O livro pode salvarĀ 

Por Marcos AraĆŗjo

Sempre que alguĆ©m vem pela primeira vez Ć  minha casa e olha para minha estante de livros, dispara: ā€œVocĆŖ jĆ” leu todos?ā€. E olha que nĆ£o sĆ£o tantos assim. Eu atĆ© gostaria de ter mais, mas, para ter mais, Ć© preciso ter mais espaƧo. Minha resposta para saciar a curiosidade do meu visitante Ć© sempre a mesma: ā€œEu nĆ£o li todos. JĆ” li a maior parte deles. HĆ” alguns aĆ­ que acho que nem vou lerā€. HĆ” quem entenda. Outros acham estranho este hĆ”bito de mantĆŖ-los nas prateleiras apenas para acumular poeira.

Mas, para quem gosta de livros, a lĆ³gica nĆ£o funciona dessa maneira. TĆŖ-los ali na estante, bem perto da gente, Ć© tambĆ©m uma questĆ£o de afeto, mesmo que eu tenha a certeza de que alguns jamais serĆ£o lidos por mim. Mas estĆ£o ali para cativar outros leitores da casa. Quem ama os livros vai entender isso que estou falando.

TambĆ©m nĆ£o deixo que sejam repositĆ³rio de poeira e de teias de aranha. Todo sĆ”bado de manhĆ£, uso o meu espanador de cabo vermelho e pelo sintĆ©tico azul para nĆ£o deixar o pĆ³ acumular. ā€œQue tarefa chataā€, muitos dirĆ£o. No entanto, eu a cumpro ouvindo uma boa mĆŗsica e passando os olhos pelas lombadas, lembrando as histĆ³rias jĆ” lidas e aguƧando a vontade de ler aquelas ainda desconhecidas. DĆ” outro sentido ao ato de limpeza.

E por que escolhi falar de livros agora? Porque neste mĆŖs foi comemorado o Dia Mundial do Livro, na data de 23 de abril, e nĆ£o gostaria de deixĆ”-la passar em branco, mesmo jĆ” com algum atraso. HĆ” um tempo, quando essa minha modesta biblioteca ainda era bem menor do que Ć© hoje, fiz um post dizendo que os livros eram minhas armas para lidar com a estupidez que cobria o Brasil de cabo a rabo. Ɖ bem isso, guardar esses livros, de alguma forma, ameniza nossos pensamentos diante do obscurantismo. Ɖ como se fosse um porto seguro para onde posso voltar, quando tudo no mundo exterior ao meu redor estĆ” tomado pelo caos.

Em momentos assim, o conforto que o livro traz, o aconchego de uma boa histĆ³ria, a identificaĆ§Ć£o com certos personagens e situaƧƵes, a possibilidade de descobrir novos mundos e enxergar nossa sociedade pelo olhar do outro que escreve, pode ser tudo o que precisamos para encontrar mais uma porta em nossa vida. PorĆ©m isso, repito, sĆ³ compreende quem tem amor pelos livros. Aos que ainda nĆ£o compreendem, nĆ£o faƧo julgamentos. Cada um ama o que melhor lhe faz bem. HĆ” quem ame os automĆ³veis, as plantas, uma coleĆ§Ć£o de bibelĆ“s. Apenas faƧo votos para que, algum dia, tambĆ©m sejam fisgados pela leitura e conheƧam o que Ć© ter amor pelos livros.

Em face de tanta tecnologia, o livro, Ć  primeira vista, pode parecer obsoleto, mas nĆ£o se engane, pois, em certo momento de nossa histĆ³ria, ele jĆ” foi tecnologia de ponta. E ainda Ć© antĆ­doto contra desinformaĆ§Ć£o e ignorĆ¢ncia. O livro pode salvar e salva.

Marcos AraĆŗjo

Marcos AraĆŗjo

A Tribuna de Minas nĆ£o se responsabiliza por este conteĆŗdo e pelas informaƧƵes sobre os produtos/serviƧos promovidos nesta publicaĆ§Ć£o.

Os comentĆ”rios nĆ£o representam a opiniĆ£o do jornal; a responsabilidade pelo seu conteĆŗdo Ć© exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir postagens que contenham insultos e ameaƧas a seus jornalistas, bem como xingamentos, injĆŗrias e agressƵes a terceiros. Mensagens de conteĆŗdo homofĆ³bico, racista, xenofĆ³bico e que propaguem discursos de Ć³dio e/ou informaƧƵes falsas tambĆ©m nĆ£o serĆ£o toleradas. A infraĆ§Ć£o reiterada da polĆ­tica de comunicaĆ§Ć£o da Tribuna levarĆ” Ć  exclusĆ£o permanente do responsĆ”vel pelos comentĆ”rios.



Leia tambƩm