(Des)entendendo a Patrulha do Destino

Por JÚLIO BLACK

Oi, gente.

A Patrulha do Destino deve ser a equipe de super-heróis mais intrigante e bizarra que já existiu, e das mais difíceis de se encontrar algo para ler. Lembro de ter topado com duas ou três histórias escritas e desenhadas pelo John Byrne nos anos 1990, e mais nada pelas duas décadas seguintes. A curiosidade era grande por bons motivos: primeiro porque todo mundo falava que eles eram esquisitos, segundo porque havia a lenda de que viviam morrendo no final das histórias e terceiro porque eles tiveram Grant Morrison como roteirista por quase quatro anos, entre o final dos 1980 e início dos 1990. Daquelas coisas que todo mundo diz ser um clássico, um marco, uma revolução, de ler ajoelhado e repetindo “eu não sou digno”, mas que você não conseguia encontrar em lugar nenhum. Até agora, pois a Panini resolveu publicar em uma série de encadernados as 45 edições escritas pelo escocês genioso e genial. Pena que o papel é uma porcaria, mas a desculpa da editora em sua página no Facebook é que a colorização da época não ficaria boa em um papel decente. Sei.

Mas enfim. A Patrulha do Destino de Grant Morrison ficou célebre por todas as reformulações que ele fez na equipe, bem a ver com o clima de piração total em que o escocês vivia na época. São citações ao surrealismo, dadaísmo, lisergia, sociedades secretas bizarras, mundos imaginários que ameaçam destruir a realidade, super-heróis com poderes e personalidades mais que esquisitos. Morrison assumiu a série após o evento “Invasão”, da DC, e aproveitou para zoar todo o barraco, mudando a maior parte dos integrantes e colocando-os para enfrentar os seres mais extravagantes que se poderia imaginar.

“Rastejando dos escombros” ocupa as quatro primeiras edições do primeiro encadernado (edições 19 a 22 na série original americana) e coloca a nova Patrulha tendo que enfrentar os Homens-Tesoura, capazes de recortar os seres humanos da realidade e levá-los para o mundo imaginário de Orqwith, criado em um livro por um bando de filósofos e que planeja substituir nosso mundinho. Ainda neste primeiro volume, a Patrulha do Destino é confrontada por Rubro Jack, um sujeito que vive numa casa sem janelas, gosta de torturar borboletas e acha que é Jack, o Estripador, e também aquele que as pessoas costumam chamar de Deus. Apenas isso.

Mas os outros volumes prometem muito mais, pois Grant Morrison não economizou na viagem. A Patrulha do Destino terá que enfrentar “coisas”-seres-entidades como A Irmandade do Dadaísmo e o Sr. Ninguém, o Caçador de Barbas, A Pintura que Devorou Paris, Flex Mentallo (“O Homem dos Músculos Mistério”, que rendeu uma minissérie ainda mais alucinada) e o Culto do Livro Não-Escrito, entre outras coisas do mesmo nível. Assim como “Homem-Animal”, que também está de volta às bancas, “Patrulha do Destino” serve como iniciação para quem deseja entender outra das séries insanas, iconoclastas e anarquistas de Grant Morrison, “Os Invisíveis”, que já teve republicada pela Panini dois dos três volumes das aventuras de King Mob, Ragged Robin e Cia. contra os seres extradimensionais que planejam dominar nossos corações e mentes.

Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

Júlio Black

Júlio Black

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