Raízes móveis
Plantamos uma “mudinha” no dia da virada de 2019 para 2020. Não tínhamos como imaginar que as plantas se tornariam protagonistas em um ano com tantos pontos de virada. Ela cresceu um pouco e chegou a dar vida a novas folhas, mas não se desenvolveu muito. Talvez não tenha se habituado ao local em que está ou precise de ainda mais luz solar. Devo pesquisar mais a respeito. Como jardineiro de primeira viagem, talvez não tenha me saído tão bem.
Em um dia desses, ouvi uma provocação de uma especialista, durante uma entrevista para a TV. Ela orientava as pessoas a pensar na história de uma árvore que tenha sido importante para elas. Na hora a cabeça foi longe. Pensei nas árvores que eu vejo na janela lateral do quarto de dormir. A quarentena me deu tempo para acompanhar os ciclos pelos quais elas passam. A que está enraizada exatamente em frente à janela chegou a perder todas as folhas, passou por poda, enfrentou enxurrada, ficou só com os galhos e, pouco tempo depois, estava carregada com folhas frescas e galhos que se tornaram o lar de várias aves.
Não saberia dizer a que espécie ela pertence. Minha mãe me contou que é uma castanheira. Tentei, então, pensar em outras. Me lembrei do Pé de Romã que ficava em frente à casa da Dona Quiquina. Quando dava frutos, muitas pessoas pediam para apanhar, para fazer chás contra gripe. Nunca mais o vi tão carregado quanto costumava ser, porque ele precisou ser derrubado. Triste.
Em um estalo, outro exemplar me veio à mente. Acredito que tinha por volta de oito anos, quando a muda de Pau- Brasil chegou à Escola Municipal Cecília Meireles. Minha turma foi levada até a uma área lateral, dentro da escola, onde havia um espaço aguardando a planta. Lembro que ensinaram que ela demoraria muitos anos a se tornar uma árvore grande, frondosa. Foi um dia diferente. Havia uma equipe de televisão registrando a atividade.
Aquela pequena muda ilustrou o que os livros de história me indicavam como uma grande riqueza, presente, inclusive, no nome do país. Sempre que passava por ela, me perguntava se tinha crescido. Assim como estirões de crescimento que temos ao longo da vida, também esperei para vê-la se tornar maior, mais robusta. Chegou o momento de mudar de escola. Veio a Faculdade, a vida adulta.
Ainda via o Pau- Brasil de perto quando votava na escola, mas até isso mudou. A seção eleitoral foi para outro canto. Mais de 20 anos depois, o Pau-Brasil, que há muito tempo está muito maior que eu, joga seus braços majestosos para fora dos muros da escola. Não me esqueço de reverenciá-lo todas as vezes que o ônibus passa pela Rua Bezerra de Menezes. Espero que muitas gerações possam ter contato e respeitar aquelas raízes, que embora tenham se fixado em um solo tão importante, não impediram que algo delas florescesse nas memórias afetivas que a acompanham.