‘O jornal do futuro é o jornal do passado’
“O jornal do futuro é o jornal do passado.” A afirmação, feita pelo colunista da Folha de S.Paulo, Leão Serva, no 10º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, realizado pela Abraji, diz muito sobre o amanhã do jornalismo impresso. Em um tempo em que as multiplataformas mudaram a relação das pessoas com a informação, a grande pergunta é onde ficam os jornais em meio a uma sociedade cada vez mais dependente do ambiente virtual? Quem dá a resposta é o diretor do Museu da Imprensa em Washington, Greg Policinsk: “Não me recordo da última vez em que o jornal me disse o que tinha acabado de acontecer, mas me lembro de várias ocasiões em que os jornais me contaram por quê.”
Muitas são as opiniões que preveem o fim dos tempos para quem faz notícia em papel. Da mesma forma que os livros estão, há tempos, “com os dias contados”, os apocalípticos de plantão vêm anunciando o encerramento da era do impresso há décadas. É óbvio que a massificação da internet provocou uma nova ordem das coisas em relação à produção de conteúdos, embora, é preciso dizer, nem tudo que se lê na internet em forma de notícia tem um conteúdo jornalístico. O que determina a qualidade da notícia é a formação do jornalista e o seu compromisso social com a profissão e a sociedade. E o que faz o impresso manter o seu lugar nesse novo mundo da comunicação é exatamente a luta para preservar a ética no processo de construção da notícia. Mesmo com uma ala da imprensa mergulhada em uma onda denuncista que marginaliza as pautas socialmente relevantes, boa parte dos jornais se dedica a tentar cumprir o seu papel de fazer o contraditório, de enfrentamento do poder e de dar visibilidade a quem não tem.
Em um período de descrença generalizada em relação à sobrevivência dos jornais, eu sigo acreditando que estamos mais vivos do que nunca. O fim da hegemonia na transmissão de informações – aliás essa é uma das bandeiras da democratização dos meios – não é sinônimo do fim dos jornais. Enquanto houver histórias encobertas e pessoas silenciadas, o jornalismo impresso vai continuar a existir e a se reinventar. Não só para resgatar a memória de um país, mas, sobretudo, para garantir que a sociedade continue livre para se expressar e para lutar por um projeto de Brasil mais justo e humano.