Para visualizar a praia 

Por Marcos Araújo

Mais da metade dos usuários de internet no Brasil (62%) só acessa a rede pelo aparelho celular. A informação foi divulgada, nesta semana, em razão da pesquisa realizada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br). O percentual apontado pelo estudo mostra, em números absolutos, que são 92 milhões de brasileiros que conseguem navegar pela Web apenas por meio de celulares. Essa é uma realidade que, segundo especialistas da área, acarreta graves consequências, porque se traduz em um tipo de acesso limitado. Um dos dados mais reveladores do levantamento é que somente 37% das pessoas que acessam a rede apenas pelo celular checam as informações recebidas. E é justamente nesse quesito que mora o perigo, porque representa implicações negativas quando se pensa em um cenário de aprofundamento de desinformação. 

O estudo aponta que, no caso específico de verificação de informações on-line pelo telefone, existem limitações que dizem respeito ao dispositivo em si e também quanto ao plano de dados associado ao aparelho. Segundo a pesquisa, 64% das pessoas que têm um telefone celular possuem um plano pré-pago. Para muitos desses usuários, o consumo da notícia que chega pelo aplicativo de mensagem limita-se às informações que lá aparecem, como título, subtítulo e foto, e não há dados móveis suficientes para que se abra a matéria completa. Essa impossibilidade de ir além, certamente, tem impactos para esses usuários e para a sociedade como um todo, já que, dessa forma, as pessoas ficam mais vulneráveis diante das Fake News. 

Diariamente, somos bombardeados por notícias falsificadas ou retiradas do seu contexto que, pouco a pouco, tornam-se mais requintadas e bem produzidas, o que dificulta a sua distinção entre as tantas informações que recebemos. Elas se aproveitam das disputas ideológicas e das disparidades culturais, sociais e econômicas para se espalhar. Assim, transformam uma opinião em verdade e, toda vez que dá de cara com um pensamento contrário, grita pela liberdade de expressão. E como já disse aqui em outra ocasião, nosso direito de opinião deve ser inviolável, mas jamais confundido com incitação à violência, racismo, difamação, calúnia, blasfêmia e conspiração.

Ter uma pesquisa como essa, que é um levantamento anual do Comitê Gestor da Internet no Brasil, divulgada em meio a negociações para a votação no congresso do Projeto de Lei das Fake News, além de ter o conhecimento sobre esses dados, pode ajudar muitas pessoas para o discernimento acerca da importância de haver, no país, uma norma que institui liberdade, responsabilidade e transparência na internet. Nunca é demais lembrar que o acontece no mundo virtual gera complicações no mundo real. Ainda existe uma longa distância até a terra firme, nesse oceano de ondas de desinformação, mas, se antes de compartilhar, existir o ato de verificar, já será possível, ao menos, visualizar um pedaço da praia. 

Saiba mais sobre a pesquisa em https://cetic.br/pt/noticias/indice/

Marcos Araújo

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