Nas nossas conversas na varanda lá de casa, eu e minha amiga Dulci falamos sobre tudo e nada. Rimos até doer a cara das mais absurdas bobagens. Choramos de rir, de medo, de saudade, de decepção, de empatia. Na verdade, choramos muito de empatia, entre nós e por muita gente. Mas rindo, chorando ou simplesmente olhando para o barranco que temos como vista da pequena sacadinha, sempre contamos histórias, muitas delas, de todo tipo. Sempre morro de rir com os apelidos dos amigos dela: “Balão”, “Roia”, “Capadinho”… Mas nunca me esquecerei da história do “Jururu”, que ela me contou no fim de tarde de um domingo qualquer.
Era aniversário do Jururu e ele, de fato, estava como sua alcunha: um tanto tristonho quando recebeu a ligação da Dulci: “Ninguém me ligou para dar parabéns”. Educadora, a Du escreveu no quadro da sala dos professores o telefone do aniversariante, com a seguinte mensagem. “Este é o telefone do meu amigo Jururu. Ele está muito triste porque ninguém está dando parabéns. Me ajude a fazer o dia dele feliz.” Resultado: o telefone do homem tocou como em nenhuma virada de idade da sua vida, e o cidadão ficou numa alegria que nem o apelido mais lhe cabia.
Depois que ela me contou isso, eu fiquei pensando o quanto é importante estarmos cercados de quem faz de tudo, de ações mínimas às gigantes, para que a gente esteja feliz e acolhido, só por amor. Em tempos de tanto ódio, anunciado e praticado, ser portador de cifras de afeto deste calibre é de uma riqueza imensurável. Quando o resultado da apuração deste sofrido processo eleitoral for divulgado neste domingo, pode ser que muitos de meus amigos e amigas estejam desolados, desesperados – eu, inclusive. Mas pode ser que estejamos aliviados, chorando de livramento e de felicidade pela vitória, nos abraçando e nos amando, que é o que a gente faz de melhor.
De um jeito ou de outro, eu estarei com a Dulci na nossa casa. E eu espero poder ser como ela, e poder levar felicidade a quem eu amo, seja para somar à alegria do fim de uma etapa horrorosa, coroado por um êxito suado; seja para aplacar o medo e o desolamento. E eu desejo sinceramente que para cada coração, “jururu” ou eufórico de alegria, exista uma Dulci.