Hora de virar a página
Sempre curti os campeonatos estaduais. Neles residem as raízes das grandes rivalidades do futebol brasileiro. Neles também residem boa parte de minhas reminiscências no esporte. Lembro-me, como se fosse hoje, o carrinho de Viola na prorrogação da final do Paulistão de 1988, que desviou o chute despretensioso de Wilson Mano e garantiu a vitória do Corinthians sobre o Guarani por 1 a 0. Aquele foi meu primeiro grito de “é campeão”.
Para muito além desta conquista já longínqua, quase sempre, são emocionantes as decisões envolvendo Flamengo e Vasco; Corinthians e Palmeiras; Atlético e Cruzeiro; Grêmio e Internacional; Bahia e Vitória; e tantos outros. As competições regionais são tradicionais e fazem parte do imaginário do torcedor brasileiro, mas chega um momento em que é preciso virar a página. Como diria Belchior, o novo sempre vem.
Hoje, para os grandes clubes e para a esmagadora maioria dos pequenos, os estaduais são uma ponte que ligam nada a lugar nenhum. É quase unânime que um dos grandes problemas do futebol brasileiro é seu calendário inchado. Neste recorte, o grande vilão é o estadual, que prejudica a gregos e troianos. Enquanto os gigantes basicamente cumprem tabela nas fases iniciais dos torneios, vide o Flamengo e Vasco da última quarta-feira, quando o Rubro-Negro atuou com o sub-20 e o Cruz-maltino com uma equipe mista, os menores têm uma temporada esvaziada.
Desta forma, uma reformulação do calendário parece algo inevitável. Por mais que o saudosismo reclame, algumas tradições precisam ser superadas para que haja evolução. Logo, é chegada a hora de virarmos a página dos estaduais. Ao menos, da forma que conhecemos hoje. Resta saber se nosso cartolas terão a coragem necessária para a mudança.