Formação profissional em geriatria e gerontologia

Por Jose Anisio Pitico

Há muita falta de informação científica sobre o nosso processo de envelhecimento. Percebo e tenho a impressão de que, na verdade, sabemos muito pouco de nós mesmos. E vivemos como se esse ciclo não fizesse parte de nossa vida. Portanto, penso que se faz necessário cada vez mais fazer ciência sobre esse período de nossa vida. Pouco se fala, pouco se escreve, pouco se produz evidências efetivas, comprovadas, sobre o modo de vida na velhice. O que temos de sobra, ainda, são preconceitos, tabus, mitos, estereótipos e fantasias que não correspondem à realidade da passagem do tempo em nós.

Como temos dificuldades de olharmos o envelhecimento de frente! Confundimos, misturamos, a contagem dos anos com a perda de nossa subjetividade, com a diminuição do nosso grau de humanidade. Penso que não podemos aceitar que o sistema sócio-econômico nos reduza a meros produtores de mercadorias. E que com a idade nos ombros, com as forças desgastadas, sejamos descartados como o bagaço da laranja.

Acontece, porém, que aumentou em muito o nosso tempo de vida, a nossa duração. E não é admissível que esse tempo que conquistamos a mais seja desperdiçado ou vivido sem nenhum sentido, sem nenhum propósito na direção da interação com a coletividade. Precisamos retirar o envelhecimento desse lugar frio que a sociedade definiu. Há uma dinâmica social no cotidiano de muitas pessoas idosas que é pura potência e movimento de vida, que não aceita limitação e ficar parado.

Para que haja uma outra visão sobre o modo de vida das pessoas mais velhas é necessário que ocorra também uma qualificação profissional especializada na área da geriatria e da gerontologia. É papel fundamental das instituições de ensino superior, que devem adequar seus currículos a essa nova realidade demográfica brasileira de ter na composição de sua população mais gente idosa do que jovens. Somente assim, com profissionais qualificados, teremos diagnósticos precisos e certeiros sobre as doenças que podem acometer algumas pessoas idosas e orientações para a vivência de um período ativo e saudável. Não vale qualquer profissional para atender as pessoas idosas, para não reproduzir no ambiente de trabalho o que a gente ouve nas ruas: para a pessoa idosa qualquer profissional serve…

Há que se ter, minimamente, um preparo feito pelas faculdades para esse tipo de atendimento. Idosos, não adultos em miniaturas. Trata-se de um outro universo de pessoa a ser conhecido e a ser aprendido. Com o alcance da longevidade, com a vida sendo estendida, precisamos inserir qualidade e bem-estar nesse prolongamento existencial conquistado. Para isso, é fundamental o estudo e o preparo dos profissionais no atendimento a essas pessoas que exigem cuidados diferenciados.

Numa cidade como a nossa, com mais de 100 mil pessoas idosas, como as instituições de ensino respondem ao atendimento de qualidade a elas? Temos serviços geriátricos e gerontológicos disponíveis para essa população? Profissionais na rede municipal de saúde e nos hospitais da cidade? Não temos. Como também não temos ofertas suficientes de cursos para aqueles e aquelas que vão cuidar de pessoas idosas, uma necessidade vital no dia a dia.

Essa pauta do envelhecimento precisa ganhar centralidade no cotidiano da cidade. E quem tem essa tarefa de levar suas demandas para a cidade são as próprias pessoas idosas. Da minha parte, há mais de três décadas dou minha contribuição. Há cinco anos, escrevo toda semana essa coluna e conto muito com a sua participação, caro leitor e leitora, para chamar a atenção dos atores públicos e políticos para que saiam da miopia social de não enxergarem as pessoas idosas.

Jose Anisio Pitico

Jose Anisio Pitico

Assistente social e gerontólogo. De Porciúncula (RJ) para o mundo. Gosta de ler, escrever e conversar com as pessoas. Tem no trabalho social com as pessoas idosas o seu lugar. Também é colaborador da Rádio CBN Juiz de Fora com a coluna Melhor Idade. Contato: (32) 98828-6941

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