Trabalho e significado
Na última quarta-feira (17) foi o Dia do Repórter. Atividade laboral que esbarra no trabalho de muita gente e inspira a reflexão
Uma das coisas mais apaixonantes que o Jornalismo me permitiu viver é ter gratas oportunidades de conversar com pessoas com realidades absolutamente distintas. Tenho profundo respeito e apreço por cada pessoa que dividiu comigo um relato, uma parte importante de sua vida, da sua forma particular de ver e vivenciar o mundo.
Na maioria das vezes, não é fácil, são conversas difíceis, que têm como núcleo as adversidades pelas quais as pessoas passam, dificuldades de acesso, problemas, mazelas, que, além de fazer com que a gente compreenda melhor os contextos da sociedade em que vivemos, também nos atravessam, mexem com a nossa sensibilidade, mas, acima de tudo, ensinam, causam reflexão. Nos colocam a todo momento em estado de mudança.
O meu ofício, por vezes, me coloca diante do ofício de muitos outros trabalhadores. Dia desses, encontrei, entre as minhas pautas, a história do ‘Seu Mundinho’, que trabalhou como carroceiro por 35 anos e busca condições para continuar trabalhando como fretista. Conversamos em frente ao lugar em que ele pleiteia uma vaga, para continuar oferecendo o trabalho que ele teve que lutar para ter.
Pude perceber, logo nas primeiras palavras dele, o tamanho do orgulho que ele carrega sobre a própria trajetória. Não um orgulho soberbo e descolado da realidade, mas algo que diz respeito à construção de quem ele é. Um orgulho de quem busca atuar com retidão e respeito. Ele me disse: “Tenho muito orgulho de falar que sou carroceiro. Tudo o que eu tenho, o pouquinho que eu tenho, tirei de cima da carroça. Graças a Deus criei meus filhos e tirei meu pão de cada dia.” Ainda disse que o negócio é trabalhar e que, com ele, não tem preguiça não.
Essa fala me pegou. Perdi as palavras, que são o principal instrumento do meu ofício. Mas eu não precisava dizer mais nada também. Tudo estava dito ali. A luta dele, de maneira concisa, concentrada naquelas aspas. Percebi, pelo brilho no olhar de Mundinho, pela firmeza e pela convicção com as quais ele falava, o quanto a atividade que desempenhou pela vida toda representa para ele dignidade, acesso e até mesmo parte importante da identidade dele. Assim como é para mim e para profissionais das mais diversas áreas com os quais tive acesso, ao longo desses anos na lida.
Quando ainda era estudante, em uma das primeiras aulas que tive na Faculdade, o professor questionava sobre o porquê de ter escolhido a Comunicação. As respostas continham variações, mas a maioria citava o gosto pela leitura, pela escrita e pelos produtos midiáticos. Não consigo recordar a minha resposta, mas se ele refizesse a pergunta, diria, sem titubear, que o que me levou à Comunicação foi a necessidade de ouvir o que as outras pessoas têm a dizer e dividir com o público tudo o que eu apreendi, tudo o que levo comigo para a minha própria vida e todos os contextos, implicações, reflexões e emoções que essas histórias despertam.