Máquina do tempo
Até a semana passada, nunca havia esperado por alguém em um aeroporto, sempre estive na outra ponta da relação, sendo esperada. Eu não sabia que a cada viradinha na tela que atualiza os voos se sente uma pontadinha no estômago, tampouco da obsessão que se cria com a mesma, esperando logo que um “previsto” se torne “confirmado” e depois “pousou”.
Na sexta-feira da semana anterior, fui ao Galeão buscar uma amiga que pensei que nunca mais veria, e que conheci quando fiz um intercâmbio para estudar nos Estados Unidos. É uma costa-riquenha arretada, com tanta energia quanto o café que também lhe colore a pele, e que foi minha pequena família estadunidense no semestre que estudei por lá, ela e Lucas, outro brasileiro que se arriscou nas terras do Tio Sam. Não, não fizemos amigos americanos.
Nove anos depois, quando Vero disse que viria ao Brasil exclusivamente para nos ver, ficamos eufóricos – um tanto incrédulos. A cada cabelo black que aparecia no saguão, eu e Lucas sentíamos o coração bater acelerado, até que finalmente chegou a dona do penteado que esperamos rever não apenas por aquelas horas no aeroporto, mas por quase uma década. Drama queens que somos, pensei que o encontro seria cheio de lágrimas, mas não, foi tudo um longo e tão esperado abraço, que engatou em um papo como se tivéssemos visto uns aos outros no dia anterior.
Desde então, meus dias têm sido uma sucessão de muitas risadas por falsos cognatos de conotação sexual, um dialeto que se perde entre o inglês, o espanhol e o português, e muitas experiências gastronômicas, linguísticas e, claro, passeios nostálgicos por nosso breve, mas tão significativo passado em comum. Ibitipoca, pinga, torresmo, Brahma, Colorado College, “Pura vida”, “buseta” (um dos termos para “ônibus” em espanhol), pastel, Rio, “como se dice eso?”, “borracho”, “Do you remember?” (“Você se lembra?”, em inglês) e tantas outras expressões eram ditas entre muitos risos e uma sede irrefreável de matar as saudades.
Quando esta coluna for publicada, Vero estará a caminho de sua Costa Rica, e eu da minha vida normal, com menos pinga, menos torresmos e 30 anos, em vez de 22. Mas viver de novo essa amizade como se nem um dia tivesse passado em todos estes nove anos, sem qualquer perda de intimidade ou da cumplicidade de reconhecer um pensamento apenas no olhar me fez sentir como se voltasse ao tempo em que nos conhecemos, e tivesse novamente 22 anos – ela, 25.
Não tenho vontade de, de fato, voltar a alguma época da vida, que só opera em um tempo: o hoje. Mas foi bom, por uma semana, voltar aos 20 e poucos e viver em meio a histórias da Costa Rica e conversas que sempre eram levadas em vários idiomas. Um tempo em que sequer pensar em ameaçar a legitimidade da democracia do Brasil seria apenas uma piada de muito mau gosto. Um tempo que faz muito tempo. Bons tempos!