinta temporada de “The americans”, a melhor série de TV do universo, estreou no Fox1. E já começou chutando todas as bundas. Nem preciso dizer que é imperdível.

Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

Júlio Black

Júlio Black

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