De Senna a Gabigol
Lembro-me que em 9 de janeiro, há exatos três meses, escrevia eu aqui “Expectativas do ano ano”, ansiosa pelo retorno das competições que voltariam a agitar o mundo esportivo. Citei Flamengo, Cruzeiro, os locais Tupi e Baeta, além de passar pelo querido JF Vôlei e pela expectativa dos juiz-foranos nos Jogos Olímpicos de Tóquio, competição pela qual mudo toda minha rotina para acompanhar ao máximo cada disputa.
Quisera Apolo e todos os deuses olímpicos que os rumos fossem diferentes. Noventa dias depois, confesso que meu anseio é muito mais angustiante. Daquele frenesi pré-competições, o sentimento passou para uma inquietude que, confesso aqui, sem meias palavras – tal como faço ao externar meu coração rubro-negro – beira a uma ansiedade, bem próxima ao pânico. Ainda bem inerte, diferentemente de muitos amigos, não consigo ligar a TV, acompanhar uma série ou ler um livro sem me desligar por completo do mundo lá fora. Até das colunas, perdoe-me leitor, andei afastada.
No entanto, das poucas vezes que venho me entretendo, curiosamente ou não, o tal do esporte está envolvido. Como no vídeo do ídolo Ayrton Senna, no Circuito de Donington Park, no Grande Prêmio da Europa, que, mesmo em uma pista sem pontos de ultrapassagem, logo após a largada, deixou Karl Wendlinger, Schumacher, Prost e Hill para trás, em 11 de abril de 1993. Cinco ultrapassagens em uma única volta naquela que descobri ser uma das maiores obras-primas da história da F1.
Peguei-me distraída, como uma criança acompanhando um desenho, também revendo os gols de Gabigol na final da Libertadores do ano passado. Flamenguista ou não, creio que você concordará comigo que aquela decisão foi um tanto quanto surpreendente. E assim a ansiedade, nessas duas lembranças, foi sendo controlada.
Por ora, não consigo fazer projeções quanto ao futuro de clubes, agremiações e atletas. O baque, no entanto, será inevitável. Creio que ainda teremos outros 90 dias, talvez um pouco menos, muito difíceis. Cujo maior adversário ainda será a Covid-19, que assola, muito além da saúde financeira, a saúde física e emocional de todos.
E aí, sem clubismo ou fanatismo, neste momento, nossa torcida é uníssona: que este jogo termine logo. Uma disputa que, por vezes, para ansiosos e ansiosas como eu, é melhor não acompanhar. O bom é que temos Senna, Gabigol e tantos outros para nos distrair.
Tópicos: coronavírus