Acredito que você, meu caro leitor e leitora, já esteja de “saco cheio” de tanto, que eu falo por aqui, do que escrevo nessas colunas dominicais, sobre ideias e realidades repetidas sobre o nosso envelhecimento. E uma delas(de novo), é dizer que estamos vivendo mais e vamos viver cada vez mais. O que é muito bom e desejável por todos nós. Ninguém em sã consciência deseja morrer antes de envelhecer. Mas por que, muitos de nós, temos medo de envelhecer? Será que é por causa da morte? Mas a morte está presente em todas as fases da nossa vida. É por preconceito mesmo. Etarismo. Falta de informação e de conversas contínuas sobre envelhecer e, principalmente, sobre saber como envelhecer. De um modo geral, à grosso modo, ninguém fala sobre esse assunto. Não tem uma sessão sequer da Câmara Municipal que essa pauta é discutida pelos pares, vereadores e vereadoras. Não existem pessoas idosas na cidade? E, muitas das vezes, quem está com o microfone frente à boca é uma pessoa idosa.
Há uma estigmatização fechada e restrita da imagem de algumas pessoas idosas em alguns instrumentos e canais de comunicação social que esvaziam, retiram o recheio do sentido da vida de muitas dessas pessoas. Ou estão em movimentos em atividades físicas, sociais ou as pessoas idosas são vistas como exemplos de superação: diante de cursar uma faculdade com a idade mais alta; celebrar uma união afetiva e amorosa por mais de cinquenta anos. De fato, são cenas incomuns, que chamam à atenção, que são vistas como casos especiais, fora do contexto diário da vida e apresentam-se como se estivessem desconectadas da condição humana de viver e de envelhecer. O fato é que, diante da realidade do nosso envelhecimento, a atuação e a presença das pessoas idosas não podem ser consideradas como situações extraordinárias. A sociedade, nós, temos que receber com naturalidade essa nova postura dessas pessoas idosas no cotidiano social. Sobre a trilha para a longevidade tem um lado de responsabilidade pessoal, sim, de como eu estou preparando ou preparo o meu futuro, o meu envelhecimento. Me cuido regularmente da saúde física, mental, emocional com profissionais habilitados em geriatria e gerontologia? Eu cultivo amizades que me fazem bem à saúde? Essas escolhas partem da gente. Constituem o nosso estilo de vida. Não há uma receita única para se envelhecer bem, que sirva para todas as pessoas. Algumas atitudes e hábitos estão comprovados cientificamente que contribuem para a conquista de uma longevidade boa: encontrar alegria nas miudezas do dia-a-dia; não se levar tão à sério, assim… Saindo da esfera pessoal de cuidar de si, o quanto antes, penso que a cidade e a sociedade tem a obrigação de oferecer condições, recursos, meios e políticas que garantam envelhecer com qualidade de vida a todas as pessoas maiores de 60 anos.
A conquista da longevidade, que já é uma possibilidade real, mais do que no avanço da idade cronológica, tem que vir acompanhada de políticas públicas, atitudes e comportamentos da sociedade comprometida com a expectativa de atingir mais gente: é muito importante que os movimentos sociais das pessoas idosas, dos aposentados e aposentadas, junto a outros coletivos de participação social lutem politicamente para tornar o envelhecimento um período da vida saudável e de qualidade. Obrigando o país e a cidade a se envolverem pra valer com a garantia dos direitos sociais e de saúde de toda a população idosa. A caminhada tem que ser coletiva para colocar o bloco na rua. À propósito. Bom carnaval a todas e todos!