Mulheres no mercado de trabalho: não provoque, é cor de rosa choque!
Na semana do Dia Internacional da Mulher, é bastante oportuno refletir sobre este tema, sobretudo no atual cenário de pandemia, onde novamente pôde ser constatada a impressionante força e determinação que elas demonstram possuir diante das adversidades.
No Brasil, se, por um lado, nas últimas décadas, as mulheres aumentaram expressivamente sua participação no mercado de trabalho, tendo dobrado o número de contratos formais, por outro, a injustiça se observa facilmente pelos números levantados na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) 2019 do IBGE, a qual constatou que as mulheres correspondem à maior parte da população fora da força de trabalho (entre trabalhos formais e informais) em todas as regiões do país, o equivalente a 64,7% dos inativos na média nacional. Entre população desempregada, elas também são maioria: 53,8%.
Além disso, inegável também é a desigualdade salarial. Uma pesquisa realizada pela Catho em 2019 identificou que, apesar de possuírem maior grau de escolaridade, mulheres ganham menos que homens. Tal estudo constatou que 30% das mulheres possuem nível superior e pós-graduação, enquanto apenas 24% dos homens possuem a mesma formação. No entanto, no exercício da mesma função, eles alcançam remunerações até 52% maiores.
Outro fator de enorme injustiça é o denominado “trabalho invisível”, o qual abrange afazeres domésticos, cuidados de pessoas, trabalho voluntário e produção para consumo próprio. Tal labor não é remunerado nem conta como ocupação, mas pesa muito sobre as mulheres, as quais a ele se dedicam cerca de 20 horas semanais. A aqui já referida Pnad Contínua 2019 apontou que 146,7 milhões de pessoas – 85,7% da população – realizam afazeres domésticos no Brasil, com significativa participação das mulheres (92,1%), contra 78,6% de homens. Nítida é a oneração das mulheres com a dupla jornada de trabalho.
Chegando ao triste quadro pandêmico, é fundamental assinalar que, infelizmente, o novo coronavírus deixou 8,5 milhões de mulheres fora do mercado no final de 2020, em comparação com o mesmo período de 2019, mostrando o quão certa estava Simone de Beauvoir quando dizia que “basta uma crise para que os direitos das mulheres sejam questionados”. Afinal, a despeito de serem maioria na sociedade, as trabalhadoras são as mais impactadas negativamente nesta crise sanitária, tanto que inúmeras foram demitidas, viram-se obrigadas a pedir demissão para cuidar dos filhos ou de parentes com comorbidades, ou tiveram seus salários reduzidos. Indiscutivelmente, são elas as cuidadoras das famílias nessas horas; e o que seria das famílias sem esse cuidado?
Que a crise no mercado de trabalho já existia antes mesmo da pandemia é fato. No entanto, este novo cenário acabou por provocar o aumento exponencial dos índices de afastamento feminino do mercado. O agravamento do mesmo se deu em decorrência de dois fatores principais: os empregadores dispensarem as autônomas ou sem registro em carteira simplesmente por não terem despesas com verbas rescisórias; os setores que absorvem a maioria da mão de obra feminina, como comércio e serviços, terem tido que interromper abruptamente suas atividades, ficando prejudicados nos sistemas de abertura e fechamento desde então.
O fato é que, no Brasil, o panorama é grave e preocupante, uma vez que as trabalhadoras somente puderam contar, neste período, com uma única política pública assistencial, ainda por cima mal executada, que acabou por não fazer chegar o auxílio emergencial temporário a tantas mulheres que precisavam sobremaneira de renda para sobreviver, juntamente com seus filhos. As trabalhadoras brasileiras estão sim com uma sobrecarga injusta e que não lhes pertence por inteiro! Mas, nem com esse quadro de abandono do Estado, essas mulheres se curvam. O que se tem visto Brasil afora é muita batalha, bravas lutas em busca de sobrevivência. Guerreiras sofridas que não desistem de se manterem de pé, fazendo jus, mais do que nunca, à poesia da música de Rita Lee, que sabiamente alerta aos mais incautos: “Sexo frágil, não foge à luta, e nem só de cama vive a mulher, por isso não provoque, é cor de rosa choque”.