Se a vida fosse uma música, sua composição seria marcada por uma série de compassos, ora de batidas aceleradas, ora de pausas eloquentes. Deixando a metáfora musical de lado, a vida é sim um entrelaçado de situações, e o cotidiano é uma costura de pequenos ou de grandes acontecimentos. Na maioria das vezes, não nos cabe defini-los, porque estão além de nosso controle. E podem tanto ser positivos quanto negativos, restando-nos apenas aceitá-los quando bem-vindos, ou enfrentá-los quando se tratam de desafios.
É fim de ano e, por mais que a vontade seja a de evitar qualquer tipo de balanço, aquela sensação de querer passar tudo a limpo se impõe. Por isso, escolhi escrever sobre a dualidade entre frustrações e surpresas agradáveis, das mais graves às mais banais, como quando nos deparamos com a escuridão ao abrir a porta de casa porque esquecemos de pagar a conta da luz ou um pequeno momento de regalo, quando encontramos uma quantia de dinheiro perdida no bolso de uma calça qualquer.
A verdade é que não somos donos da nossa própria existência e estamos sujeitos a diversas intempéries. O desconhecido nos atravessa e, sem qualquer cerimônia, interrompe nossa tranquilidade. Mas o contrário também pode acontecer, pois um gesto cheio de calor humano ou uma palavra de afeto podem apaziguar o caos.
Viver é estar diante da inevitabilidade. Se há obstáculos a superar, contratempos a contornar, há também a capacidade de nos renovar. Cada dia nasce cheio de possibilidades, e, com elas, também os momentos de boas surpresas. É preciso ter a compreensão de que a vida é feita de imperfeições e, apesar das adversidades, há espaço para o otimismo e para a apreciação dos momentos felizes que surgem de maneira inusitada.
A nós, sem poder algum sobre o destino, cabe lembrarmos da importância da vida em sua totalidade, aceitando tanto as pelejas quanto as recompensas casuais. Talvez este tenha sido o texto mais piegas que já escrevi neste espaço e tenha vergonha de sua escrita depois de publicado. Arrependimento faz parte desse processo de aceitação da complexidade de nossa jornada. A mensagem que quero deixar aqui é que tudo é uma oportunidade para aprender, crescer e encontrar beleza, mesmo nas pequenas coisas. Feliz Natal a todos!
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