Os livros foram apagados? 

“No Brasil, somos muitos e sentimos profundamente, esperando por histórias que nos conectem e nos impulsionem a criar o futuro que desejamos”. Leia na coluna de Marcos Araújo, que aborda a triste notícia de que o país perdeu cerca de sete milhões de leitores.

Por Marcos Araújo

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É mais do que sabido que a leitura amplia o repertório cultural, desenvolve a empatia e incentiva o questionamento, habilidades essenciais para compreender contextos complexos, não se deixar enganar por fake news e participar ativamente da vida social e política. (Foto: Freepik)

A recente pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil” revelou um dado que dói, como quando percebemos que uma página foi arrancada do nosso livro predileto. Nos últimos quatro anos, cerca de sete milhões de leitores foram perdidos. O total de não-leitores, verificado em 2024, representa um aumento de cinco pontos percentuais em relação ao de 2019, quando foi realizada a última edição da pesquisa. É a primeira vez que se conclui que 53% dos brasileiros não lê, desde que o levantamento começou a ser feito, em 2007. 

O que aconteceu? Talvez os livros tenham sido apagados pela pressa das redes sociais e pela superficialidade dos tempos tão digitais. Talvez a desigualdade, sempre evidente, tenha desestruturado bibliotecas e desfeito sonhos de quem nunca teve a chance de folhear um livro novo. As escolas, às vezes engolidas por suas próprias urgências, podem ter esquecido de ensinar não só a ler, mas a amar a leitura.

Diante de cenário tão alarmante, reverter a queda no número de leitores no Brasil é essencial antes que prejuízos irreversíveis coloquem em xeque nossa percepção de cidadania e de formação do pensamento crítico. É mais do que sabido que a leitura amplia o repertório cultural, desenvolve a empatia e incentiva o questionamento, habilidades essenciais para compreender contextos complexos, não se deixar enganar por fake news e participar ativamente da vida social e política.

Há muito tempo que ouvimos que é preciso melhorar os índices de leitura no país. Todavia, pouco tem sido feito para este propósito. Sabemos que é preciso não apenas vontade, mas empenho para investir em políticas públicas para a democratização do acesso aos livros, na criação de bibliotecas comunitárias bem equipadas, na ampliação de feiras literárias, na valorização de autores nacionais e na capacitação de educadores para usar a literatura como ferramenta de desenvolvimento de reflexão crítica, bem como elaborar meios que incentivem a produção e a distribuição livros, como forma de deixar leitura mais economicamente viável.

Para quem tem prazer em ler, a leitura não é apenas palavras no papel. É a viagem de quem nunca saiu de casa, o encontro com vidas que jamais seriam cruzadas, a força de pensar além das próprias fronteiras. Sem ela, como formar cidadãos capazes de questionar, sonhar e criar? A falta de leitura é mais que um dado estatístico, é o enfraquecimento de um país que perde, aos poucos, sua capacidade de escrever seu próprio destino.

Porque o livro, ao contrário do que parece, nunca é só sobre o que está escrito. É sobre quem lê, sobre quem sente. E no Brasil, somos muitos e sentimos profundamente, esperando por histórias que nos conectem e nos impulsionem a criar o futuro que desejamos. 

Marcos Araújo

Marcos Araújo

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