Clubes-empresas em xeque
Por seis dias, os jogadores do Figueirense capitanearam um movimento grevista em meio à disputa da Série B do Brasileirão. Diante da intransigência dos representantes da Elephant, empresa responsável pela administração do futebol do clube, enrijeceram o movimento. Contra o Cuiabá, na última terça (20), em confronto válido pela 17ª rodada, os atletas profissionais, sem entrar em campo, permaneceram no vestiário. Ao mesmo tempo, a greve peita a fragmentação histórica da categoria, bem como contrapõe o modelo clube-empresa às vésperas de sua discussão no Congresso.
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Há uma sanha pelo ingresso da iniciativa privada na administração direta de clubes de futebol, uma vez que a maioria segue o modelo de gestão associativa, isto é, assentado na estrutura de clubes sociais. Em 2018, a Elephant comprou 95% da empresa Figueirense Ltda., criada para gerir o futebol do clube. Contudo, a participação da empresa é evidentemente insuficiente para findar práticas amadoras recorrentes à administração futebolística. Atletas profissionais e jogadores das categorias sub-15 e sub-17, bem como funcionários administrativos, têm os vencimentos de julho e depósitos de FGTS atrasados. Além disso, os jogadores, desde maio, têm os direitos de imagem acumulados.
Ainda que breve, o movimento grevista foi um ato de valentia, já que, por décadas, atrasos salariais foram naturalizados no meio. Jogadores de elite, inclusive são, em sua maioria, complacentes com a prática, que assola, sobretudo, funcionários de baixo escalão. A retaliação, entretanto, veio à galope. Durante a reapresentação dos atletas após a greve, sete novos jogadores contratados pela diretoria juntaram-se ao elenco, sendo três do Athletico – a categoria patronal, como sempre, mostra-se bem misericordiosa.
A articulação trabalhista suscita importantes contrapontos à implantação do modelo clube-empresa e, sobretudo, à participação direta da iniciativa privada na gestão de clubes de futebol. Em junho, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), desarquivou o projeto de Lei 5.082/2016, que “cria a via societária (…) para modernização do futebol”. Junto a membros do Governo federal, Maia trabalha para a aprovação da proposição na Casa a fim de regulamentar a possibilidade de transformação das agremiações em clubes-empresas. A correnteza em prol do lobby privado é forte. A contribuição dos jogadores do Figueirense ao debate, contudo, expõe gargalos expressivos.