Silenciosamente implacável  

“Ao enxergar as fissuras causadas pelo tempo, ficamos cara a cara com a realidade da nossa própria pequenez e da transitoriedade de todas as coisas”. Leia neste domingo, na coluna do jornalista Marcos Araújo.

Por Marcos Araújo

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O tempo é, de forma implacável, uma força que permeia todas as dimensões da nossa existência. E nada, absolutamente, escapa de seu toque indelével (Foto: Imagem Pixabay)

O tempo é, de forma implacável, uma força que permeia todas as dimensões da nossa existência. E nada, absolutamente, escapa de seu toque indelével. Sua passagem é como o vento, que, lentamente, esculpe as formas de relevo das dunas de areia. Muitas vezes, isso acontece de forma branda, de outras, nem tanto. 

O fato é que o tempo molda o mundo ao nosso redor, assim como nossa vida. Conheço pessoas que, na tentativa de dar a volta no tempo, insistem em ignorá-lo, subestimando seus impactos. Muitas delas estão distraídas pela urgência do presente ou pela ilusão de eternidade. 

Nesta semana que passou, o tempo, enquanto uma questão de vida, não saiu da minha cabeça. Cheguei a pensá-lo como algo corrosivo, que vai desgastando tudo aquilo que consideramos de mais sólido. Só ele, o tempo, transforma fortalezas em fragilidades. Não é à toa que suas marcas estão presentes desde as antigas ruínas até os sulcos que se tornam visíveis no nosso rosto com o passar dos anos. 

As fissuras provocadas por essa corrosão do tempo, voltando à metáfora do vento, são mais do que meros sinais de declínio. Elas são símbolos de mudança e de impermanência. Avisos silenciosos de que nada neste mundo é imutável ou eterno. E, no entanto, é precisamente essa impermanência que dá significado à nossa existência.

Ao enxergar as fissuras causadas pelo tempo, ficamos cara a cara com a realidade da nossa própria pequenez e da transitoriedade de todas as coisas. Mas também somos incitados a encontrar beleza e profundidade nessa efemeridade. Pois é nas fissuras que podemos descobrir as verdades mais profundas sobre nós mesmos e sobre o que parecia, até então, estar dado.

É uma tolice deixar de reconhecer a importância dessas fissuras, pois nelas reside a essência da vida. São elas que nos convidam a contemplar o passado, a viver plenamente o aqui e agora e a abraçar o futuro. São elas que nos lembram da nossa própria humanidade e de que tudo está fadado ao fim. 

Portanto, ao invés de temer a corrosão do tempo, é preciso acolhê-la, estendendo as mãos. Para alguns, isso pode ser mais difícil e até dolorido. Todavia, aceitá-la pode representar tanto vulnerabilidades quanto oportunidades. É somente por meio desse processo de aceitação e adaptação que podemos verdadeiramente dar sentido para a nossa existência.

Marcos Araújo

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