Leio os comentários nas redes sociais e me pergunto: o que está acontecendo? A polaridade é tão grande, que qualquer tema, desde os mais banais, é motivo de desavenças. Nós desaprendemos a discordar. O mesmo acontece na vida real e, cada vez mais, o diálogo fica insustentável. Houve um tempo, apesar das turbulências sociais e políticas que assolam nossa sociedade, pensava eu, que essa polarização teria fim, mas já está certo que não. Continuamos presos às nossas bolhas e, quem está fora dela, também está fora do nosso campo de convivência. Ou você concorda comigo ou você está contra mim. É como se quem discordasse da gente precisasse ser aniquilado.
Pensando no que observo nas redes sociais, a vontade que dá é de realmente desistir delas. Isso pode até ser uma decisão coerente. Mas, e da vida? Não tem como desistir e viver de forma isolada, numa “casa no campo, do tamanho ideal, pau a pique e sapê”, embora isso seja um sonho. Diante de tudo que vejo, o desafio é tentar unir pessoas de diferentes perspectivas e criar pontes, superando as divisões e fortalecendo os laços comunitários que ainda nos restam.
Se estamos mais distantes uns dos outros, é preciso encontrar meios a fim de superar esse abismo. A ideia de criar pontes construídas sob a base da empatia e do diálogo talvez seja o caminho que nos leve até o lugar do outro. Só assim teríamos melhores condições de compreensão e deixaríamos de ser mais reativos, adotando uma postura de mais reflexão diante das situações.
Sei que esse será um processo difícil enquanto estivermos mergulhados na polarização, que gera resistência e desconfiança, que deixa muitos enredados na teia da desinformação e incapazes de ver além das suas bolhas ideológicas. É imprescindível persuadir as pessoas a saírem de suas zonas de conforto e se engajarem com aqueles que pensam de maneira diferente.
No entanto, apesar dos obstáculos, ainda há esperança e é preciso que aprendamos a discordar. Discordar com generosidade, sabendo que o outro também tem o direito de falar, de expor suas opiniões sem que isso gere conflito, sem que seja impedido, calado e invisibilizado simplesmente porque pensa diferente. A construção de pontes pode ser uma tarefa árdua e desafiadora, mas é também uma das mais nobres e gratificantes para continuarmos a jornada rumo à reconciliação e à compreensão mútua.