Precisamos conversar sobre ‘Esquadrão Suicida’

Por JÚLIO BLACK

Oi, gente.

Eu fiquei decepcionado, triste mesmo, por “Esquadrão Suicida” ser um filme tão ruim depois de tantas notícias e trailers promissores. O longa-metragem da Waner/DC é uma tragédia cinematográfica, que desde já pode figurar na lista de piores adaptações de HQs para o cinema neste milênio, da qual fazem parte bombas como “Mulher-Gato”, “O Justiceiro”, “O Justiceiro: Zona de Guerra”, “Lanterna Verde” e os três filmes do Quarteto Fantástico. Uma verdadeira Galeria da Infâmia em película.

O filme com os vilões da DC, convenhamos, tinha tudo para ser bom. O diretor era David Ayer, de “Corações de Ferro”; Will Smith, Margot Robbie, Viola Davis e Jared Leto estavam no elenco; o Batman iria aparecer; o Queen estava na trilha sonora; e o filme reunia uma meia dúzia de vilões da DC (incluindo o Coringa), o que permitiria à Warner não ter que aliviar a mão depois da polêmica que foi Superman matar o General Zod em “O Homem de Aço”.

Só que muita coisa deu muito errado no meio do caminho. “Batman vs. Superman” não chegou ao bilhão de dólares esperados pelo estúdio, ao contrário do concorrente “Capitão América: Guerra Civil”, e muita gente criticou o filme por vários motivos (roteiro confuso, Lex Luthor maluquete, Apocalypse desperdiçado, Superman com empatia zero). Houve ainda o “efeito ‘Deadpool'”, com o filme do Mercenário Tagarela faturando quase o mesmo valor na bilheteria – e a um custo muito inferior – que “BvsS”, graças a um personagem tresloucado, suas piadas infames e violência absurda – e classificação etária elevada.

Foi então que a Warner correu para refazer muita coisa em “Esquadrão Suicida”, tentando emular a concorrência e mudando o tom do filme, apresentando duas versões da produção em sessões-teste, sendo uma a original e a outra com as modificações – e a segunda foi a escolhida para ir à tela grande, então fica a dúvida se o primeiro corte era ainda pior ou se o público entrou em um estado de insanidade temporária. O resultado é que o longa padece do mesmo mal que o encontro do Batman com Superman: filmou-se tanta coisa, mas tanta coisa, que a história fica à beira da falta absoluta de sentido.

O longa pode ser resumido como duas horas de um verdadeiro “oito ou oitenta”: alguns personagens (Arlequina, Pistoleiro e Diablo) chegam a ser razoavelmente desenvolvidos, mas a maioria não; a história não tem coesão ou uma continuidade satisfatória; os membros do Esquadrão não metem medo em ninguém e raramente possuem uma empatia razoável entre eles; a apresentação dos personagens, com aqueles “cartões” que mais parecem saídos de um Supertrunfo psicodélico, são ridículos; canções pop são jogadas a cada minuto, até ficarem irritantes; a missão do grupo dura praticamente dois terços da projeção, a ponto do espectador desejar que os “vilões-vilões” matem todo mundo e o filme termine logo; e a trilha sonora é irritantemente alta nas cenas de ação.

A questão do Coringa merece um parágrafo à parte. Quando foi anunciado que o personagem estaria no filme e o versátil Jared Leto seria o intérprete, todo mundo quis saber o que ele faria para não ficar à sombra do que Heath Ledger aprontou em “Batman – O Cavaleiro das Trevas”. Leto consegue defender com dignidade o papel, mas a gente quer saber de onde o David Ayer tirou a ideia de que o Coringa é um cruzamento de rapper gangsta com Scarface. O Palhaço do Crime pouco aparece no filme, e a verdade é que sua participação sequer é fundamental para a trama, assim como a do Batman. Pelas cenas que aparecem no trailer e não no filme, dá para perceber que ele poderia ser muito melhor aproveitado.

Até agora, a Warner já realizou três filmes dentro do seu universo cinematográfico para os quadrinhos, e nenhum deles chegou perto da unanimidade. Com cinco longas sendo filmados ou próximos do horizonte (“Mulher-Maravilha”, “Batman”, “Liga da Justiça”, “Flash” e “Aquaman”), o estúdio ainda pode ter o mesmo sucesso da Marvel, mas a margem de erro vem diminuindo. Numa comparação com o tiro com arco das Olimpíadas, não dá mais para atirar e fazer cinco, seis, sete pontos. Talvez a solução seja contratar alguns “sul-coreanos” para acertar o centro do alvo.

Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

Júlio Black

Júlio Black

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