A ficha demora, mas cai

Por Marcos Araújo

Tem gente que jamais irá confessar. E conheço muitas pessoas assim. Porém, não há como negar: a ficha demora, mas cai. Assim como caem as máscaras, as mentiras, as defesas, as culpas ou as vaidades. Nada tem o costume de ser para sempre. A evolução e até mesmo a involução é algo intrínseco ao nosso ser. Somos moventes e que bom que sejamos assim. Porém, conheço pessoas que, apesar da mudança e da ficha estar lá bem no fundo, insistem, externamente, em não voltar atrás. Sustentam um mesmo ponto de vista só para não se darem por vencidas.

Creio que esse tipo de pessoa esteja em abundância por aí e, a toda hora, é fácil esbarrar em uma delas. Estou refletindo sobre isso, porque me chegam rumores de que tem muita gente batendo o pé para dizer que o Brasil está muito melhor hoje. Ora, essa é uma consideração amarga de ser engolida. Basta uma ida básica ao supermercado, para que a realidade jogue na nossa cara que não estamos melhor. O nosso bolso é o que mais pode certificar essa piora. Estamos gastando mais e comprando menos. Comprando menos e comendo menos. Ainda há os que não conseguem nem comprar nem comer.

Se a realidade ao redor não é capaz de fazer certas pessoas enxergarem o óbvio, existem pesquisas e apontamentos de órgãos respeitados que atestam que não estamos bem. Pior, estamos com fome! O Brasil retornou ao mapa da fome da Organização das Nações Unidas (ONU). Vergonhosamente, conseguimos sair dessa situação e voltar para ela, o que deixa mais difícil pensar em algum tipo de melhora. A Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional apontou que 33 milhões de pessoas passam fome no país, tendo crescido 57% o índice de famintos em um único ano.

É claro que eu sei que a fome é um flagelo nacional e serão necessários muitos anos para que ele seja superado, mas temos que ressaltar que acabar com a pobreza e a fome por aqui deixou de ser uma prioridade. E, do jeito que a coisa vai, está cada vez mais impossível vislumbrar um cenário mais promissor a curto prazo. A inflação galopante, o desemprego que não para de crescer e assusta, além do descaso com as pessoas mais necessitadas, colocam mais brasileiros, forçosamente, na condição de extrema pobreza.

São tantos os motivos que não deixam a gente estar melhor do que antes, que é inacreditável pensar que a ficha já não tenha caído para alguns. O que falta cair é a vergonha de que estavam errados o tempo todo, para que essa situação escandalosa de desigualdade possa começar a ser remediada antes que mais e mais pessoas sejam vítimas da fome.

Marcos Araújo

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