Coisa de cinema
Cena 1, quarto – Câmera parada destaca: 19 de outubro de 2015. Derivação à esquerda mostra um despertador piscando às 7h. Plano aberto. Quarto vazio, pouca iluminação, cama revirada.
Cena 2, banheiro – Rosto cansado do homem à frente do espelho. Olhos vermelhos de quem passou a noite em claro. Corta para o chuveiro ligado. Derivação mostra o aparelho da lâmina de barbear rasgando o rosto. Corte seco para o chão. Uma gota de sangue se dissipa na água.
Cena 3, quarto – O homem fecha o último botão de uma camisa azul. Close na camiseta preta e branca escondida sob o uniforme.
Cena 4, ônibus – Imagens em “time lapse” se revezam entre o rosto do homem, o cobrador e as centenas de faces que passam pela roleta.
Cena 5, praça – O relógio pirulito aponta 20h. Um ônibus invade o quadro. A medida que o veículo se afasta, o homem reaparece com uma camisa listrada em preto e branco.
Cena 6, bar – Imagem aberta. Bar movimentado. Close no copo levado à boca. Trago firme. A cena se repete. Uma. Duas. Três vezes. Corta para câmera fechada na TV. Quarenta do segundo tempo. O placar mostra 1 a 0 para os donos da casa. Em meio a flashes do jogo em “slow motion” e do rosto embriagado do homem, gritos de gol.
Cena 7, bar – O homem desaba. Corta para o chão. Uma gota de sangue se dissipa na aguardente tombada. Derivação até seu rosto, que sorri pela primeira vez. O quadro se abre lentamente. Os gritos vão ficando compreensíveis: GOL DO TUPI. Todo o bar se abraça. No centro, o homem caído com sua camisa carijó e seu sorriso imutável. Mais feliz que os outros. Sobe som: “É o silêncio de um instante/É a repentina explosão dos carijós”.