Sobre fanboys, marvetes e decenautas furiosos
Oi, gente.
O tema da coluna desta semana surgiu dias atrás, quando James Gunn, o diretor dos dois “Guardiões da Galáxia”, desabafou sobre a eterna – e estúpida – briguinha de pátio de escola entre os fanboys da Marvel e DC (também conhecidos pelos infames apelidos de marvetes e decenautas), que passou do universo dos quadrinhos para o cinema e só aumenta a inimizade entre pessoas que, a princípio, têm tanto em comum.
Vale a pena reproduzir alguns trechos da postagem do diretor, feita em uma rede social. “Toda vez que menciono algo da DC, não importa o que, meu feed se torna uma competição sem fim sobre ‘Batman Vs Superman’. Vocês nunca vão convencer uns aos outros, isso é um desperdício de energia. (…) Esse é um filme de dois anos atrás que algumas pessoas gostaram e outras não. Por que a opinião de outra pessoa é tão importante para você? Como super fãs da Marvel e da DC vocês têm mais em comum uns com os outros do que com o resto do mundo. Então por que passar tanto tempo furiosos? É bobo. Por favor, parem. Parem de se envolver dessa maneira (…)”.
Pois é, James Gunn me representa. E a muita gente também. Acredito que a maioria dos meus ah migos leitores e ah migas leitoras leve a sério os quadrinhos e os filmes inspirados em HQs, mas tudo tem limite, certo? Afinal, vivemos num mundo em que há contas a pagar, filhos para criar, esposas e maridos para amar – ainda mais para os adeptos do poliamor, jamais esqueceremos de vocês – e outras prioridades mil.
Mas há seres humanos que levam essas questões mais a sério do que deveriam. E que são chatos, insuportavelmente chatos. Tapados mesmo, sejamos sinceros. E que usam a internet para destilar seu ódio, estupidez, preconceito, a fim de tentar esquecer o quanto suas opiniões são medíocres. É sobre essa turma, os fanboys, que o James Gunn comentou, os defensores malas sem alça e rodinha – e com o zíper escangalhado – da Marvel e DC que acreditam que só pode haver um universo que preste nos quadrinhos, irremediavelmente superior e perfeito, enquanto o outro, o “inimigo”, é o famoso cocô do cavalo do bandido.
E tem o pior: fanboy que TORCE para os filmes da “concorrência” naufragarem nas bilheterias e assim comemorar o fracasso do “inimigo”. Como um ser humano pode ter esse tipo de mentalidade e se considerar adulto? Por que é preciso escolher um lado para tudo nessa vida, colocar questões de preferência estética num eterno “lado A” versus “lado B”? Por que uma coisa só pode ser boa se a outra for necessariamente ruim? Por que diabos não gostar de ambos?
Eu, por exemplo, prefiro o universo Marvel – seja nas HQs ou no cinema – em relação à DC. Sempre achei os personagens da Casa das Ideias mais “reais”, humanos, com problemas iguais aos nossos e vivendo numa realidade em que as histórias se passam em Nova York e não em cidades imaginárias como Metropolis, Gotham City, Smallville, Central City, Star City. E isso passou para o cinema, ainda mais que a Marvel soube amarrar todo seu universo cinematográfico, ao contrário da DC.
Por outro lado, meu personagem preferido é o Batman, da Distinta Concorrência. A mesma DC que supera sua concorrente nas edições especiais, minisséries (“O Reino do Amanhã”, “Watchmen”, “O Cavaleiro das Trevas”); que é a casa da Vertigo, selo para leitores adultos que lançou “Sandman”, “Hellblazer”, “Os Invisíveis” e outras obras-primas. E que, mesmo não tendo um universo coeso feito a Marvel, tem na trilogia do Batman dirigida pelo Christopher Nolan os melhores filmes de super-herói já feitos.
Se a DC e Marvel criaram histórias tão boas para as duas mídias, além de animações, games, livros etc., é resultado da concorrência, de ter em quem se espelhar e procurar fazer melhor. É possível aproveitar o melhor de dois mundos, ler as melhores HQs das duas editoras (sem esquecer da Image, Dark Horse…), acompanhar com gosto os filmes da Marvel/Disney e DC/Warner – e esperar que a Fox não estrague X-Men e Quarteto Fantástico, é bom lembrar. Se nossos amigos fanboys pararem pra pensar, o fracasso da concorrência não vai fazer “A” ser melhor que “B”; vai fazer com que Hollywood, isso sim, pense duas vezes antes de continuar a apostar no filão dos super-heróis.
Então, caro fanboy, trate de se divertir com “Thor: Ragnarok” e torça para que “Liga da Justiça” seja o sonho realizado de tantos fãs por aí.
Querer que tudo seja preto ou branco faz mal, o arco-íris é muito mais divertido – ou como cantava o Gangrena Gasosa: “Quem gosta de Iron Maiden também gosta de KLB”.
Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.