Oi, gente.
“Star Wars – O despertar da Força” chega aos cinemas na próxima quinta-feira, e por causa disso entrevistei esta semana alguns integrantes do Conselho Jedi de Juiz de Fora, todos ansiosos pelo retorno da franquia à tela grande. A entrevista trouxe à memória as minhas primeiras experiências com a tela grande, em especial aquela que iniciou essa relação de quase 40 anos com a sétima arte. Como qualquer pessoa que nasceu antes do Episódio IV (lançado em 1977), a saga de Luke Skywalker, Darth Vader e outros menos votados poderia muito bem ter sido minha primeira experiência com a franquia, mas o meu “primeiro” “Star Wars” – e também minha primeira vez na sala escura – foi bem, mas bem genérico mesmo: trata-se do caça-níqueis “Os Trapalhões na Guerra dos Planetas”.
O ano era 1978, eu tinha entre 4 e 5 anos de idade e morava pela primeira vez em Duque de Caxias, com Boeings e Concordes passando sobre minha cabeça. “Star Wars” havia sido lançado no ano anterior e se tornado um dos primeiros blockbusters da história. Aqui no Brasil, Os Trapalhões eram um sucesso não apenas na TV, mas também nos cinemas, e era normal que as produções do grupo fossem inspiradas em histórias clássicas (“O trapalhão nas minas do Rei Salomão”) ou copiassem descaradamente sucessos hollywoodianos (“O trapalhão no Planalto dos Macacos”). Por isso, nada mais “natural” que aproveitar a onda e fazer um “Guerra nas Estrelas” tupiniquim e com altas restrições orçamentárias, que mesmo assim levou mais de cinco milhões de pessoas aos cinemas na ocasião – inclusive este que vos escreve, que marcou presença no há muito extinto Cine Paz.
Resolvi assistir novamente ao filme esta semana, e é de se impressionar que tanta gente tenha ido assistir a um filme tão… ruim. O longa mostra os quatro Trapalhões escondidos na mata, fugindo de uns valentões após Didi se engraçar para os lados da namorada de um deles, quando são acordados pela chegada de uma nave espacial, de onde surge o príncipe Flick (uma mistura de Luke Skywalker e Han Solo) e seu amigo inspirado em Chewbacca, Bonzo (!!!).Ele está à procura de mercenários dispostos a unir forças contra o malvado Zuca (!!!!), versão carnavalesca de Darth Vader. O vilão sequestrou a amada do herói, toca o terror no planeta deles e tenta obter a segunda metade do computador Cérebro, que está nas mãos do príncipe, a fim de ter o poder para conquistar toda a galáxia.
Enfim… Convencidos a participarem da aventura pela recompensa (o peso de cada um em ouro), os Trapalhões partem para o planeta natal do príncipe e ajudam a derrotar Zuco, que em nenhum momento parece ser capaz de ameaçar até mesmo pequenos animais distraídos. As lutas entre os heróis e os vilões são ridículas, e nem mesmo o recurso dos golpes em câmera lenta – num estilo “Zack Snyder de quintal” – ajuda a tornar a situação menos pior, pois as piadas ainda são de uma falta de graça que fazem o “Zorra total” parecer Monty Python.
Aquilo que eles chamam de efeitos especiais, então, mereceria um capítulo à parte. “Os Trapalhões na Guerra dos Planetas” foi filmado em videotape e depois convertido para 35 milímetros para que pudessem dar o ar de “ficção científica” que o longa precisava, mas os tais “efeitos especiais” eram nada mais, nada menos – em sua maioria – que o chroma key que o “Fantástico”, da Rede Globo (coprodutora do longa-metragem), utilizava nos videoclipes psicodélicos de Raul Seixas. Em outros momentos, a sensação é a de se assistir àqueles episódios do Chapolin Colorado com os monólitos da Lua. E a língua “alienígena” é apenas as falas dos personagens reproduzidas de trás para frente.
Por mais que os efeitos especiais de hoje sejam infinitamente superiores – e que qualquer moleque consiga criar algo muito mais profissional sem sair do seu quarto -, é de se impressionar que Didi, Dedé, Mussum e Zacarias topassem participar de um filme trash que consegue fazer feio até mesmo quando comparado a “Mercenários da galáxia”, a versão sci-fi de “Os sete samurais” produzida pelo mestre Roger Corman. Se bem que, para uma criança dos anos 70, “Os Trapalhões na Guerra dos Planetas” poderia muito bem ser o seu “primeiro” “Star Wars” – e, com toda a inocência típica da idade, ser muito legal.
Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.