Quando o mandatĂĄrio do mais alto cargo executivo de um paĂs manda um jornalista calar sua boca, porque, do contrĂĄrio, irĂĄ “encher sua boca de porrada”, ele nĂŁo quer calar apenas o jornalismo, mas tambĂ©m toda uma nação, porque nĂŁo entende que faz parte do jogo democrĂĄtico o dever de responder ao povo indagaçÔes a respeito de condutas que coloca sua figura pĂșblica em xeque. Principalmente, se essa pergunta Ă© realizada de maneira legĂtima por um profissional durante o exercĂcio da profissĂŁo.
Se tais questionamentos sĂŁo capazes de irritĂĄ-lo a ponto de levĂĄ-lo a fazer ameaças de agressĂŁo fĂsica contra quem pergunta, que nĂŁo entrasse para a vida pĂșblica, que nĂŁo almejasse ocupar um cargo na presidĂȘncia, que chama para si uma grande concentração de holofotes e que requer uma postura incorruptĂvel. Que ficasse onde esteve por trinta anos, gozando das benesses que tinha, mas sem se preocupar em ser produtivo.
Quando o mandatĂĄrio do mais alto cargo executivo de um paĂs manda um jornalista calar sua boca, porque, do contrĂĄrio, irĂĄ “encher sua boca de porrada”, ele tambĂ©m nĂŁo dĂĄ a mĂnima para 57 milhĂ”es, 797 mil e 847 pessoas que o elegeram, acreditando que depositaram seu voto em alguĂ©m que iria respeitĂĄ-los e representĂĄ-los em um cargo no qual ameaças de agressĂŁo fĂsica sĂŁo inadmissĂveis para sua liturgia.
Logo que repercutiu, a ameaça contra a indagação do jornalista causou uma grande reação nas redes sociais. Imediatamente, pessoas de todas as matizes ideolĂłgicas passaram a replicar na internet a mesma pergunta feita pelo repĂłrter vĂtima da ameaça. Essa repercussĂŁo negativa serve tambĂ©m para mostrar que imensa parcela da sociedade nĂŁo coaduna com esse tipo de conduta e quer, sim, ter respostas para malfeitos que podem significar prejuĂzos para a administração pĂșblica.
Ao longo de muitos anos, a histĂłria jĂĄ mostrou que governantes que posam de braço dado com o autoritarismo sentem aversĂŁo aos meios de comunicação e ao jornalismo que Ă© realizado de maneira livre. No poder, eles nĂŁo medem esforços para liquidar com a atuação de jornalistas. Sabem que faz parte do mĂ©tier do bom jornalismo trazer Ă tona informaçÔes que se querem escondidas. Existe um consenso de que, no jornalismo, perguntas desagradĂĄveis, quando realizadas Ă s instituiçÔes poderosas, em um ambiente democrĂĄtico, nĂŁo sĂŁo desagradĂĄveis, mas, sim, uma obrigação, assim como tambĂ©m Ă© obrigação dessas instituiçÔes respondĂȘ-las, porque Ă© preciso prestar contas.
Decoro Ă© uma palavra importante quando se pensa em Constituição, que Ă© a base de uma sociedade que se enxerga livre. Quando o jornalismo tem sua liberdade intimidada, a Constituição Ă© a primeira a ser abalada. Nos Ășltimos tempos, exemplos de que esses limites tĂȘm sido ultrapassados nĂŁo faltam, o que Ă© inadmissĂvel, principalmente, quando vĂȘm de quem deveria zelar pelas leis do paĂs. A atuação da imprensa Ă© fundamental para um povo que quer viver em democracia, por isso sĂŁo inaceitĂĄveis as ameaças e ainda mais as de agressĂ”es fĂsicas.