Não é sonho ou pesadelo: ‘Sandman’ está na televisão!

Por Júlio Black

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Oi, gente.

“Há vários anos rolam os boatos em Hollywood que o personagem reinventado por Neil Gaiman vai ganhar um filme, mas ‘Sandman’ seria perfeito na televisão. Dá até para imaginar um canal como o HBO materializando as histórias de Sonho dos Perpétuos em seu universo onírico, com todos os demônios e criaturas fantásticas que o rodeiam. Qual fã não gostaria de assistir sem atropelos a histórias como ‘Vidas breves’, ‘A Estação das Brumas’ e ‘Um Jogo de Você’?”

Pois é, mais uma vez retorno à coluna que escrevi em março de 2017 sobre adaptações de quadrinhos que gostaríamos de ver na televisão e/ou streaming. Da lista feita na época, “Cavaleiro da Lua”, “Sweet Tooth” e (a já cancelada) “Y: O último homem” foram produzidas pelo Disney+, Netflix e Star+, respectivamente. Quanto a “Os Invisíveis” e “Planetary”, não lembro de ter lido ou visto nada nos últimos tempos que indicasse uma adaptação, mas “Sandman” enfim ganhou uma versão em audiovisual pela Netflix. E foi um sucesso: segundo o serviço de streaming, a produção entrou no Top 10 de 89 países nos primeiros dias, sendo que ficou em primeiro lugar em 34 deles.

Integrante que sou da legião de fãs de “Sandman”, é impossível não ficar feliz com a adaptação de uma das melhores histórias em quadrinhos de todos os tempos, pois a trajetória até a sua versão audiovisual foi longa e conturbada. Não faltaram propostas para adaptar a HQ, sendo que a maioria propunha desvirtuar o material original com ideias absurdas como o Coríntio ser irmão de Morpheus ou transformar soberano do Sonar em um anti-herói em batalhas épicas contra demônios. Por sorte, vingou o projeto que tem o próprio Gaiman como um dos produtores, ao lado de David S. Goyer e Allan Heinberg.

“Sandman” é exemplo perfeito da espera que vale a pena, pois adaptar suas 75 edições – lançadas entre 1989 e 1996, sem contar spin-offs, edições especiais e prelúdio – é trabalho que tinha que ser muito bem feito, pois a história é tão complicada quanto genial ao reimaginar um personagem pulp dos quadrinhos e colocar na trama uma mistura de mitologias variadas, terror, fantasia, filosofia, questões contemporâneas, super-heróis do Universo DC e mil coisas diferentes – para a série, toda a parte dos super-heróis foi excluída.

Quem leu os quadrinhos sabe que os dois primeiros arcos adaptados (“Prelúdios e Noturnos” e “A casa de bomecas”) seriam difíceis de se adaptar, mas o “Sandman” da Netflix certamente é a melhor versão audiovisual que poderíamos ter. Depois de assistir à primeira temporada, voltei aos quadrinhos; do que li ou folheei até o momento, é impressionante como a produção consegue fazer uma adaptação tão bem construída.

Enquanto assistia aos episódios, a impressão era de que ali estava uma transcrição literal da HQ; porém, ao ler os quadrinhos, foi assombroso ver como a série consegue ser um exemplo perfeito de como levar para outra linguagem artística um clássico da nona arte. Os episódios quatro a seis (“Uma esperança no Inferno”, “24/7” e “O som das asas dela”) são o ponto alto da primeira temporada de “Sandman”, que ainda teve a grata surpresa do episódio extra “Um sonho de mil gatos/Calíope”, com duas histórias favoritas dos leitores e que ganharam belíssima adaptação.

Escolher o Morpheus ideal para o audiovisual era missão ingrata, e Tom Sturridge foi escolha deveras feliz. Pode haver uma meia dúzia de nerds perebentos que reclamem que ele não é “igual” ao personagem das HQs, mas no que importa – que é a atuação – o ator britânico entregou um personagem praticamente perfeito. Outra escolha que arrebentou a boca do balão foi a de Kirby Howell-Baptiste como Morte, que brilha no único episódio em que participa.

Boyd Holbrook fez um Coríntio carismático, mas que provocava um medo constante; David Thewlis foi um dos craques do jogo ao interpretar o aterrorizante John Dee; e Jenna Coleman interpretou uma Johanna Constantine que nada fica a dever à versão John Constantine dos quadrinhos. Patton Oswalt (a voz do corvo Matthew), Mason Alexander Park (Desejo), Stephen Fry (Verde do Violinista), Eddie Karanja (Jed Walker) e Ferdinand Kingsley (Hob Gadling) também brilharam nos poucos momentos em que apareceram.

Agora, ficamos na torcida para que a Netflix deixe de enrolar e confirme de uma vez a segunda temporada de “Sandman”, pois estamos naquela fissura de que seja levado para o audiovisual o melhor arco da HQ, “Estação das Brumas”. É aquela história, sonhar não custa nada.

Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

Júlio Black

Júlio Black

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