Sócrates e a filosofa


Por Mário José dos Santos, professor da UFJF

23/09/2015 às 07h00- Atualizada 23/09/2015 às 11h21

Sócrates viveu em Atenas no século V a.C. (469-399 a.C.). É tido como o fundador da filosofia moral – ética. Problematizou a questão da presença do mal entre os seres humanos e acenou para a importância de se cultivarem as virtudes que viabilizam uma convivência amistosa entre os homens. Condenou, severamente, a obsessão pelos bens materiais, de forma unilateral, em detrimento dos valores que dignificam e fortalecem o caráter humano.

O autodomínio – o domínio de uma propriedade é fácil: vender, trocar, deixar em herança, mas o domínio de si é muito mais difícil e complexo. A liberdade – não a de ir e vir, mas a suavidade da liberdade interior. Muitas vezes, temos que optar pelo mais difícil, que nos traz algum transtorno e sofrimento, é inevitável.

A autonomia – sobretudo em relação às coisas e pessoas. Quem se entrega, inconsequentemente, à satisfação de todos os seus desejos e paixões desenfreados passa a depender dos outros. Sócrates nada escreveu. Seu pensamento foi reconstituído, tornando-se protagonista de seus diálogos, por Platão, seu discípulo, que lhe devolveu a voz, depois de injustamente acusado e receber a pena de morte por perverter a juventude.

Passava o dia conversando com os jovens e mais perguntava do que respondia. “Tudo que sei é que nada sei”, insinuava. São dele duas propostas convergentes que nos deveriam levar a uma profunda reflexão: conhecer a si mesmo e cuidar de si mesmo. Pela primeira vez na história do pensamento filosófico, ele fez uma pergunta fundamental (antes só indagavam sobre a origem do universo): “o que é o homem?”. Ele ensina: o homem é a sua alma, sua psique, o eu consciente, a consciência, o fundamento da nossa atividade pensante e ética.

A doutrina de Sócrates, que ensejou a maior polêmica, é a de que o homem faz o mal não porque queira o mal, sabendo que é mal, mas por ignorância. A causa necessária e suficiente para fazer o bem é o conhecimento. É impossível fazer o bem sem conhecê-lo.

O caráter polêmico (intelectualismo moral), que prosperou, alega que o mestre não considerou o papel relevante da vontade e os componentes alógicos (irracionais), que, também, determinam o agir humano. Sócrates defenderá, até a sua morte, esta convicção. Quem faz o mal está obcecado (do latim “caecare”, cegar).

Hoje, a insanidade volta a macular a expectativa de uma convivência mais justa e feliz. Há equívocos: planejamento racional (princípio, meio e fim), educação, saúde, transporte público e segurança. O que é o homem? Um “pagador de impostos”. Sem oportunidades, muitos jovens são atraídos pelo crime e o tráfico. Sócrates deixou uma grande lição: conhecer e cuidar de si mesmo são a nossa redenção. Redenção rima com educação. É tudo de que precisamos. É urgente.

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